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DE CARA NOVA
Novo economista-chefe quer reduzir risco cambial para que países emitam títulos no exterior na própria moeda
FMI defende empréstimo em moeda local
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
Nomeado nos últimos dias economista-chefe do FMI (Fundo
Monetário Internacional), o indiano Raghuram Rajan vai se dedicar a encontrar um jeito de mudar a forma com que governos
têm acesso a dinheiro privado.
Sua idéia é achar um formato no
qual os países possam emitir títulos em moeda local. "Isso poderia
tornar mais fácil o trabalho de
prevenção de crises", diz ele.
Aos 40 anos, Rajan assume o
posto hoje ocupado por Kenneth
Rogoff, que decidiu voltar a Harvard. O novo chefe do departamento de pesquisa do FMI veio da
Universidade de Chicago e traz
duas importantes diferenças em
relação a seus antecessores.
A primeira é o fato de ser oriundo de um país subdesenvolvido. A
segunda é sua formação: é especializado em finanças, enquanto
seus últimos antecessores tinham
foco voltado à macroeconomia.
Quatro meses atrás, quando Rajan estava lançando seu livro "Saving Capitalism from the Capitalists" ("Salvando o Capitalismo
dos Capitalistas"), a Folha propôs
a ele que discutisse suas idéias à
luz do momento brasileiro. À
época, afirmou que, "em alguma
extensão, as altas taxas de juros
são sintoma do fato de que nenhum grupo quer largar seus benefícios". Nesta semana, numa
entrevista por telefone de Chicago, foi novamente questionado
sobre o tema. "Você tem que ter
credibilidade de forma que possa
começar a reduzi-la", afirmou.
Folha - Como o sr. foi para o FMI?
Raghuram Rajan - Creio que seja
um esforço maior [do FMI] em
assuntos financeiros e bancários.
Tradicionalmente, são mais focados em macroeconomia. Nos últimos tempos, eles vêm se movendo nessa direção.
Folha - Quais são seus objetivos?
Rajan - Em termos gerais, toda a
área de estabilidade do setor financeiro está na cabeça da maioria das pessoas. Particularmente,
estou interessado na questão de
como os países podem começar a
tomar empréstimos em suas próprias moedas, o que faria isso possível. Porque, na medida do possível, isso ofereceria uma maneira
de estabilização dos países.
Folha - Empréstimos de quem?
Rajan - Do mercado. Suponha
que a Argentina pudesse emitir títulos em peso na Suíça. Isso tornaria mais fácil o trabalho de prevenção de crises.
As pessoas argumentam que
um dos problemas seria que não
se pode confiar que os países em
desenvolvimento vão manter a taxa de câmbio. E, caso se queira
aplicar um default à dívida, seria
apenas deixar a taxa de câmbio ir
para o inferno. Seria interessante
descobrir mais. É uma área nova
que se deveria pesquisar mais.
Folha - O Brasil recentemente
emitiu títulos com CACs [cláusulas
que facilitam a renegociação de dívidas]. O que o sr. acha das CACs?
Rajan - Há argumentos a favor e
contra. A favor, que elas fazem
muito sentido em termos de que,
quando há default, fica mais fácil
a renegociação. Contra, que, porque torna mais fácil a renegociação, o default fica mais possível,
então aumenta as taxas de juros e
torna mais difícil o empréstimo.
Esses argumentos levam a uma
questão empírica: o mercado está
mais preocupado com os custos
adiante, no caso de um grande default? Ou a inclinação ao default é
tão mais alta com esses títulos que
simplesmente não vale a pena?
Não há nada conclusivo que se
possa dizer. Valerá a pena ver se
podemos refinar os testes e apresentar uma resposta mais clara.
Folha - O que pensa sobre o FMI?
Rajan - O FMI é uma organização que está se reinventando.
Tanto em termos de qual deveria
ser sua missão quanto na maneira
como tenta cumprir essa missão.
O FMI foi muito acusado de ser
doutrinário, e pode ser -do lado
de fora, não posso dizer. Mas há
gerentes abertos a idéias.
Outra que parece: o FMI é frequentemente acusado de servir
aos interesses dos países ricos,
mas acho que os gerentes estão
muito interessados em seus
membros. Creio que, independentemente de isso ter ou não sido verdade no passado, agora o é.
Folha - Em países como o Brasil, o
FMI é visto por parte da população
como instrumento da elite. O que
há de errado e certo nessa visão?
Rajan - Países que têm políticas
governamentais que precisam ser
endurecidas podem usar a desculpa de apontar para alguém que os
está forçando, estão tomando medidas impopulares, que não é da
vontade deles, mas de gente do
FMI. [O FMI] será culpado por
coisas politicamente impopulares, mas isso pode fazer parte de
um interesse maior do país.
O FMI parece estar consciente
de que precisa desenhar uma linha entre as coisas pelas quais ele
é responsável e o que são decisões
políticas tomadas pelo país.
Mas, quando você impõe objetivos, há tensão. Você quer que o
país entre no orçamento. Ao mesmo tempo, quer que ele corte gordura, não músculo. Coisas como
educação são parte do músculo.
Agora, quão intrusivo se pode ser
sobre o que cortar? Suponha que
você coloque seus objetivos, mas
os políticos respondam cortando
o músculo, não a gordura. E então
culpam o FMI por isso.
Isso tudo implica que o FMI tem
que falar mais diretamente com o
público nos países. Não a ponto
de tomar o lugar dos políticos,
mas de explicar o que estão tentando fazer. O FMI acredita que
os programas funcionam se os
países os assumirem. Uma maneira é tentar vendê-los de maneira mais precisa.
Folha - Como um país como o Brasil pode reduzir juros?
Rajan - É um pouco como reestruturação da dívida soberana.
Você tem que construir credibilidade de forma que pode começar
a reduzi-la. Ou você não tem credibilidade para fazer isso, e a inflação vai ao céu. Cuidar dos problemas estruturais torna mais fácil construir credibilidade. Isso
ajuda a baixar os juros.
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