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FGV vê mais solidez na ascensão social
Segundo pesquisador, ganho de renda da população mais pobre se mostra mais resistente do que em outras épocas
Proporção de miseráveis
nas seis maiores regiões metropolitanas do país cai de 35% para 25% de abril
de 2002 a abril de 2008
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
De cada cem trabalhadores
das seis maiores regiões metropolitanas que estavam em situação de miséria em janeiro
deste ano, 32 aumentaram sua
renda e mudaram de classe social após quatro meses. Essa
maior mobilidade ajudou a reduzir a desigualdade e encorpou a classe média.
É o que mostra estudo divulgado ontem pelo economista
Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV. A pesquisa identifica que esses movimentos de aumento da classe
média e de redução da desigualdade, que começaram a ser detectados nesta década, continuam fortes neste ano.
Como resultado, a proporção
de miseráveis nas maiores regiões metropolitanas caiu de
35% para 25% de abril de 2002
a abril de 2008. No período, a
classe média, que era 44% da
população, chegou a 52%.
Resultados semelhantes foram encontrados em outro levantamento divulgado pelo
Ipea (leia texto nesta página).
O estudo da FGV definiu como classe média a população
cuja renda domiciliar total se
situava entre R$ 1.064 e R$
4.591. Foi incluído na classe E,
abaixo da linha de miséria, a
população cuja renda domiciliar fosse inferior a R$ 768.
Neri explica que sempre houve grande mobilidade social no
Brasil, principalmente no caso
de pobres que conseguiam subir para a classe média, mas logo voltavam para a pobreza.
Desta vez, ele diz que os dados
são mais animadores: "Esse
movimento não parece mais
um vôo de galinha, como tantos
que tivemos no Brasil".
Analisando a mobilidade entre classes sociais nas regiões
metropolitanas, o estudo de
Neri mostra que, em 2003, 79%
dos trabalhadores conseguiram permanecer na classe média num período de quatro meses. Em 2008, esse percentual
aumentou para 85%.
No caso da classe E, o percentual dos que conseguiram ascender passou de 27% para
32%, sendo que 16% foram para
a classe D, 15% para a classe
média (C) e 1% chegou à elite
(classe A ou B).
A maior mobilidade, no entanto, acontece na classe D,
aquela situada entre os miseráveis (E) e a classe média (C).
Em 2003, o movimento desses trabalhadores era ligeiramente mais descendente (24%
caíram para a classe E) do que
ascendente (23% foram para a
classe C). Em 2008, o percentual dos que subiram foi de
30%, exatamente o dobro dos
que caíram: 15%.
Para o economista, esses dados são positivos e se refletem
na melhoria da distribuição de
renda. "A queda na desigualdade que estamos presenciando
agora é espetacular, com uma
intensidade comparável à do
crescimento da concentração
da renda na década de 1960. O
Brasil descobriu nesse movimento uma espécie de poço de
petróleo que, bem explorado,
está ajudando a tirar milhões
de famílias da miséria."
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados,
mesmo com o cenário externo
menos favorável, a tendência é
que a classe C continue crescendo no país graças à geração
de empregos.
"A tendência de oferta de
crédito ainda é favorável, e o setor de construção segue investindo pesado. Isso dá mais garantias para a classe média se
expandir. O cenário externo
ainda não deve atrapalhar, nem
ajudar", diz Vale.
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