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MERCADO TENSO
Para Prêmio Nobel de Economia, bolha especulativa atual pode ser maior do que aquela de há 69 anos
Crise em NY relembra 29,
diz Friedman
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
As coincidências são assustadoras. Depois de
sete anos de
crescimento
econômico e inflação baixa, os
norte-americanos estão eufóricos. Eles investem
suas economias em ações e ganham muito dinheiro com a valorização relâmpago dos papéis.
Economistas alertam para a formação de uma bolha especulativa
nas Bolsas de Valores, mas investidores retrucam que a alta das
ações se baseia em uma revolução
tecnológica na economia.
O presidente do Federal Reserve,
o BC dos EUA, preocupa-se com a
especulação desenfreada, mas não
se mexe, com medo de explodir a
bolha e afundar a economia.
A história poderia ser contada
em 1998, mas ocorreu em 1929 e
seu desfecho foi trágico. No dia
lembrado como o início do crash,
24 de outubro de 29, 11 investidores se suicidaram.
Os EUA afundaram numa recessão que durou uma década e tragou o resto do mundo. O preço
das ações atingiu o pico em 3 de
setembro de 29 e só se recuperou
em 26 de novembro de 54.
"Existem várias semelhanças
entre o mercado de 29 e o de hoje", disse à revista "New Yorker"
o Prêmio Nobel de Economia Milton Friedman. "Os dois são bolhas. Não tenho idéia das magnitudes de cada um, mas suspeito que
a de hoje é maior."
Até o presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, que não se
cansa de alertar sobre "a exuberância irracional" dos mercados,
comentou com economistas sua
preocupação com as semelhanças
entre os dois períodos.
Para os mais nervosos, a história
começou a se repetir nos últimos
dias. Na segunda-feira passada, as
ações despencaram mais de 6%
em Wall Street. Em dois meses, o
tombo nas cotações é de mais de
20%, a maior queda em oito anos.
Ninguém sabe onde vai parar o
estouro da bolha especulativa. As
projeções de mercado indicam
que o preço das ações está inflado
entre 30% e 40%. Mas apesar das
semelhanças com a tragédia de 29,
os economistas não apostam numa repetição da crise dos anos 30.
"A crise atual se espalha pelos
países em uma velocidade maior
do que a de 29, mas seus efeitos
são menos profundos. É pouco
provável que enfrentemos uma recessão igual à dos anos 30", diz o
ex-ministro da Fazenda Marcílio
Marques Moreira.
A dolorosa experiência de 29
serviu como lição para os governos. "O grau de informação dos
bancos centrais é muito maior do
que no passado. Poucas vezes se
analisou tanto uma crise como
agora", diz Odair Abate, economista do banco Lloyds.
A experiência já se mostrou útil
no crash de 87, quando as cotações
em Wall Street desabaram 22% em
um único dia. Alan Greenspan
acabara de assumir a presidência
do Federal Reserve, mas sua atuação foi decisiva.
No auge da crise, o então presidente Ronald Reagan mandou um
helicóptero buscar Greenspan para uma reunião na Casa Branca.
Greenspan baixou os juros e injetou dólares na economia dos EUA.
As medidas impediram que bancos e empresas quebrassem por
falta de recursos e limitaram os
efeitos do crash. Logo, o mercado
financeiro se recuperou e o preço
pago pelo socorro foi o aumento
da inflação devido ao derrame de
dinheiro na economia.
"Não há dúvida que a economia
mundial vai desacelerar, mas os
governos dos EUA e do Japão têm
instrumentos, como a queda dos
juros e a redução de impostos, para evitar uma grande recessão",
diz Abate.
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