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G20 põe banqueiros no "corredor da morte"
Autoridades econômicas discutem o aumento da regulação e a taxação de bancos e seus executivos para evitar abusos
Europeus visam os bônus pagos aos banqueiros; já os EUA defendem regras para que as instituições não emprestem "sem limite"
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
Enquanto ministros da Fazenda e presidentes de bancos
centrais do G20 se reúnem, em
Londres, para preparar a cúpula do grupo marcada para os
dias 24 e 25 nos Estados Unidos, Caroline White dedica-se a
terminar à sua própria maneira
de lembrar o primeiro aniversário, no dia 15, da quebra do
Lehman Brothers, que precipitou o derretimento do sistema
financeiro e transformou o
G20, até então corpo técnico
pouco reconhecido, em uma espécie de gerente informal da
economia mundial.
Caroline desenhou uma pasta para computador que batizou de "Luxuoso Corredor da
Morte", relata o jornal britânico "Financial Times". Por fora,
pele de crocodilo; por dentro
peças de tecido que ela levou do
banco falido, no último dia de
trabalho nele, após 13 anos de
carreira. Tudo coroado pelo logotipo do Lehman Brothers.
Caroline vive agora do "design" e se diz satisfeita com a
mudança de rumo na carreira.
Mas os banqueiros e os executivos do setor financeiro ainda se sentem no "corredor da
morte", até porque o luxo a eles
associado está ameaçado pela
ofensiva que os governos, principalmente europeus, lançam
contra os ganhos do setor.
A grande discussão entre ministros e presidentes de BCs foi
exatamente, para simplificar,
se devem ser regulados ou taxados o capital dos bancos ou o
dos banqueiros. Ou ambos.
Os europeus preferem atacar
os banqueiros. Diz Elena Salgado, a ministra espanhola da
Economia: "Todos os países estão pedindo esforços aos cidadãos para sair da crise. Parece
lógico que sejam pedidos também aos banqueiros".
Reforçam, em carta aberta,
os primeiros-ministros Angela
Merkel (Alemanha) e Gordon
Brown (Reino Unido) e o presidente Nicolas Sarkozy (França): "Nossos cidadãos estão
profundamente consternados
ante o retorno de práticas reprováveis apesar do dinheiro
dos contribuintes que foi necessário mobilizar para apoiar
o sistema financeiro".
Já os Estados Unidos visam o
capital dos bancos. Seu secretário do Tesouro, Timothy Geithner, publicou artigo no "Financial Times" alinhando um sólido catálogo de oito pontos para
a reforma da regulação do sistema financeiro, cujas falhas são
tidas como a principal causa do
colapso.
Um dos principais pontos é
um limite rígido para a quantidade de dinheiro que um banco
pode tomar emprestado, em relação ao seu capital próprio, o
que, em tese, evitaria o que o
jargão designa como "excessiva
alavancagem" -ou seja, fazer
operações com dinheiro alheio,
até que a roda emperre.
Segundo ponto, parente do
anterior: forçar os bancos a levantar bem mais capital no
mercado de valores, via lançamento de ações.
Os grandes países emergentes, reunidos no Bric (Brasil,
Rússia, Índia e China), também
entram no que os banqueiros
sentem como "corredor da
morte", mesmo não tendo visto
derreter seu sistema bancário,
até porque fizeram poucas
apostas de risco.
Ainda assim, em comunicado
emitido na sexta, reclamam
uma reforma do sistema financeiro para "não retornar a um
padrão de regulação financeira
frouxa e supervisão deficiente".
Taxa Tobin
Mas o que mais irritou os
banqueiros foi uma proposta
de lorde Adair Turner, presidente da Autoridade de Serviços Financeiros, uma espécie
de xerife da City, o lendário
centro britânico de negócios e,
principalmente, finanças.
Ele ressuscitou a chamada
Taxa Tobin, proposta pelo Nobel de Economia James Tobin,
que queria taxar todas as transações monetárias transfronteiriças, justamente para conter a especulação com moedas.
Lorde Turner propôs a taxação das transações monetárias
realizadas pelos bancos, com
alíquota entre 0,1% e 0,2%,
igualmente para conter operações especulativas.
"Seria uma loucura impor tal
taxa unilateralmente sem que
seja imposta ao mesmo tempo
ao resto do mundo", reagiu furiosamente Richard Lambert, o
diretor-geral da CBI (Confederação da Indústria Britânica),
que é tida como "a voz dos negócios" no Reino Unido.
Mas a frase que mais indica
como os executivos se sentem
acuados veio depois: "A City
não é alguma excrescência inchada que tira o equilíbrio de
toda a economia do Reino Unido", afirmou.
Lambert calcula que os salários de todo o pessoal do setor
financeiro representam pouco
menos de 4% da economia britânica, enquanto os do serviço
público chegam a 16%. O problema é que foram os gerentes
desses 16% que tiveram que
usar o dinheiro de todos os cidadãos para resgatar do "corredor da morte" incontáveis instituições que, do contrário, estariam hoje com seus logotipos
enfeitando outras maletas.
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