São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2004

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FOLHAINVEST

MERCADO FINANCEIRO

Especialistas dizem que quedas do dólar e do petróleo devem ajudar a reduzir expectativa inflacionária

Para analistas, é prematuro aumentar juro

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois do temor disseminado pela ata do Copom (Comitê de Política Monetária) na semana retrasada, de que o Banco Central aumentaria os juros em breve, analistas saíram a campo para afirmar que ainda é cedo para pensar em alta da taxa Selic.
Apesar dos sinais de fortalecimento da atividade econômica acima do esperado, as quedas do dólar e dos preços do petróleo devem ajudar a fazer as expectativas de inflação recuarem, afirmam economistas.
A apreciação do câmbio, porém, ainda não ecoou no boletim Focus, do Banco Central, que compila semanalmente as estimativas do mercado. A média das expectativas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deste ano subiu de 7,22% para 7,28%.
E, para o ano que vem -o que realmente conta, uma vez que a política monetária praticada hoje só se refletirá em 2005-, a média das expectativas chegou a 5,67%, enquanto o centro da meta da inflação é de 4,5%.
"Com o risco-país caindo, é prematuro elevar os juros porque é preciso olhar para a inflação lá na frente", diz Mauricio Oreng, economista do Unibanco. "Ainda que haja o risco de repasse [de preços] no atacado e de reflexos do aumento dos salários neste semestre, [a inflação] está próxima da projeção para 2005."
Tanto o risco-país quanto o dólar podem cair mais, segundo economistas. O risco-país, medido pelo JP Morgan e que representa o retorno médio dos títulos da dívida, acima dos papéis do Tesouro americano, está em 511 pontos. O câmbio, por sua vez, está há 20 dias abaixo de R$ 3 e fechou na sexta-feira a R$ 2,928.

Alta desnecessária
Câmbio e risco em queda podem fazer recuar as expectativas de inflação, o que justificaria a manutenção dos juros. O modelo usado pelo BC é muito sensível a essas projeções do mercado.
"Se o cenário externo permanecer bom, com balança comercial robusta e liquidez nos Estados Unidos, isso reduz o Embi [indicador de risco-país do JP Morgan], o que estimula as empresas a investir e a captar dinheiro no exterior", diz Oreng.
"A elevação de juros ainda não é necessária", segundo Gustavo Loyola, sócio da consultoria Tendências e ex-presidente do BC.
"Diferentemente do sinalizado na ata do Copom, seria irrazoável esperar que o BC inicie um processo de elevação da taxa baseado somente no comportamento esperado dos preços domésticos dos derivados de petróleo", escreveu Loyola no boletim da consultoria. Para ele, seria antecipar os potenciais efeitos negativos dos reajustes desses preços "administrados" sobre bens e serviços que compõem o IPCA.

Capacidade industrial
A utilização da capacidade industrial muito elevada, que vem sendo apontada como motivo a mais para elevar os juros, não é generalizada, dizem economistas.
"Está muito alta [a utilização da capacidade instalada] em alguns setores, como siderurgia, mas em outros, relacionados à demanda doméstica, ainda há espaço para crescer, sem pressionar a inflação", afirma Oreng.
Para outros analistas, o Banco Central só deveria pensar em aumento dos juros se houver descontrole das expectativas de inflação, choque brutal do petróleo, alta dos juros nos Estados Unidos acima de meio ponto percentual por reunião do Fed (o BC norte-americano) ou elevação muito forte do dólar.

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