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LUÍS NASSIF
O gabinete paralelo do PSDB
A forma como transcorreu
a eleição de Lula abre, pela
primeira vez no país, a oportunidade de uma alternância concreta de propostas de governo.
Ou seja, um partido no poder,
testando suas idéias, e outro na
oposição, levantando alternativas exequíveis.
Esse espaço se abre agora porque, eleito o PT, desaparece o último núcleo das propostas inviáveis do país. Desde o início
da luta contra o regime militar,
a estratégia das diversas oposições -do PMDB ao PT- foi
brandir propostas inexequíveis,
sob a alegação de que bastaria
vontade política para viabilizá-las.
Agora governo, o PT será obrigado a cair na real, e o PSDB
não poderá repetir esse estilo de
oposição, por ter sido governo.
Essa situação abre espaço para
uma disputa inédita de propostas concretas. Abre-se novamente o mercado de idéias, devido à
necessidade dos partidos de levantar novos temas, novas bandeiras.
Das eleições emergem dois
partidos programáticos, o PT e o
PSDB, ambos evoluindo em torno de um ideário social-democrata e com capacidade de aglutinar quadros técnicos para
montar projetos de política pública. Curiosamente, no governo
Fernando Henrique Cardoso, o
potencial do PSDB foi sufocado
pela postura imperial do governo e pela visão inerte-liberal do
mundo. Foi um governo FHC,
não um governo PSDB.
Essa postura acabou paralisando o PSDB. Pior, dos anos 80
até o Real, houve o franco predomínio ideológico dos macroeconomistas, fortalecidos pela
mística dos planos econômicos.
Nos anos 90 ocorre um "aggiornamento" cultural no país,
novos conceitos que mudam a
vida das empresas e de setores
específicos, como a bandeira da
gestão, da inovação, do planejamento estratégico, das políticas
públicas inovadoras, as novas
formas de relacionamento entre
entes públicos no federalismo,
as negociações internacionais.
No entanto o debate nacional
girou exclusivamente em torno
de metas de superávit fiscal, política monetária, temas que ocuparam espaço desproporcional
no debate público e na mídia.
De certo modo, a fragilidade
econômica atual do país acabou
fazendo com que a campanha
eleitoral não conseguisse escapar desse círculo vicioso. Agora,
com o país se afastando um
pouco do epicentro da crise, é
possível que se rompa esse esquematismo de idéias e ocorra a
competição virtuosa entre PSDB
e PT.
O PT terá o governo federal
para colocar suas idéias em prática. Provavelmente o PSDB irá
montar um "shadow gabinet",
um gabinete paralelo que defenda propostas alternativas às do
PT. Além disso, poderá colocar
tais idéias em prática em alguns
grandes Estados, nos quais se
saiu vitorioso. Especialmente os
governos de São Paulo e Minas
Gerais têm a obrigação de montar secretarias com status de ministério e ousar políticas públicas inovadoras e de fôlego.
Temas para a nova agenda:
Inovação e tecnologia: nos
próximos anos, o governo que
conseguir articular políticas eficientes nessa área, juntando
pesquisadores e área privada,
articulando pequenas empresas
e multiplicando experiências setoriais bem-sucedidas, terá bandeira das mais relevantes. O aumento da exportação deverá ser
o centro dessas políticas.
Gestão pública: ainda são
muito tímidas as experiências
de gestão pela qualidade e uso
da tecnologia no setor público e
privado. Já existem políticas estaduais no Rio Grande do Sul
(comprometida pelos xiitas de
Olívio Dutra) e no Rio de Janeiro. Há a experiência vitoriosa de
governo eletrônico em São Paulo. Mas existe potencial enorme
para práticas públicas inovadoras.
Ação social: a melhor herança
dos anos FHC foi a criação de
um novo padrão de ação social
pública, graças ao trabalho de
dona Ruth Cardoso. O modelo
do Comunidade Solidária se
tornou padrão vitorioso. Depois, experiências de várias
ONGs conseguiram desenvolver
um padrão no qual estão definidos o papel dos vários agentes. A
ONG testa a experiência social,
padroniza, define indicadores e
os agentes que podem se multiplicar pelo país. Esses agentes
podem ser parceiros privados ou
públicos.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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