|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A compra de jatos e a FAB
A respeito da coluna "Offset e Tecnologia", publicada nesta semana, recebo a seguinte correspondência do brigadeiro Fernando Cima, da reserva, que até sete meses atrás foi
responsável pela comissão de seleção da licitação dos FX da
FAB:
"Sua coluna tem se distinguido
por publicar análises coerentes e
elucidativas a respeito do assunto "offset'".
"Preocupam-me, porém, as
notícias de que as exigências de
compensação comercial, industrial e tecnológica, conhecidas
como "offset", estejam sendo objeto de interesses outros, que não
os da Aeronáutica e do parque
industrial aeroespacial brasileiro."
"(...) Quando os Estados Unidos investem bilhões de dólares
no desenvolvimento de sondas
espaciais para pesquisar os confins do universo ou para o desenvolvimento de novos produtos
aeronáuticos, estão, também,
possibilitando o acesso das suas
empresas aeroespaciais, com
custo zero para elas, a tecnologias de ponta que lhes possibilitarão enormes vantagens comparativas no mercado de produtos civis. São as denominadas
tecnologias "duais"."
"Além disso, os investimentos
estatais no desenvolvimento de
programas militares e espaciais
estão a salvo de quaisquer demandas e contestações no âmbito da OMC."
"Durante os anos 80, o então
Ministério da Aeronáutica, com
o Programa AMX, aeronave
subsônica de ataque ao solo desenvolvida em conjunto pelo
Brasil e pela Itália, também proporcionou às empresas nacionais, principalmente à Embraer,
condições excepcionais de capacitação industrial e tecnológica."
"É notório que, sob o manto
daquele programa, foi implantada naquela empresa, à época
ainda estatal, uma grande infra-estrutura fabril, com a construção de hangares, aquisição de
máquinas de usinagem, materiais compostos, sistemas de
computação e, principalmente, a
formação de uma equipe de engenharia que se capacitou e viabilizou, tempos depois, o desenvolvimento de novos produtos
para o mercado civil, entre eles a
família de jatos ERJ-135/ 140/145
(...) Sem o Programa AMX, poderia não ter havido o desenvolvimento do jato ERJ-145."
"Acordos de Compensação,
com ênfase na transferência de
tecnologia, têm o poder de dar
acesso às empresas nacionais, a
custo mínimo para o governo, a
tecnologias que, do ponto de vista comercial, colocarão seus produtos em condições de competir
com vantagem no concorridíssimo mercado mundial. Do ponto
de vista militar, essas tecnologias
estarão disponíveis para agregar
qualidade e economicidade aos
projetos de desenvolvimento da
própria Aeronáutica."
"Por outro lado, uma ênfase
nos aspectos puramente comerciais dos acordos de compensação, principalmente se direcionados para setores não-relacionados com o setor aeroespacial,
nenhum benefício duradouro
trará para aquelas indústrias."
"Por esse motivo, o pedido de
oferta encaminhado para as empresas concorrentes ao Projeto
FX BR indicava claramente as
prioridades a respeito do "offset": Comando da Aeronáutica;
Indústria Aeroespacial Brasileira; Indústria de Defesa Brasileira; Instituições de Ensino e Pesquisa de Alta Tecnologia; Indústria de Alta Tecnologia em geral;
e outros setores da economia nacional."
"Assim sendo, tenho a certeza
de que os atuais condutores do
Projeto FX BR, independentemente da empresa que venha a
ser escolhida, saberão manter os
objetivos do "offset" coerentes
com os interesses estratégicos da
Aeronáutica e do parque industrial aeroespacial brasileiro, refletidos no pedido de oferta, buscando assegurar a autonomia
nacional crescente, sem deixar-se influenciar por objetivos comerciais de curto prazo."
"Finalmente, gostaria de ressaltar que a política da Aeronáutica a respeito do tema "desenvolvimento científico-tecnológico" foi responsável, ao longo
dos seus mais de 60 anos, pelo
verdadeiro milagre de edificar
um parque industrial aeroespacial sem paralelo no universo dos
países em desenvolvimento."
"É um patrimônio que temos a
obrigação de proteger."
Repito o que disse na coluna:
contrapartidas comerciais podem ser incluídas para melhorar
ainda mais o "offset", desde que
não em prejuízo da transferência de tecnologia.
E-mail - LNassif@uol.com.br
Texto Anterior: Telefonia: Justiça cassa ligação DDD da Telefônica Próximo Texto: Salto no escuro: BNDES financia a elétricas R$ 6,3 bi de perdas de 2001 Índice
|