São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2007

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Câmbio flutuante prejudica país, diz Unctad

Afetada pelo capital especulativo, taxa cambial deixa de espelhar condições reais da economia, afirma órgão da ONU

Unctad sugere taxar capital e intervir no câmbio e também alerta contra acordos de comércio entre ricos e países em desenvolvimento

LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A adoção do sistema de metas para a inflação e de taxas de câmbio flutuantes após a desvalorização do real, em 1999, trouxe resultados "decepcionantes" para o Brasil, por haver levado a uma "tendência de valorização da moeda e deterioração da competitividade global", segundo documento divulgado ontem pela Unctad (Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento).
A valorização da moeda está ligada, pelo diagnóstico da Unctad, às altas taxas de juros, que atraem o capital especulativo internacional. México, Turquia, África do Sul e Hungria, países que têm sistemas de controle da inflação parecidos com o brasileiro, também enfrentam os mesmos problemas.
A fonte dos recursos que força a valorização artificial do câmbio são os "hedge funds", fundos de investimento agressivos, que tomam empréstimos em países como Japão e Suíça, onde juro e inflação são baixos, e aplicam onde a remuneração é mais elevada, no caso, os países em desenvolvimento.
O movimento desse dinheiro, segundo o documento da ONU, distorce o câmbio, que deixa de espelhar as condições reais da economia, que passa a ser influenciada pelo fluxo financeiro. Daí a valorização e a perda de competitividade.
"Além disso, as taxas de juros reais elevadas, sistematicamente superiores às americanas e de outros países industrializados, reduzem a acumulação de capital [necessária para financiar os investimentos]", diz o relatório.
A solução sugerida seria a criação de um sistema mundial de monitoramento do câmbio. Mas, como até a Unctad considera essa saída pouco provável, defende que os países em desenvolvimento taxem os capitais especulativos e façam intervenções no câmbio para evitar a valorização excessiva.

Ganhos limitados
O "Relatório de Desenvolvimento e Comércio de 2007" também alerta contra os acordos bilaterais de comércio que estão sendo assinados entre países em desenvolvimento e os mais industrializados.
Para a Unctad, os governos deveriam "pensar duas vezes" antes de assinar os tratados e priorizar acordos com países em desenvolvimento e de uma mesma região, idéia semelhante à do governo brasileiro.
Os acordos bilaterais de comércio nos moldes do que foi assinado, por exemplo, entre o Chile e os EUA, que garante acesso ao mercado americano com tarifa mais baixa aos produtos chilenos, são considerados prejudiciais aos países mais pobres, na visão da Unctad.
No curto prazo, a entidade reconhece que há ganhos com o aumento do comércio. Mas argumenta que, para conseguir essa vitória inicial, os países mais pobres acabam negociando em condições muito piores do que conseguiriam se tivessem mais parceiros à mesa e são geralmente forçados a concessões em áreas como legislação trabalhista e ambiental.
O fortalecimento do comércio intrarregional, por outro lado, teria implícita a vantagem de uma negociação entre iguais, além de estimular a industrialização, já que a Unctad mostra que a maior fatia das vendas de bens industriais dos países em desenvolvimento é feita para os próprios vizinhos.


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