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FOLHAINVEST
MERCADO FINANCEIRO
Especialistas dizem que quedas do dólar e do petróleo devem ajudar a reduzir expectativa inflacionária
Para analistas, é prematuro aumentar juro
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois do temor disseminado
pela ata do Copom (Comitê de
Política Monetária) na semana retrasada, de que o Banco Central
aumentaria os juros em breve,
analistas saíram a campo para
afirmar que ainda é cedo para
pensar em alta da taxa Selic.
Apesar dos sinais de fortalecimento da atividade econômica
acima do esperado, as quedas do
dólar e dos preços do petróleo devem ajudar a fazer as expectativas
de inflação recuarem, afirmam
economistas.
A apreciação do câmbio, porém, ainda não ecoou no boletim
Focus, do Banco Central, que
compila semanalmente as estimativas do mercado. A média das expectativas para o IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo)
deste ano subiu de 7,22% para
7,28%.
E, para o ano que vem -o que
realmente conta, uma vez que a
política monetária praticada hoje
só se refletirá em 2005-, a média
das expectativas chegou a 5,67%,
enquanto o centro da meta da inflação é de 4,5%.
"Com o risco-país caindo, é prematuro elevar os juros porque é
preciso olhar para a inflação lá na
frente", diz Mauricio Oreng, economista do Unibanco. "Ainda
que haja o risco de repasse [de
preços] no atacado e de reflexos
do aumento dos salários neste semestre, [a inflação] está próxima
da projeção para 2005."
Tanto o risco-país quanto o dólar podem cair mais, segundo
economistas. O risco-país, medido pelo JP Morgan e que representa o retorno médio dos títulos
da dívida, acima dos papéis do
Tesouro americano, está em 511
pontos. O câmbio, por sua vez, está há 20 dias abaixo de R$ 3 e fechou na sexta-feira a R$ 2,928.
Alta desnecessária
Câmbio e risco em queda podem fazer recuar as expectativas
de inflação, o que justificaria a
manutenção dos juros. O modelo
usado pelo BC é muito sensível a
essas projeções do mercado.
"Se o cenário externo permanecer bom, com balança comercial
robusta e liquidez nos Estados
Unidos, isso reduz o Embi [indicador de risco-país do JP Morgan], o que estimula as empresas
a investir e a captar dinheiro no
exterior", diz Oreng.
"A elevação de juros ainda não é
necessária", segundo Gustavo Loyola, sócio da consultoria Tendências e ex-presidente do BC.
"Diferentemente do sinalizado
na ata do Copom, seria irrazoável
esperar que o BC inicie um processo de elevação da taxa baseado
somente no comportamento esperado dos preços domésticos
dos derivados de petróleo", escreveu Loyola no boletim da consultoria. Para ele, seria antecipar os
potenciais efeitos negativos dos
reajustes desses preços "administrados" sobre bens e serviços que
compõem o IPCA.
Capacidade industrial
A utilização da capacidade industrial muito elevada, que vem
sendo apontada como motivo a
mais para elevar os juros, não é
generalizada, dizem economistas.
"Está muito alta [a utilização da
capacidade instalada] em alguns
setores, como siderurgia, mas em
outros, relacionados à demanda
doméstica, ainda há espaço para
crescer, sem pressionar a inflação", afirma Oreng.
Para outros analistas, o Banco
Central só deveria pensar em aumento dos juros se houver descontrole das expectativas de inflação, choque brutal do petróleo, alta dos juros nos Estados Unidos
acima de meio ponto percentual
por reunião do Fed (o BC norte-americano) ou elevação muito
forte do dólar.
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