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Com empresas baratas, fundos compram
Fundos de "private equity" vêem oportunidade de aquisição na crise de crédito que desvaloriza empresas não-financeiras
Brasil torna-se mercado mais atrativo para esse tipo de fundo, com capital nacional e estrangeiro, que elevam aquisições
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao longo das últimas e turbulentas semanas, o fundo de investimento Advent anunciou
aquisições no valor de R$ 2 bilhões. Especializado em investir em empresas fechadas, como são conhecidos os fundos
de "private equity", o Advent
levou para casa as redes Quero-Quero e Frango Assado.
As poucas notícias de movimentações positivas da economia vieram deles. A fabricante
de etanol Cosan recebeu aporte
de US$ 130 milhões do fundo
Gávea, que levou 30% do capital da Droga Raia. A construtora Even obteve R$ 150 milhões
do fundo Spinnaker.
"A crise está tornando os preços das empresas mais razoáveis", diz Patrice Etlin, responsável pelas operações da Advent no Brasil. "No primeiro semestre não fizemos transação
porque as empresas estavam
muito valorizadas. Agora, começam a entrar em patamares
razoáveis e estamos pondo a
máquina para rodar."
No meio da mais séria crise
de crédito das últimas décadas,
o "private equity" começa a ser
apontado como uma das poucas alternativas de capitalização das empresas.
Segundo o GVcepe (Centro
de Estudos em Private Equity e
Venture Capital da FGV), esses
fundos têm hoje, de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões para investir no país. "Os fundos estão
muito capitalizados, e a tendência é um maior número de
negócios tanto com empresas
de maior porte como no mercado de capitais", diz Cláudio
Furtado, diretor do GVcepe.
Ao contrário dos EUA, os
fundos de private no Brasil vivem a benesse de atuar em um
mercado atrasado em termos
de sofisticação de operações financeiras. Com aquisições altamente alavancadas, esses
fundos também vivem momento delicado nos países ricos.
"As firmas de "private equity"
e suas compras irresponsáveis
e altamente alavancadas de
empresas não serão poupadas",
escreveu recentemente o economista Nouriel Roubini.
Apesar de diversos especialistas dizerem que a situação
brasileira é completamente diferente, alguns efeitos poderão
ser sentidos no país.
Atraídos pelas comissões que
esse tipo de negócio gera, muitos bancos abriram seus próprios fundos de "private
equity". Com a crise de liquidez
e a necessidade de fazer caixa,
eles têm sofrido pressão para se
desfazer das participações.
É um mercado que se abre
para fundos que atuam no mercado secundário, como o Paul
Capital Partners, no Brasil há
um ano. Esse tipo de fundo
compra pedaços de fundos de
"private equity". "Temos quatro negócios em análise, e as
oportunidades estão começando a aparecer no país", diz Duncan Littlejohn, da Paul Capital.
Mesmo com a crise de liquidez internacional, os gestores
em fundos de private têm dito
que a procura por esse tipo de
investimento tem se mantido
alta entre investidores estrangeiros.
"Investir em ativos
reais, do setor produtivo, tem
apelo forte", diz Álvaro Gonçalves, sócio do fundo Stratus.
""Private equity", hoje, significa
tirar o dinheiro do vento."
Segundo Patrice Etlin, do
Advent, há interesse permanente de grandes investidores,
como fundos de pensão e soberanos, em novos "private equities" no mercado brasileiro.
"Em termos de atratividade
relativa, o Brasil está bem porque é menos volátil do que a
China", diz Littlejohn.
"A Rússia está fora de moda por questões políticas, e os retornos que
estão saindo do Brasil são muito bons. O ritmo das captações
pode diminuir, mas não parar."
Para os gestores de fundos, a
crise, na verdade, veio corrigir
uma distorção do mercado.
Com a abundância de capital,
muitas empresas ainda sem estrutura pulavam uma etapa em
sua formação e iam ao mercado
de capitais. "Há um ano e meio
empresas que não estavam
prontas iam ao mercado, estimuladas quase que vergonhosamente por bancos de investimento", diz Littlejohn. "Agora,
haverá correção no mercado de
capitais, que criará mais oportunidades aos private."
Colaborou TONI SCIARRETTA, da Reportagem Local
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