São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2004

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REAÇÃO

Pressionados pela demanda, máquinas, veículos e elétricos reajustam tabelas; economista vê reposição de margens de lucro

Setores líderes da retomada elevam preços

Antônio Gaudério -31.ago.04/Folha Imagem
Operários trabalham na linha de montagem de eletrodomésticos em fábrica da Arno em São Paulo; aquecido, setor já aumenta preços


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Pelo menos três setores da economia líderes na retomada da produção da indústria estão aproveitando a maior demanda por seus produtos para aumentar preços. São eles: máquinas e equipamentos, veículos automotores e máquinas, aparelhos e materiais elétricos, ramo que inclui os eletrodomésticos.
Além desses, a siderurgia também tem elevado seus preços devido ao crescimento da demanda. Só não está na dianteira das vendas porque não tem mais capacidade em suas fábricas -o nível de utilização já superou 90%.
A conclusão é de um estudo do Grupo de Conjuntura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que comparou a evolução dos preços e da produção dos principais setores da economia. O trabalho comparou dados do IPA (Índice de Preços por Atacado) e da Pesquisa Industrial Mensal, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O temor de que o crescimento econômico pudesse causar um repique da inflação foi reforçado na semana passada com a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto), que apresentou crescimento de 4,2% no primeiro semestre. O consumo das famílias aumentou 3,1% no período.

Repondo margens
Economistas ouvidos pela Folha dizem que alguns ramos estão aproveitando a demanda aquecida para recuperar margens de lucro. Mas afirmam que não há uma explosão de consumo que justifique uma preocupação com o descontrole inflacionário.
"Não há dúvida de que a demanda mais aquecida favorece o repasse. A situação econômica está se mostrando cada vez mais propícia para isso, mas existe um teto. Não haverá descontrole", disse Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Segundo o economista Carlos Thadeu de Freitas Filho, que fez o estudo, além de recompor margens, esses ramos também estão repassando os aumentos de custos. Isso porque o preço de muitas commodities subiu com força no primeiro semestre.
De janeiro a julho deste ano, a produção de veículos automotores aumentou 26,12% e os preços subiram 8,88%. Já a fabricação de máquinas e equipamentos cresceu 16,15%, enquanto a inflação do setor teve alta de 10,72%.
No caso de aparelhos e materiais elétricos (que inclui os eletrodomésticos, cujo consumo cresceu muito nos últimos meses), os preços aumentaram num ritmo maior (12,06%) do que o do aumento da produção (11,16%).
O ramo que mais subiu seus preços, porém, foi o de metalurgia (que inclui o aço), com alta acumulada de 25,08% de janeiro a junho deste ano. Mas a forte ocupação das fábricas impediu uma alta expressiva da produção, que cresceu só 2,71% no mesmo período.
Em média, os preços no atacado subiram 8,27%, segundo o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado). Já a produção da indústria teve expansão de 7,7% no acumulado de janeiro a junho.
Muitos desses ramos continuaram a remarcar suas tabelas de preços em julho e em agosto -o último dado da produção industrial é de junho. É o caso do setor de siderurgia. Apenas em agosto, os itens de metalurgia (especialmente aço) subiram 7,05%. O ramo de máquinas e equipamentos teve alta de 2,23%.

Juros
Para o professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, a demanda mais forte "obviamente" favorece os aumentos de preços, mas essas altas são "localizadas" e "setoriais". Mesmo que a pressão justifique um aumento dos juros, isso não será uma "tragédia", diz ele.
Na visão de Cunha, um aumento "momentâneo" na taxa básica de juros para evitar que a inflação supere os 8% -o teto da meta do BC (Banco Central), de 5,5%, com tolerância de 2,5 pontos percentuais- não irá interromper o processo de recuperação do nível de atividade econômica.
Cunha avalia que uma alta da Selic, hoje em 16% ao ano, é mais provável se a Petrobras aumentar o preço da gasolina antes do final do ano. A estatal afirma que está aguardando a estabilização do preço do barril do petróleo no mercado internacional (hoje na faixa de US$ 41 a US$ 44) para tomar a decisão.
Quadros, entretanto, considera que o Banco Central não tem motivos para aumentar os juros observando apenas o comportamento da inflação no atacado. Isso porque, embora os repasses para o varejo estejam acontecendo, ainda não há uma "disseminação" em muitos setores.
Para Quadros, a alta do IGP-M em agosto -de 1,22%, bem acima das previsões, de 0,85%-, por exemplo, ficou localizada no aço, produto com grande peso na composição do IPA (8%).

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