São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2006

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Inflação baixa deve ajudar alta de salários

Expectativa é que negociações superem o ano passado, quando 72% dos acordos tiveram aumento real

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Inflação em queda, perspectiva de crescimento maior da economia neste ano e melhora dos indicadores do mercado de trabalho vão contribuir para que os reajustes salariais concedidos no segundo semestre consigam superar a inflação e trazer ganhos reais ao bolso do trabalhador.
As negociações coletivas devem ter resultados ainda mais expressivos que as do ano passado, quando 72% dos acordos analisados pelo Dieese trouxeram aumento real aos salários.
A previsão é de economistas, analistas do mercado de trabalho e sindicalistas que representam as principais categorias do país -metalúrgicos, bancários, químicos e petroleiros. Só no Estado de São Paulo, pelo menos 3 milhões de trabalhadores iniciam suas campanhas salariais a partir deste mês.
"Sem a pressão da inflação, que deve manter sua trajetória decrescente, a tendência é que 100% dos acordos salariais consigam repor as perdas acumuladas pelo INPC [Índice Nacional de Preços ao Consumidor] nos 12 meses anteriores a cada data-base", diz José Silvestre de Silveira, supervisor do Dieese em São Paulo.
No ano passado, 88% das 640 negociações estudadas no país conseguiram no mínimo zerar essas perdas -na indústria e também no comércio e no setor de prestação de serviços.
A inflação medida pelo INPC (indicador mais usado nas negociações) chegou, ao final de 2005, acumulada em 5,05%. No primeiro semestre do ano passado, atingiu percentuais próximos a 7%. As projeções para este ano oscilam entre 3,3% a 4% (no caso do INPC), segundo as principais consultorias econômicas do país.
Entre os setores que devem se beneficiar nas negociações coletivas deste ano, segundo apontam os técnicos, estão os ligados ao mercado interno -principalmente alimentação, vestuário e comércio.
"A indústria tem crescido de forma gradual, o consumo das famílias registrou aumento [cresceu 4% na comparação do primeiro trimestre do ano com igual período de 2005] e os empresários prevêem aumento nas contratações, segundo as sondagens industriais. Esses fatores contribuem para o aumento do poder de barganha dos sindicatos", afirmou Guilherme Maia, analista da consultoria Tendências.
A Federação dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de SP, que representa 340 mil empregados, informa que acordos negociados neste ano já trazem aumento real entre 2% e 3,9% -caso dos segmentos de bebidas e doces.
"A tendência é buscar esses mesmos percentuais nas sete negociações previstas para o segundo semestre", diz Sidney Moretti, assessor da federação.
Com data-base em julho, as costureiras anteciparam sua campanha salarial e fecharam acordo com 2,21% de aumento real para quem ganha até R$ 1.800. O reajuste total foi de 5%, ante INPC de 2,79% acumulado nos 12 meses encerrados em junho. Em São Paulo, 90 mil trabalham no setor.
No ABC paulista, os metalúrgicos fecham há dois anos acordos com índices de reposição acima da inflação para 85 mil trabalhadores.
Representados pela Força Sindical, 1,1 milhão de metalúrgicos do país pedem 10% de reajuste, o que inclui 3% de aumento real. "Apesar das reclamações dos empresários, a produção das montadoras no primeiro semestre foi recorde [alta de 4,4% na comparação com o mesmo período de 2005]", diz Eleno José Bezerra, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e da confederação nacional da categoria.


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