São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil e Argentina querem conter "invasão" de asiáticos

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Um mês após a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Argentina que selou a paz entre os dois países após as divergências dos vizinhos na Rodada Doha da OMC, a pauta comercial dos dois países mudou. Em vez de trocar farpas, os dois países agora se reunirão para trocar experiências nas áreas de defesa comercial diante do avanço de produtos vindos de países asiáticos.
Esse será um dos principais temas das reuniões entre funcionários dos dois países durante a visita da mandatária argentina, Cristina Kirchner, que chega hoje ao Brasil.
Na segunda-feira, acontece a segunda reunião bilateral para tratar do tema e o primeiro encontro entre representantes das duas aduanas. Os dois países buscam compartilhar mecanismos legais para frear a entrada desses produtos, sem serem taxados de protecionistas.
A medida seria o primeiro passo para uma futura unificação ou harmonização das regras de defesa comercial do Mercosul, que será proposta ao bloco pelos dois países.
O tema entrou na agenda bilateral após o encontro empresarial realizado em Buenos Aires, em agosto, com a presença dos dois presidentes.
À época, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, destacou a preocupação comum entre os dois vizinhos.
"Estamos preocupados com o aumento das importações da China e de outros países asiáticos e sobre como isso poder afetar nossas economias", disse Ramalho, ao informar que os dois países tentarão identificar, juntos, os problemas e pensar em medidas de defesa comercial para corrigi-los.
Segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, os governos começam a trocar informações sobre diferentes problemas que ambos enfrentam, como subfaturamento, falsa designação de origem e de composição do produto, pirataria e descaminho.
Uma das medidas aplicadas na Argentina que o Brasil tem interesse em reproduzir é a norma antielisão, que impede que um produto acusado de dumping possa ser importado como se fosse de outro país.
O tema da harmonização das regras de defesa também será levado à discussão dos grupos técnicos do Mercosul neste mês, mas é uma questão a ser resolvida "a médio prazo", segundo o governo brasileiro.

Ameaça ou oportunidade?
"Não queremos coibir as importações e sim as fraudes, que estão se sofisticando", afirma Barral, que acredita que a Ásia pode ser ao mesmo tempo uma ameaça e uma oportunidade para o Brasil.
No entanto, o secretário de Indústria argentino, Fernando Fraguío, não mediu as palavras para definir recentemente a entrada de produtos asiáticos no país. "A produção local está ameaçada pelo ingresso de produção externa, especialmente de origem asiática. Não podemos expor [os empresários locais] aos danos do comércio desleal e do subfaturamento. Estamos trabalhando para defender a produção nacional", afirmou em um evento dirigido ao setor têxtil, um dos principais afetados pelos produtos asiáticos. A entrada de roupa chinesa no país aumentou 14 vezes entre 2005 e 2007.
O comércio entre a China e os dois países sul-americanos se intensifica nos dois sentidos. Em 2007, Brasil e Argentina aumentaram suas exportações para a China respectivamente em 28% e em 49%. Já as importações subiram 58% e 63%.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Bancos vão assinar acordos para projetos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.