São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2008

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Com empresas baratas, fundos compram

Fundos de "private equity" vêem oportunidade de aquisição na crise de crédito que desvaloriza empresas não-financeiras

Brasil torna-se mercado mais atrativo para esse tipo de fundo, com capital nacional e estrangeiro, que elevam aquisições

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao longo das últimas e turbulentas semanas, o fundo de investimento Advent anunciou aquisições no valor de R$ 2 bilhões. Especializado em investir em empresas fechadas, como são conhecidos os fundos de "private equity", o Advent levou para casa as redes Quero-Quero e Frango Assado. As poucas notícias de movimentações positivas da economia vieram deles. A fabricante de etanol Cosan recebeu aporte de US$ 130 milhões do fundo Gávea, que levou 30% do capital da Droga Raia. A construtora Even obteve R$ 150 milhões do fundo Spinnaker.
"A crise está tornando os preços das empresas mais razoáveis", diz Patrice Etlin, responsável pelas operações da Advent no Brasil. "No primeiro semestre não fizemos transação porque as empresas estavam muito valorizadas. Agora, começam a entrar em patamares razoáveis e estamos pondo a máquina para rodar."
No meio da mais séria crise de crédito das últimas décadas, o "private equity" começa a ser apontado como uma das poucas alternativas de capitalização das empresas. Segundo o GVcepe (Centro de Estudos em Private Equity e Venture Capital da FGV), esses fundos têm hoje, de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões para investir no país. "Os fundos estão muito capitalizados, e a tendência é um maior número de negócios tanto com empresas de maior porte como no mercado de capitais", diz Cláudio Furtado, diretor do GVcepe.
Ao contrário dos EUA, os fundos de private no Brasil vivem a benesse de atuar em um mercado atrasado em termos de sofisticação de operações financeiras. Com aquisições altamente alavancadas, esses fundos também vivem momento delicado nos países ricos. "As firmas de "private equity" e suas compras irresponsáveis e altamente alavancadas de empresas não serão poupadas", escreveu recentemente o economista Nouriel Roubini. Apesar de diversos especialistas dizerem que a situação brasileira é completamente diferente, alguns efeitos poderão ser sentidos no país.
Atraídos pelas comissões que esse tipo de negócio gera, muitos bancos abriram seus próprios fundos de "private equity". Com a crise de liquidez e a necessidade de fazer caixa, eles têm sofrido pressão para se desfazer das participações.
É um mercado que se abre para fundos que atuam no mercado secundário, como o Paul Capital Partners, no Brasil há um ano. Esse tipo de fundo compra pedaços de fundos de "private equity". "Temos quatro negócios em análise, e as oportunidades estão começando a aparecer no país", diz Duncan Littlejohn, da Paul Capital. Mesmo com a crise de liquidez internacional, os gestores em fundos de private têm dito que a procura por esse tipo de investimento tem se mantido alta entre investidores estrangeiros.
"Investir em ativos reais, do setor produtivo, tem apelo forte", diz Álvaro Gonçalves, sócio do fundo Stratus. ""Private equity", hoje, significa tirar o dinheiro do vento." Segundo Patrice Etlin, do Advent, há interesse permanente de grandes investidores, como fundos de pensão e soberanos, em novos "private equities" no mercado brasileiro. "Em termos de atratividade relativa, o Brasil está bem porque é menos volátil do que a China", diz Littlejohn.
"A Rússia está fora de moda por questões políticas, e os retornos que estão saindo do Brasil são muito bons. O ritmo das captações pode diminuir, mas não parar." Para os gestores de fundos, a crise, na verdade, veio corrigir uma distorção do mercado. Com a abundância de capital, muitas empresas ainda sem estrutura pulavam uma etapa em sua formação e iam ao mercado de capitais. "Há um ano e meio empresas que não estavam prontas iam ao mercado, estimuladas quase que vergonhosamente por bancos de investimento", diz Littlejohn. "Agora, haverá correção no mercado de capitais, que criará mais oportunidades aos private."
Colaborou TONI SCIARRETTA, da Reportagem Local


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