São Paulo, sábado, 06 de novembro de 2004

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COMÉRCIO EXTERIOR

Presidente Hu Jintao trará ao Brasil comitiva com cerca de 200 empresários e será recebido por Lula

Dirigente chinês vem ao país debater parceria

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

Acompanhado de no mínimo 500 pessoas, o presidente Hu Jintao inicia na quinta-feira a mais importante visita de um dirigente chinês ao Brasil, seis meses depois de receber em Pequim o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Hu disse ontem ao embaixador do Brasil na China, Luiz Augusto de Castro Neves, esperar que a visita consolide a chamada parceria estratégica entre os dois países.
Do lado chinês, a "parceria" está refletida em gestos simbólicos: o Brasil será o primeiro de quatro países que Hu visitará na América Latina e aquele em que ele ficará por mais tempo.
Em contrapartida, o presidente chinês espera que seu colega brasileiro reconheça formalmente a China como uma economia de mercado, apesar do peso da atuação do Estado. Esse é o principal objetivo de Hu, que conta com a pressão adicional das 24 empresas chinesas que integram o Conselho Empresarial Brasil-China, quase todas estatais.
Por enquanto, 22 dos 148 países que compõem a OMC (Organização Mundial do Comércio) reconheceram a China como economia de mercado, dos quais o mais importante é a Austrália.
A concessão à China desse status está longe de ter efeito apenas retórico. Ela significa a aceitação da tese de que os preços chineses são formados de acordo com as forças de mercado e não sofrem distorções de intervenções estatais na economia.
A conseqüência prática mais importante é a maior dificuldade na aplicação de medidas antidumping por parte do país que concede à China o status de economia de mercado.
O país asiático manteve no primeiro semestre do ano o primeiro lugar no ranking de países-alvo de medidas antidumping -que são restrições a importações sob o argumento de que os preços praticados estão artificialmente inferiores aos de mercado.
O embaixador Castro Neves disse que o governo está estudando o assunto e que ainda não há nenhuma decisão. O Brasil também sofrerá pressão pelo fato de que o Chile concederá o status de economia de mercado à China durante a visita de Hu Jintao ao país, depois de sua passagem pelo Brasil e Argentina.
O presidente chinês chegará a Brasília na tarde da quinta-feira, com uma comitiva que ocupará dois Boeings 747 e na qual estarão pelo menos 200 empresários.
No dia seguinte, terá encontro reservado com Lula, discursará em uma sessão conjunta do Congresso Nacional e será homenageado com um banquete no Itamaraty. Antes do jantar, Hu e Lula encerrarão seminário empresarial que terá como tema a parceria estratégica dos dois países.
No sábado, Hu receberá representantes da comunidade chinesa no Brasil e participará de almoço na Granja do Torto, no qual haverá dez convidados de cada país.
Em Brasília, serão assinados os acordos que os dois lados conseguirem concluir antes da visita. Por enquanto, há cinco prontos para serem assinados, dos quais os mais importantes são o que amplia de quatro para cinco o número de satélites que serão lançados em conjunto pelos dois países e o que prevê cooperação industrial nas áreas siderúrgica e sucroalcooleira.
Segundo Castro Neves, esse último acordo abre a perspectiva de exportação de álcool etanol do Brasil para a China, país que enfrenta serias restrições energéticas e problemas ambientais.
Também será assinado o documento que classifica o Brasil como Destino Turístico Autorizado para os chineses, o que facilita a concessão de vistos. Os demais acordos são o tratado de extradição e o de cooperação no combate a crimes transnacionais.
Outros quatro textos estão sendo negociados e podem não estar prontos antes da visita. Para o Brasil, o mais relevante é o que autoriza a exportação de carne bovina e de frango para a China.
Depois de Brasília, Hu Jintao irá ao Rio, onde se encontra com a governadora Rosinha Matheus e o secretário licenciado de Segurança Pública, Anthony Garotinho, que também vão homenageá-lo com um banquete.
O presidente chinês terá seu dia de turista no domingo, 14, quando visitará o Corcovado e andará de barco pela baía da Guanabara. À tarde ele embarca para São Paulo, onde na segunda-feira terá encontro com o governador Geraldo Alckmin, também seguido de banquete. Hu deixa o Brasil na manhã do dia 16, em direção a Buenos Aires. Depois, visitará o Chile, onde participará de reunião da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico), e Cuba.

Importância
Ampliar as relações comerciais com os chineses é um desejo difundido por todo o planeta praticamente. Afinal, apesar das medidas restritivas adotadas pelo governo local neste ano, a economia da China cresceu 9,5% nos nove primeiros meses de 2004 em relação ao mesmo período de 2003. O país é um dos maiores compradores de produtos agrícolas e de insumos.
Tanto que, na época de sua viagem à China, no início deste ano, o presidente Lula disse que o país era uma "espécie de shopping de oportunidades" para a realização de bons negócios.


Com a Redação

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