São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2004

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Consumo de energia industrial cresce mais que PIB

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O consumo de energia pelas indústrias instaladas na região Sudeste já cresce em um ritmo mais acelerado do que o da própria economia. Levantamento feito pela Folha com as principais distribuidoras da região indica crescimento médio de 4,58% no gasto de energia da indústria nos primeiros seis meses de 2004 em relação ao mesmo período de 2003. O consumo total, considerando todos os tipos de consumidores, aumentou menos: 3,62%.
O crescimento é superior ao do PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas no país), que aumentou 4,2% no primeiro semestre. O crescimento da economia, de acordo com o IBGE, não está mais sendo liderado apenas pelas exportações, mas também pelo mercado interno.
De acordo com estimativa da CNI (Confederação Nacional da Indústria), em caso de crescimento contínuo da economia, a sobra de energia existente pode garantir o consumo por mais dois ou três anos. "Há uma reserva para dois ou três anos, se o crescimento se mantiver a uma taxa de 3,5% ou 4%", afirma José de Freitas Mascarenhas, presidente do Conselho de Infra-Estrutura da entidade.
Na avaliação de Mascarenhas, o preço da energia é um problema grave. O preço da tarifa para a indústria tem aumentado por causa de encargos cobrados pelo governo e porque a política tarifária atual é de retirada de subsídios que eram pagos pelo consumidor residencial para que o setor industrial pagasse menos.
O aumento dos encargos é sentido por parcela importante dos consumidores industriais, que deixaram de comprar energia das distribuidoras e passaram a ser "consumidores livres", comprando direto de geradoras, muitas vezes de usinas do mesmo grupo econômico. "Houve um aumento de cerca de 600% nas tarifas de uso da rede de transmissão entre 2000 e 2004", diz Paulo Ludmer, diretor administrativo e de comunicação da Abrace (Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia).
Ou seja, os consumidores industriais que deixaram de comprar energia das distribuidoras para fugir dos altos reajustes não têm como escapar dos aumentos na tarifa que é cobrada pelo uso dos fios que ligam as usinas de geração às fábricas.

Consumidor residencial
O crescimento da economia impulsionado pelo mercado interno pode ser verificado pelo aumento médio do consumo residencial. Na Eletropaulo, segunda maior distribuidora do país, o consumo residencial aumentou 4% no primeiro semestre de 2004 em relação ao mesmo período do ano passado. Além disso, o consumo médio do consumidor residencial aumentou 13%, ao passar de 182 kWh/mês para 205 kWh/mês.
"Esses números confirmam o aumento de renda dos clientes. Esse é um bom sinal", diz Ricardo Lima, vice-presidente comercial da empresa. "Agora é preciso verificar se esse crescimento é sustentável ou um "vôo de galinha"."
No levantamento feito pela Folha, a maior parte das distribuidoras informou o consumo total na sua área de concessão, inclusive a energia comprada pelos "consumidores livres". As empresas que não passaram os dados dessa forma não foram contabilizadas.
Para ter uma idéia do tamanho da distorção que isso pode causar nos números, basta verificar o que aconteceria com os números da Eletropaulo. Caso a concessionária considerasse apenas a energia faturada por ela mesma, o consumo industrial teria caído 11% no primeiro semestre. Considerando a participação dos consumidores livres, foi registrada alta de 4,9%.
A Escelsa (ES) registrou reduções de 5,4% nas vendas totais de energia no primeiro semestre e de 8,4% no consumo da indústria. A mesma empresa, no entanto, registrou aumento de 17% dos "consumidores livres".
A Light (RJ) e a Bandeirante (SP) não incluíram "consumidores livres" em seus números e por isso seus dados não foram comparados com as demais.

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