São Paulo, sexta-feira, 06 de agosto de 2004

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COMÉRCIO EXTERIOR

Principal negociador técnico europeu estará na CNA para expor o plano de negociação com o Mercosul

UE fará proposta diretamente a produtores

Joel Silva/Folha Imagem
Funcionários da usina Santa Elisa estocam sacas de açúcar no depósito em Sertãozinho (SP)


CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

A União Européia decidiu explicar diretamente aos empresários brasileiros do agronegócio qual é sua proposta agrícola para as negociações com o Mercosul, que serão retomadas a partir de terça-feira em Brasília, depois do fiasco do mês passado em Bruxelas.
Na manhã da mesma terça-feira, João José Pacheco, principal negociador técnico europeu para a área agrícola, estará na sede da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), por iniciativa dos próprios europeus, para conversar com o setor privado. Só à tarde é que começa a negociação oficial, com representantes do Itamaraty.
"Vai ser uma oportunidade muito boa para os diversos setores do agronegócio colocarem suas posições", diz Antonio Donizeti Beraldo, que é o representante permanente da CNA nas diferentes negociações comerciais em que o Brasil está envolvido.
É, a rigor, a primeira vez em que os europeus discutem suas propostas com o setor privado. É verdade que Franz Fischler, o comissário (espécie de ministro) para Agricultura, já esteve na CNA, mas foi antes de ser formalmente apresentada ao Mercosul a proposta agrícola.
O negociador europeu chega sem que tenha havido nenhuma evolução no impasse que levou à suspensão da mais recente reunião entre os dois blocos, há duas semanas. Os europeus anunciaram que as cotas que estão sendo oferecidas ao Mercosul serão distribuídas ao longo de dez anos.
"Dez anos é inaceitável porque torna a proposta sem valor econômico", diz Régis Arslanian, o negociador-chefe do Brasil.

Cobranças recíprocas
O impasse em Bruxelas deveria ter levado a consultas entre as duas partes no nível político, aproveitando o fato de que os dois principais comissários europeus (Fischler e Pascal Lamy, do Comércio) estariam em Genebra com o chanceler brasileiro, Celso Amorim, para tentar (e, afinal, conseguir) um acordo no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Mas Amorim conta que a negociação global foi tão intensa e absorvente que não deu tempo para tratar da birregional.
Ficou, então, tudo como estava: o Mercosul cobrando melhora na oferta agrícola européia e os europeus cobrando melhoras nas ofertas do Mercosul para serviços e compras governamentais.
Mudou apenas o cenário global, sob dois aspectos: o acordo na OMC, embora apenas em torno de diretrizes para a liberalização do comércio agrícola, e a decisão (ainda reservada) da OMC contra a UE, no caso do açúcar.
Tanto Beraldo, no setor privado, como Arslanian, no governo, torcem para que os dois fatos novos "ajudem na negociação", como diz Beraldo.
Reforça Arslanian: "O acordo em Genebra deixa mais claro o cenário comercial multilateral. Espero que ajude a que os europeus tenham melhor disposição na negociação birregional".
Há um terceiro elemento, externo às negociações entre os dois blocos, que pode provocar mudanças: a mídia européia especulava ontem com a possibilidade de que o substituto de Lamy no Comércio seja o britânico Peter Mandelson. Trata-se, acima de tudo, do representante do país menos protecionista da Europa na área agrícola.
Lamy, como toda a atual Comissão Européia, deixa o cargo em outubro, mês em que termina a negociação UE-Mercosul, se for possível seguir o cronograma estabelecido pelas partes.


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