São Paulo, sexta-feira, 06 de setembro de 2002

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ARGENTINA EM TRANSE

Fundo adia pagamento de US$ 2,7 bi e diz que país demora a formular política monetária "clara"

FMI suspende dívida, mas faz nova cobrança

JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O FMI (Fundo Monetário Internacional) confirmou ontem que vai adiar por um ano o pagamento de uma dívida de US$ 2,7 bilhões do governo argentino que venceria na segunda-feira.
O diretor-gerente do Fundo, Horst Köhler, disse que a decisão foi influenciada pela situação econômica e social argentina, que continua "muito difícil" apesar das recentes melhorias fiscais e da estabilidade financeira.
Ele voltou a insistir que o país precisa adotar uma política monetária "clara e bem definida", reestruturar o sistema financeiro, fortalecer a autonomia do Banco Central, respeitar os contratos assinados e garantir o cumprimento do acordo para a redução do déficit das Províncias.
"[O governo" está demorando muito mais do que o prometido para formular um pacote de políticas coerentes e compreensíveis que poderiam direcionar essas dificuldades para um caminho sustentável", disse Köhler em nota divulgada em Washington.
Segundo o chefe de gabinete, Alfredo Atanasof, a missão do FMI que deixa hoje Buenos Aires também concordou em enviar na próxima semana uma resposta ao esboço de carta de intenções redigido pelo ministro Roberto Lavagna (Economia) há 20 dias.

Sem negociação
No entanto, Lavagna admitiu ontem que ainda não existe uma "linha de negociação" clara o suficiente para que o governo peça aos pré-candidatos à Presidência que ratifiquem as políticas e facilitem a obtenção do acordo.
Com a declaração, o ministro, que acertou ontem a liberação de um empréstimo de US$ 190 milhões do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), discordou do presidente Eduardo Duhalde, que vem pedindo um posicionamento dos pré-candidatos sobre as negociações.
Ao contrário de Lavagna, Duhalde já elabora planos para reativar a economia sem a ajuda do FMI. O primeiro sinal de que o presidente estaria impaciente e sem disposição para dar tanta prioridade ao acordo foi dado ontem por Atanasof.
Em resposta às duras críticas feitas pelo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O'Neill, o chefe do gabinete disse que "não somos O'Neill-dependentes" e que "a Argentina está saindo da crise sozinha".
"Todas as declarações e faíscas divulgadas durante todo esse tempo não têm para nós nenhuma importância", disse.
Segundo a imprensa local, Duhalde pensa em uma saída semelhante à adotada em 1997 pela Malásia, que desprezou o FMI e, mesmo assim, conseguiu enfrentar com sucesso a crise asiática.
O "projeto malaio" teria o apoio do Banco Central, que há três dias ignorou a presença de uma missão do Fundo na Argentina e estabeleceu uma série de medidas para controlar o fluxo de dólares ao exterior que vão contra às reformas de mercado exigidas pelo organismo.


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