|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Controle sobre os bancos ficará para 2010
DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
Só no fim do ano que vem é
que estará pronta a reforma da
regulação do sistema financeiro, segundo anunciou ontem
Timothy Geithner, secretário
norte-americano do Tesouro.
Como as falhas na regulação
são quase consensualmente
apontadas como a causa da crise global, parece um calendário
esticado demais, mas Geithner
o defendeu: "Trata-se de uma
enorme e complexa tarefa e é
preciso fazê-la direito".
Mas o secretário admitiu
que, à medida que a crise vai
deixando de piorar -e até há
melhoras em alguns países-,
pode reduzir-se o ímpeto para
colocar freios nos excessos do
sistema financeiro.
Os países europeus do G20
são os que mais demandam
freios, inclusive na remuneração de banqueiros e executivos
do setor. Peer Steinbrück, o ministro alemão de Finanças, disse ontem a seus pares:
"O que vamos dizer a nossos
eleitores que estão perdendo
seus empregos quando os banqueiros continuam a receber
bônus elevadíssimos?".
A Alemanha tem eleição geral no dia 27, o que explica a
premência demandada por
Steinbrück.
No caso específico da remuneração de banqueiros, o que
ficou acertado está longe de
atender ao incomodo de Steinbrück: pela explicação de Alistair Darling, responsável pelo
Tesouro britânico, não haverá,
na regulamentação em estudos, um teto individualizado.
Haverá, sim, a delimitação de
um total de recursos destinados a salários e bônus de cada
instituição financeira, compatível com a saúde dela.
"Estamos entrando em uma
era em que as pessoas não serão
mais premiadas por seu comportamento irresponsável", decreta Darling.
A ênfase da regulação, no entanto, não será em cima dos ganhos dos banqueiros, e, sim, em
cima das operações dos bancos,
tal como pretendiam os EUA.
A ideia central é evitar que os
bancos dependam demais de
capital alheio -ou, no jargão,
que se alavanquem demais. Serão obrigados a dispor de capital próprio compatível com os
riscos que queiram correr.
Outro ponto básico é fugir do
que se chamou de "bancos
grandes demais para quebrar,
mas também grandes demais
para serem socorridos". Quer
dizer o seguinte: há instituições
financeiras tão relevantes sistemicamente que os governos
não podem se arriscar a deixá-las quebrar. Mas são também
tão grandes que os recursos necessários para sustentá-las tornam-se imensos.
Para esse grupo de bancos, o
documento final do G20 fala
em desenvolver "planos de
contingência específicos".
Os detalhes técnicos, no entanto, foram jogados, em sua
quase totalidade, para o BIS
(Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de
banco central dos bancos centrais) e para os organismos que
dele fazem parte e/ou para os
acordos já acertados e que levam o nome da cidade-sede do
BIS (Basileia, na Suíça).
Outra divergência que ficou
apenas em frases para iniciados
foi em torno dos desequilíbrios
na economia que já existiam
antes da crise -e que também
são considerados responsáveis
por ela. Trata-se, em essência,
do excesso de consumo dos Estados Unidos e do excesso de
oferta da China, por exemplo.
O documento final fala apenas em "reequilibrar a demanda global". Mas Geithner aproveitou a coletiva de encerramento para dizer, veladamente, que os Estados Unidos já estão fazendo sua parte: "A transição econômica nos EUA está
sendo fundamentalmente saudável, com menos empréstimos do resto do mundo".
(CR)
Texto Anterior: Mundo ainda terá que injetar "dois Brasis" Próximo Texto: Frase Índice
|