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Brasil compra US$ 10 bi em bônus do FMI
País aumenta sua posição de credor do Fundo, mas não consegue elevar controle sobre uso de US$ 500 bi em recursos
Na prática, país fará só uma
alteração na composição de
suas reservas, pois dinheiro
continuará contabilizado
como recursos internacionais
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL
O Brasil se comprometeu ontem com o FMI (Fundo Monetário Internacional) a comprar
novos bônus do órgão equivalentes a US$ 10 bilhões. O objetivo é reforçar o caixa do Fundo
a fim de enfrentar a crise financeira internacional.
O país, porém, não conseguiu
vincular a injeção dos recursos
a um aumento de seu poder sobre um caixa de US$ 500 bilhões que o Fundo está levantando neste momento.
Com os demais países que
compõem o Bric (Rússia, Índia
e China), o Brasil quer ter poder de veto em relação à utilização desse dinheiro.
Reunião que ocorreria ontem para discutir o tema foi
cancelada por conta da resistência dos europeus. EUA e Japão apoiam a ideia dos Bric.
A compra dos bônus dá relevo à situação de credor que o
Brasil já tem na instituição. Foi
qualificada como "histórica"
por Guido Mantega (Fazenda).
"É uma mudança radical,
pois o Brasil em 2003 ainda era
devedor do FMI. Agora, somos
credores", disse o ministro ao
anunciar o acordo.
Como sócio e cotista do Fundo, o Brasil já tem cerca de US$
4,8 bilhões no órgão. O valor
equivalente a 3.036 bilhões de
DES (Direitos Especiais de Saque), a "moeda" do FMI composta por uma cesta que reúne
dólares, euros, libras e ienes.
Os bônus de US$ 10 bilhões
que o país compra agora também serão denominados em
DES. Terão prazo de dois anos e
rendimento anual de 0,25%.
Na prática, o país fará apenas
uma alteração na composição
de suas reservas, já que os US$
10 bilhões continuam contabilizados como recursos internacionais que o país detém.
O valor também não será necessariamente usado pelo Fundo, que faz uma contabilidade
trimestral entre empréstimos e
recebimentos para apurar
quanto tem em caixa.
No total, dezenas de países
devem reforçar o FMI com
mais US$ 500 bilhões ao longo
dos próximos meses, praticamente mais do que triplicando
o poder de fogo do Fundo.
Proporcionalmente ao tamanho de suas economias, o Brasil
vai ajudar o Fundo com muito
menos do que a China. Do total
do novo aporte, o país deve participar com 2%; os chineses,
com 10%. Os EUA entram com
US$ 100 bilhões (20%).
Os EUA também gostariam
que o Brasil transferisse esses
bônus para um outro fundo
mais flexível do FMI, chamado
NAB, em que a maioria dos países está pondo seu dinheiro.
Brasil, Rússia, Índia e China
estão condicionando essa
transferência ao NAB à exigência de que os Bric tenham uma
participação de 16% nas decisões relativas ao que fazer com
os US$ 500 bilhões.
Juntos, os Bric entrariam
com US$ 80 bilhões dos US$
500 bilhões (16%). Pelas regras
de governança do FMI, todas as
decisões devem ser aprovadas
por uma adesão mínima de
85% dos votos. Assim, os Bric
teriam poder de veto.
A exigência brasileira conta
com o apoio de Timothy Geithner , secretário do Tesouro dos
EUA -o maior sócio do Fundo
e único hoje com direito a veto,
pois tem 17% dos votos.
Os europeus são contra. Eles
são os que devem perder mais
poder na transferência de cinco
pontos percentuais do poder de
voto do Fundo (baseados nas
cotas de cada país) até janeiro
de 2011 -condição anterior do
Brasil para comprar os US$ 10
bilhões em bônus.
O reforço no capital do FMI
visa não apenas ter mais dinheiro para ajudar países em
dificuldades financeiras.
Durante a reunião de Istambul, os 186 países-membros do
Fundo deram sinal verde para o
Comitê Executivo do órgão começar a delinear um plano para
que o FMI passe a funcionar
como uma espécie de Banco
Central Mundial.
A ideia é que ele tenha caixa
suficiente para ajudar várias
economias em crise ao mesmo
tempo e para que seja diminuída a necessidade de os países
acumularem tantas reservas.
Nos últimos anos, as reservas
individuais somadas de vários
países saltaram de US$ 2 trilhões para US$ 8 trilhões.
O FMI acredita que os países
poderiam usar parte desse dinheiro em projetos de infraestrutura. A maioria dos governos aprova a iniciativa, mas
quer garantias de que possam
usar os recursos em caixa no
FMI automaticamente e sem
condicionalidades.
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