São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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FLOYD NORRIS

Gasolina já custou mais a americano


Os gastos com gasolina e outros combustíveis ainda estão bem abaixo do recorde alcançado em 1980 e 1981

O QUE custa mais: o carro ou a gasolina? Nos Estados Unidos, o trimestre que terminou foi provavelmente o primeiro período desde o início dos anos 1980 em que uma parcela maior do orçamento dos consumidores foi gasta com gasolina, óleo e outros produtos energéticos do que a que foi usada com veículos automotivos.
Mas, ao mesmo tempo em que o preço da gasolina já subiu para mais de US$ 4 o galão (3,785 litros), os americanos estão gastando com combustível uma parte muito menor de seus orçamentos do que fizeram em 1980, quando ocorreu a última grande alta no preço do petróleo.
Em épocas de recessão, quando os consumidores reduzem seus gastos com compras maiores, o dinheiro dedicado a aquisições e a consertos de veículos automotivos tende a representar uma parte menor de suas despesas. As cifras desanimadoras das vendas de carros e caminhões em junho, anunciadas na semana passada, indicam que é isso o que parece estar acontecendo. E a parcela de 4,2% dos gastos dos consumidores dedicada a automóveis no primeiro trimestre provavelmente diminuiu mais ainda no segundo.
Mas a parcela gasta com a compra de gasolina e outros combustíveis certamente aumentou, apesar de haver indicativos de que os americanos vêm reduzindo seus deslocamentos em carros. O preço médio da gasolina no segundo trimestre foi 20% superior ao do primeiro. É provável que a participação dos combustíveis nos gastos dos consumidores tenha subido mais que os 4,1% registrados no primeiro trimestre.
Historicamente, as altas aceleradas nos preços da gasolina sempre foram prejudiciais à indústria automotiva, e isso parece estar ocorrendo agora. As montadoras não têm problemas em vender veículos de baixo consumo de combustível, especialmente os carros híbridos que podem ser movidos a eletricidade ou a gasolina. Até recentemente, porém, a demanda por esses veículos era restrita, e não é fácil aumentar a produção em pouco tempo. Já os veículos de alto consumo de gasolina, especialmente utilitários esportivos e picapes, estão tendo grande queda na demanda, deixando as montadoras com grandes prejuízos.
Mesmo antes de a gasolina chegar a US$ 4 o galão, a participação dos veículos nos gastos dos consumidores tinha caído para o nível mais baixo desde pouco depois da Segunda Guerra Mundial, quando a indústria automobilística estava começando a aumentar sua produção. A recessão de 2001 foi incomum pelo fato de ocorrer sem causar qualquer revés perceptível na participação dos automóveis nos gastos dos consumidores, como ocorrera em fases anteriores de retração econômica.
A parcela dos gastos pessoais dedicada à gasolina e a outros combustíveis chegou, no primeiro trimestre deste ano, ao nível mais alto em mais de duas décadas. Mas ainda está muito abaixo do recorde de 6% alcançado em quatro trimestres de 1980 e 1981, quando o preço do petróleo estava alto e a economia sofria o efeito de duas recessões.
Essas cifras são baseadas nas estatísticas governamentais relativas a gastos pessoais. Podem surpreender a muitos que pensam que a parcela de sua renda disponível gasta com gasolina é muito maior do que os números parecem indicar.
Essas pessoas não deixam de ter razão. Uma parcela maior dos gastos pessoais está sendo usada com serviços médicos, boa parte dos quais não é paga pelos consumidores. No segundo trimestre, essa área respondeu por 17,5% dos gastos, bem mais que os 11% do início dos anos 1980, quando os gastos com combustíveis chegaram a seu recorde.


FLOYD NORRIS escreve para o "New York Times"

Tradução de CLARA ALLAIN

Excepcionalmente, hoje, a coluna de RUBENS RICUPERO não é publicada.


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