São Paulo, terça-feira, 06 de agosto de 2002

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LUÍS NASSIF

A siderurgia global

Há dois anos teve início um processo global de fusões no setor siderúrgico que mudou a escala das empresas globais. Com menos de 40 milhões de toneladas/ano de produção não será possível competir globalmente. Grupo bem administrado, arrojado, a Gerdau produz apenas 8 milhões de toneladas.
É hora de começar a pensar em uma política de estímulos à fusão que permita ao país dispor de uma siderúrgica global assim como já possui uma mineradora, a Vale, e uma empresa aeronáutica global, a Embraer.
Nos últimos anos, a Belgo Mineira assumiu diversas siderúrgicas, transferindo o centro de decisões para Luxemburgo, e agora se tem a desnacionalização da CSN, com a incorporação pela Corus.
A privatização do setor foi pulverizada no Brasil, até pelas dificuldades políticas. A lógica das fusões acabou prejudicada por disputa entra as corporações das principais empresas privatizadas.
Seria relevante que o atual governo iniciasse estudos visando criar mecanismos de indução a uma grande fusão que permitisse a criação da super-siderúrgica brasileira, com sócios de vários países e boas práticas de governança corporativa. Inclusive a tempo de impedir a desnacionalização da CSN.

Lafer e Bush
Recebo do ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, sua versão sobre as tratativas para aproximação entre os presidentes Fernando Henrique Cardoso e George W. Bush, contestando alguns pontos da versão publicada na coluna de sexta passada.
Um dos pontos dizia que, depois de um pré-acordo com o governo norte-americano para que a Alca se iniciasse em 2005, teria havido uma proposta unilateral de mudança para 2006, que teria provocado algum curto-circuito nas relações.
Pela cronologia de Lafer, em dezembro de 1994, na Primeira Cúpula de Miami, definiu-se 2005 como data limite. Esse prazo foi reiterado na Segunda Cúpula das Américas, realizada em Santiago em 1998. Na reunião do Comitê de Negociações Comerciais da Alca realizada em Lima, em janeiro de 2001, o Chile propôs a antecipação do final das negociações para 2003, com aprovação pelos parlamentos em 2004 e entrada em vigor da Alca em 1º de janeiro de 2005.
O Brasil propôs, então, manter 2005 para a conclusão das negociações, evitando antecipar a data. Para tanto, houve intensa articulação, com visita aos quatro países do Mercosul em fevereiro de 2001 e, depois, ida a Nova York e Washington. Lá, Lafer esteve com as três figuras-chave do governo Bush -Zoellick, Powel e Condoleezza Rice, assessora de Segurança Nacional da Casa Branca.
Na reunião ministerial da Alca em 6 e 7 de abril, em Buenos Aires, confirmou-se 2005 para a conclusão das negociações e dezembro daquele ano para o início da Alca. Essa recomendação foi reafirmada na Reunião de Cúpula de Quebec, em abril de 2001.
Em 7 e 8 de novembro de 2001 houve um novo encontro em Washington, com a presença de Bush, Rice, John Maisto, assessor para América Latina do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Lino Gutierrez, secretário-assistente interino do Departamento de Estado, Garry Edison, assessor do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Andrew Carr, chefe de Gabinete da Casa Branca e Eric Eddlemon, assessor do gabinete do vice-presidente. Pelo lado brasileiro compareceram Fernando Henrique, Lafer, Rubens Antonio Barbosa, embaixador em Washington, e Eduardo dos Santos.
Segundo Lafer, a aproximação entre Bush e Fernando Henrique foi feita através de canais diplomáticos -as embaixadas de ambos os países. Sustenta também que mantém "excelentes relações" com Condoleezza Rice. A versão divulgada pela coluna é que teria havido algum estremecimento entre ambos, quando Lafer recorreu a Zoellick para o encontro com FHC.
O ponto de concordância das versões é que o discurso na Fernando Henrique na Assembléia Nacional de Paris provocou o estremecimento com o governo Bush.

E-mail - lnassif@uol.com.br



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