São Paulo, domingo, 06 de setembro de 2009

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Controle sobre os bancos ficará para 2010

DO ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Só no fim do ano que vem é que estará pronta a reforma da regulação do sistema financeiro, segundo anunciou ontem Timothy Geithner, secretário norte-americano do Tesouro.
Como as falhas na regulação são quase consensualmente apontadas como a causa da crise global, parece um calendário esticado demais, mas Geithner o defendeu: "Trata-se de uma enorme e complexa tarefa e é preciso fazê-la direito".
Mas o secretário admitiu que, à medida que a crise vai deixando de piorar -e até há melhoras em alguns países-, pode reduzir-se o ímpeto para colocar freios nos excessos do sistema financeiro.
Os países europeus do G20 são os que mais demandam freios, inclusive na remuneração de banqueiros e executivos do setor. Peer Steinbrück, o ministro alemão de Finanças, disse ontem a seus pares:
"O que vamos dizer a nossos eleitores que estão perdendo seus empregos quando os banqueiros continuam a receber bônus elevadíssimos?".
A Alemanha tem eleição geral no dia 27, o que explica a premência demandada por Steinbrück.
No caso específico da remuneração de banqueiros, o que ficou acertado está longe de atender ao incomodo de Steinbrück: pela explicação de Alistair Darling, responsável pelo Tesouro britânico, não haverá, na regulamentação em estudos, um teto individualizado.
Haverá, sim, a delimitação de um total de recursos destinados a salários e bônus de cada instituição financeira, compatível com a saúde dela.
"Estamos entrando em uma era em que as pessoas não serão mais premiadas por seu comportamento irresponsável", decreta Darling.
A ênfase da regulação, no entanto, não será em cima dos ganhos dos banqueiros, e, sim, em cima das operações dos bancos, tal como pretendiam os EUA.
A ideia central é evitar que os bancos dependam demais de capital alheio -ou, no jargão, que se alavanquem demais. Serão obrigados a dispor de capital próprio compatível com os riscos que queiram correr.
Outro ponto básico é fugir do que se chamou de "bancos grandes demais para quebrar, mas também grandes demais para serem socorridos". Quer dizer o seguinte: há instituições financeiras tão relevantes sistemicamente que os governos não podem se arriscar a deixá-las quebrar. Mas são também tão grandes que os recursos necessários para sustentá-las tornam-se imensos.
Para esse grupo de bancos, o documento final do G20 fala em desenvolver "planos de contingência específicos".
Os detalhes técnicos, no entanto, foram jogados, em sua quase totalidade, para o BIS (Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de banco central dos bancos centrais) e para os organismos que dele fazem parte e/ou para os acordos já acertados e que levam o nome da cidade-sede do BIS (Basileia, na Suíça).
Outra divergência que ficou apenas em frases para iniciados foi em torno dos desequilíbrios na economia que já existiam antes da crise -e que também são considerados responsáveis por ela. Trata-se, em essência, do excesso de consumo dos Estados Unidos e do excesso de oferta da China, por exemplo.
O documento final fala apenas em "reequilibrar a demanda global". Mas Geithner aproveitou a coletiva de encerramento para dizer, veladamente, que os Estados Unidos já estão fazendo sua parte: "A transição econômica nos EUA está sendo fundamentalmente saudável, com menos empréstimos do resto do mundo". (CR)


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