São Paulo, domingo, 6 de setembro de 1998

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MERCADO TENSO
Para Prêmio Nobel de Economia, bolha especulativa atual pode ser maior do que aquela de há 69 anos
Crise em NY relembra 29,
diz Friedman

RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local


As coincidências são assustadoras. Depois de sete anos de crescimento econômico e inflação baixa, os norte-americanos estão eufóricos. Eles investem suas economias em ações e ganham muito dinheiro com a valorização relâmpago dos papéis.
Economistas alertam para a formação de uma bolha especulativa nas Bolsas de Valores, mas investidores retrucam que a alta das ações se baseia em uma revolução tecnológica na economia.
O presidente do Federal Reserve, o BC dos EUA, preocupa-se com a especulação desenfreada, mas não se mexe, com medo de explodir a bolha e afundar a economia.
A história poderia ser contada em 1998, mas ocorreu em 1929 e seu desfecho foi trágico. No dia lembrado como o início do crash, 24 de outubro de 29, 11 investidores se suicidaram.
Os EUA afundaram numa recessão que durou uma década e tragou o resto do mundo. O preço das ações atingiu o pico em 3 de setembro de 29 e só se recuperou em 26 de novembro de 54.
"Existem várias semelhanças entre o mercado de 29 e o de hoje", disse à revista "New Yorker" o Prêmio Nobel de Economia Milton Friedman. "Os dois são bolhas. Não tenho idéia das magnitudes de cada um, mas suspeito que a de hoje é maior."
Até o presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, que não se cansa de alertar sobre "a exuberância irracional" dos mercados, comentou com economistas sua preocupação com as semelhanças entre os dois períodos.
Para os mais nervosos, a história começou a se repetir nos últimos dias. Na segunda-feira passada, as ações despencaram mais de 6% em Wall Street. Em dois meses, o tombo nas cotações é de mais de 20%, a maior queda em oito anos.
Ninguém sabe onde vai parar o estouro da bolha especulativa. As projeções de mercado indicam que o preço das ações está inflado entre 30% e 40%. Mas apesar das semelhanças com a tragédia de 29, os economistas não apostam numa repetição da crise dos anos 30.
"A crise atual se espalha pelos países em uma velocidade maior do que a de 29, mas seus efeitos são menos profundos. É pouco provável que enfrentemos uma recessão igual à dos anos 30", diz o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira.
A dolorosa experiência de 29 serviu como lição para os governos. "O grau de informação dos bancos centrais é muito maior do que no passado. Poucas vezes se analisou tanto uma crise como agora", diz Odair Abate, economista do banco Lloyds.
A experiência já se mostrou útil no crash de 87, quando as cotações em Wall Street desabaram 22% em um único dia. Alan Greenspan acabara de assumir a presidência do Federal Reserve, mas sua atuação foi decisiva.
No auge da crise, o então presidente Ronald Reagan mandou um helicóptero buscar Greenspan para uma reunião na Casa Branca. Greenspan baixou os juros e injetou dólares na economia dos EUA.
As medidas impediram que bancos e empresas quebrassem por falta de recursos e limitaram os efeitos do crash. Logo, o mercado financeiro se recuperou e o preço pago pelo socorro foi o aumento da inflação devido ao derrame de dinheiro na economia.
"Não há dúvida que a economia mundial vai desacelerar, mas os governos dos EUA e do Japão têm instrumentos, como a queda dos juros e a redução de impostos, para evitar uma grande recessão", diz Abate.



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