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MERCADO TENSO
Decisão tomada pelo Banco Central na sexta-feira só vale no curto prazo, pois agrava o déficit público
Só juro não afasta crise,
dizem analistas
ANDRÉ SOLIANI
SILVANA QUAGLIO
da Reportagem Local
Aumentar os
juros, como
anunciou o
Banco Central
na noite de sexta-feira, não
afastará o Brasil
do risco de uma
crise cambial. Na opinião unânime de 15 economistas -liberais e
heterodoxos- consultados pela
Folha. A alternativa pode ser usada, no máximo, como coadjuvante no contra-ataque à especulação
que ameaça o real.
Para todos, o aumento dos juros
é uma medida que só funciona por
períodos curtos e não restabelece
a confiança dos investidores.
O professor de economia Luciano Coutinho chega a classificar o
aumento de juros como uma
"medida nefasta", que não atrairá novos investimentos, mas admite que poderá "impedir o dinheiro de sair".
Dependendo de como é aplicada, a medida pode até piorar a
percepção dos investidores em relação à capacidade do Brasil de resistir à crise. Há o recente exemplo
da Rússia, que subiu os juros e depois aplicou um calote nos investidores, lembra o ex-ministro do
Planejamento Antonio Kandir.
O economista Aloizio Mercadante, do PT, afirma que o governo está sendo forçado pelo mercado a aumentar os juros. "Ninguém mais compra os títulos públicos", diz. "O governo está privilegiando a agenda eleitoral em
vez de combater a crise", critica
ele, candidato a deputado federal.
"No início do plano, os juros altos eram necessários para desestimular o consumo. Mas já a partir
de 95 o governo deveria ter mudado isso", diz Guido Mantega, um
dos formuladores do programa de
governo do candidato petista à
Presidência da República, Luiz
Inácio Lula da Silva.
Do ex-ministro Delfim Netto ao
economista Celso Martone, a elevação dos juros é vista com preocupação. Ela traz, dizem, consequências sérias.
A primeira é o estouro do déficit
público, que já está em patamares
considerados muito altos -acima
de 6% do PIB. Os economistas dizem que até 3% do PIB seria um
nível aceitável para um país em
desenvolvimento. O aumento da
dívida pública dificultaria o seu financiamento e espantaria ainda
mais os investidores.
A segunda é provocar recessão
numa economia que já está estagnada. A recessão, contudo, será
inevitável, pelo menos durante o
ano que vem, dizem vários dos
economistas ouvidos.
Apenas os representantes petistas opinam que num eventual governo Lula a aposta seria no crescimento. Os demais concordam
que o governo, qualquer que seja
ele (Lula ou FHC), terá de provocar uma redução da atividade econômica para solucionar a crise e
reorganizar a casa.
Para que o aumento dos juros
surta algum efeito, deveria vir
acompanhado de socorro externo.
Luciano Coutinho estima que seriam necessários cerca de US$ 18
bilhões de fora.
Já Delfim Netto aposta na possibilidade de negociação entre as
empresas brasileiras, que detêm
80% da dívida externa brasileira, e
seus credores.
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