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Brasil e Argentina querem conter "invasão" de asiáticos
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
Um mês após a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Argentina que selou a paz
entre os dois países após as divergências dos vizinhos na Rodada Doha da OMC, a pauta comercial dos dois países mudou.
Em vez de trocar farpas, os dois
países agora se reunirão para
trocar experiências nas áreas
de defesa comercial diante do
avanço de produtos vindos de
países asiáticos.
Esse será um dos principais
temas das reuniões entre funcionários dos dois países durante a visita da mandatária argentina, Cristina Kirchner, que
chega hoje ao Brasil.
Na segunda-feira, acontece a
segunda reunião bilateral para
tratar do tema e o primeiro encontro entre representantes
das duas aduanas. Os dois países buscam compartilhar mecanismos legais para frear a entrada desses produtos, sem serem taxados de protecionistas.
A medida seria o primeiro
passo para uma futura unificação ou harmonização das regras de defesa comercial do
Mercosul, que será proposta ao
bloco pelos dois países.
O tema entrou na agenda bilateral após o encontro empresarial realizado em Buenos Aires, em agosto, com a presença
dos dois presidentes.
À época, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho,
destacou a preocupação comum entre os dois vizinhos.
"Estamos preocupados com
o aumento das importações da
China e de outros países asiáticos e sobre como isso poder
afetar nossas economias", disse
Ramalho, ao informar que os
dois países tentarão identificar,
juntos, os problemas e pensar
em medidas de defesa comercial para corrigi-los.
Segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério
do Desenvolvimento, Welber
Barral, os governos começam a
trocar informações sobre diferentes problemas que ambos
enfrentam, como subfaturamento, falsa designação de origem e de composição do produto, pirataria e descaminho.
Uma das medidas aplicadas
na Argentina que o Brasil tem
interesse em reproduzir é a
norma antielisão, que impede
que um produto acusado de
dumping possa ser importado
como se fosse de outro país.
O tema da harmonização das
regras de defesa também será
levado à discussão dos grupos
técnicos do Mercosul neste
mês, mas é uma questão a ser
resolvida "a médio prazo", segundo o governo brasileiro.
Ameaça ou oportunidade?
"Não queremos coibir as importações e sim as fraudes, que
estão se sofisticando", afirma
Barral, que acredita que a Ásia
pode ser ao mesmo tempo uma
ameaça e uma oportunidade
para o Brasil.
No entanto, o secretário de
Indústria argentino, Fernando
Fraguío, não mediu as palavras
para definir recentemente a
entrada de produtos asiáticos
no país. "A produção local está
ameaçada pelo ingresso de produção externa, especialmente
de origem asiática. Não podemos expor [os empresários locais] aos danos do comércio
desleal e do subfaturamento.
Estamos trabalhando para defender a produção nacional",
afirmou em um evento dirigido
ao setor têxtil, um dos principais afetados pelos produtos
asiáticos. A entrada de roupa
chinesa no país aumentou 14
vezes entre 2005 e 2007.
O comércio entre a China e
os dois países sul-americanos
se intensifica nos dois sentidos.
Em 2007, Brasil e Argentina
aumentaram suas exportações
para a China respectivamente
em 28% e em 49%. Já as importações subiram 58% e 63%.
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