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Governo lança pacote tímido para o crédito
Medidas para tentar elevar concorrência bancária e reduzir custo de empréstimos são mais limitadas do que o Planalto sugeria
Conta salário obrigatória só começa em 2007; mudanças também incluem cadastro positivo e transferência
de dívidas pelos clientes
SHEILA D'AMORIM
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de semanas de negociações, o governo anunciou
ontem o prometido pacote de
medidas para tentar estimular
a concorrência bancária e reduzir o custo dos empréstimos.
Na prática, porém, as propostas
só começam a valer de verdade
no ano que vem, algumas ainda
parcialmente.
Além disso, as medidas acabaram sendo mais tímidas para
forçar a competição entre as
instituições financeiras do que
governo havia alardeado
-atendendo a reivindicações
de bancos.
Apesar disso, o ministro Guido Mantega (Fazenda), disse
que o pacote é uma medida "revolucionária". "Estamos cortando o cordão umbilical que liga correntista involuntariamente a uma instituição financeira", afirmou o ministro.
A limitação das medidas
anunciadas fica clara, por
exemplo, na conta salário, que
só será obrigatória em 1º de janeiro de 2007. A partir dessa
data, os salários terão que ser
depositados numa conta isenta
de tarifas e com a garantia da
transferência automática dos
recursos para a instituição que
o cliente escolher.
A idéia é que o trabalhador
avise uma única vez o banco em
que recebe para onde quer que
o dinheiro seja transferido. A
partir dessa autorização, o repasse será feito mensalmente
no dia do crédito do salário.
Essa regra valerá para trabalhadores cujas empresas não
tenham convênio ou contratos
de venda de folha de pagamentos assinados com os bancos. A
situação desses trabalhadores
ainda será examinada pelo governo e depende de uma segunda resolução do CMN (Conselho Monetário Nacional), que
ainda não tem data para sair.
O governo poderia ter simplesmente autorizado o trabalhador a escolher onde quer ter
seu salário depositado, conforme projeto já em tramitação no
Congresso. Mas, segundo o
presidente do BC, Henrique
Meirelles, isso não foi considerado porque aumentaria muito
o custo das empresas.
Leilão entre bancos
O pacote também procura
estimular que clientes busquem juros menores em seus
financiamentos fazendo espécie de leilão entre os bancos.
Para isso, o governo vai isentar a cobrança da CPMF e do
IOF quando uma dívida for
transferida de um banco para
outro e vai determinar que os
próprios bancos façam a quitação do empréstimo original,
evitando, assim, que os correntistas tenham que negociar
com duas instituições. O benefício tributário ainda depende
de uma medida provisória.
Mas o governo não deixou
claro como se dará a negociação para desconto dos juros
embutidos na dívida que será
quitada antecipadamente e
nem as tarifas que a instituição
poderá cobrar. Isso, no caso de
dívidas antigas, já que a expectativa é que, a partir de agora, os
novos contratos já considerem
essa possibilidade de migração
e o seu eventual custo.
Esse conjunto de medidas,
porém, não vale para o crédito
com desconto em folha de pagamentos ou para empréstimos habitacionais. A migração
dessas dívidas ficaram para
"uma segunda etapa".
"As medidas não se esgotam
hoje", disse Meirelles. "O crédito consignado para habitação
será anunciado semana que
vem", afirmou Mantega, negando que o governo tivesse recuado. "Estamos só fazendo as
coisas gradualmente. Estamos
alterando as regras para estimular a competição e para que
a instituição vá atrás do correntista e que vença a que oferecer
melhores condições".
As outras quatro medidas incluídas no pacote têm perspectivas ainda mais distantes de
implementação. Uma medida
provisória será editada criando
o Cadastro Positivo -um banco de dados que reunirá todo o
histórico de pagamentos dos
clientes. Com isso, os bancos
poderão avaliar cobrar juros
menores dos bons pagadores.
O problema é que o investimento para criar esse cadastro
é elevado e, até a que MP seja
aprovada no Congresso, dificilmente a iniciativa privada concordará em aportar os recursos
para levar adiante a idéia.
Um mal semelhante enfrentará a Central de Risco de Crédito. Nela, os bancos registram
todos os financiamentos acima
de R$ 5.000. Até março do ano
que vem o governo espera ter
incluído todos os empréstimos
de até R$ 3.000 e em dezembro
aqueles acima de R$ 1.000.
A redução na contribuição
que os bancos fazem ao FGC
(Fundo Garantidor de Crédito)
-de 0,030% anuais para
0,015%- diminuirá o custo dos
bancos, mas não há garantia de
que isso seja repassado para as
taxas dos clientes. A contrapartida foi o aumento de R$ 20 mil
para R$ 60 mil do reembolso
que o FGC dará ao correntista
em caso de falência do banco.
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