|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Câmbio flutuante prejudica país, diz Unctad
Afetada pelo capital especulativo, taxa cambial deixa de espelhar condições reais da economia, afirma órgão da ONU
Unctad sugere taxar capital e
intervir no câmbio e também
alerta contra acordos de
comércio entre ricos e
países em desenvolvimento
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A adoção do sistema de metas para a inflação e de taxas de
câmbio flutuantes após a desvalorização do real, em 1999,
trouxe resultados "decepcionantes" para o Brasil, por haver
levado a uma "tendência de valorização da moeda e deterioração da competitividade global",
segundo documento divulgado
ontem pela Unctad (Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento).
A valorização da moeda está
ligada, pelo diagnóstico da
Unctad, às altas taxas de juros,
que atraem o capital especulativo internacional. México,
Turquia, África do Sul e Hungria, países que têm sistemas de
controle da inflação parecidos
com o brasileiro, também enfrentam os mesmos problemas.
A fonte dos recursos que força a valorização artificial do
câmbio são os "hedge funds",
fundos de investimento agressivos, que tomam empréstimos
em países como Japão e Suíça,
onde juro e inflação são baixos,
e aplicam onde a remuneração
é mais elevada, no caso, os países em desenvolvimento.
O movimento desse dinheiro, segundo o documento da
ONU, distorce o câmbio, que
deixa de espelhar as condições
reais da economia, que passa a
ser influenciada pelo fluxo financeiro. Daí a valorização e a
perda de competitividade.
"Além disso, as taxas de juros
reais elevadas, sistematicamente superiores às americanas e de outros países industrializados, reduzem a acumulação de capital [necessária para financiar os investimentos]",
diz o relatório.
A solução sugerida seria a
criação de um sistema mundial
de monitoramento do câmbio.
Mas, como até a Unctad considera essa saída pouco provável,
defende que os países em desenvolvimento taxem os capitais especulativos e façam intervenções no câmbio para evitar a valorização excessiva.
Ganhos limitados
O "Relatório de Desenvolvimento e Comércio de 2007"
também alerta contra os acordos bilaterais de comércio que
estão sendo assinados entre
países em desenvolvimento e
os mais industrializados.
Para a Unctad, os governos
deveriam "pensar duas vezes"
antes de assinar os tratados e
priorizar acordos com países
em desenvolvimento e de uma
mesma região, idéia semelhante à do governo brasileiro.
Os acordos bilaterais de comércio nos moldes do que foi
assinado, por exemplo, entre o
Chile e os EUA, que garante
acesso ao mercado americano
com tarifa mais baixa aos produtos chilenos, são considerados prejudiciais aos países mais
pobres, na visão da Unctad.
No curto prazo, a entidade
reconhece que há ganhos com o
aumento do comércio. Mas argumenta que, para conseguir
essa vitória inicial, os países
mais pobres acabam negociando em condições muito piores
do que conseguiriam se tivessem mais parceiros à mesa e
são geralmente forçados a concessões em áreas como legislação trabalhista e ambiental.
O fortalecimento do comércio intrarregional, por outro lado, teria implícita a vantagem
de uma negociação entre
iguais, além de estimular a industrialização, já que a Unctad
mostra que a maior fatia das
vendas de bens industriais dos
países em desenvolvimento é
feita para os próprios vizinhos.
Texto Anterior: Defim alerta para "patifaria" de banco estrangeiro Próximo Texto: Emergentes têm melhor momento desde anos 1970 Índice
|