São Paulo, sábado, 06 de novembro de 2004

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Investimento asiático depende de ação do Brasil

DE PEQUIM

O aumento dos investimentos chineses no Brasil dependem em parte de o país adotar a decisão de reconhecer a China como uma economia de mercado plena. Esse é o recado do presidente do lado chinês do Conselho Empresarial Brasil-China, Miao Gengshu, na véspera da viagem do presidente Hu Jintao ao Brasil.
Criado em maio, durante a visita de Lula à China, o conselho reúne grandes empresas de ambos os países e é comandado do lado brasileiro pelo presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli.
A China está em uma campanha internacional para obter o reconhecimento como uma economia de mercado, que pode ser dado individualmente pelos países que assim o desejarem. A contar de seu ingresso na OMC (Organização Mundial do Comércio), em 2001, a China poderá ser considerada pelo período de 15 anos como uma economia na qual as regras de mercado não prevalecem.
"As empresas chinesas têm receio de que, no comércio e em seus investimentos no Brasil, elas não sejam tratadas de maneira justa", disse Miao, que também é presidente da estatal Minmetals, o sexto maior grupo empresarial chinês. Miao estará entre os 200 empresários que acompanharão Hu em sua visita ao Brasil.
Os países que reconhecem a China como uma economia de mercado têm mais dificuldades em aplicar medidas antidumping contra o país. Por enquanto, cerca de 20 dos 148 países da OMC concederam esse status ao país asiático. A seguir, trechos da entrevista de Miao à Folha. (CT)
 

Folha - Na visita de Lula à China, em maio, foram anunciados investimentos chineses no Brasil, especialmente na área de infra-estrutura, mas eles não foram implementados. O que está atrasando?
Miao Gengshu -
Alguns projetos ainda estão sendo negociados. Outros foram concluídos. A Minmetals, por exemplo, já concluiu acordos para suprir tecnologia para fábricas de aço. Mas é claro que algumas empresas têm preocupações. A China entrou na OMC e muitos países do mundo já deram ao país o status de economia de mercado, mas o Brasil, um parceiro estratégico, ainda não reconheceu a China como uma economia de mercado plena.
Por isso, as empresas chinesas têm receio de que, no comércio e em seus investimentos no Brasil, elas não sejam tratadas de maneira justa, e esperam que esse problema seja resolvido durante a visita do presidente Hu Jintao.

Folha - Mas a China tem investimentos em outros países, como EUA, que também não a reconhecem como uma economia de mercado. Por que essa preocupação específica em relação ao Brasil?
Miao -
Os Estados Unidos não vêem a China como um parceiro estratégico, mas como um concorrente estratégico.

Folha - Na condição de parceiro, o Brasil deveria ter maior comprometimento com a China?
Miao -
Não há conflitos de interesse político entre Brasil e China, os dois povos têm relações amistosas e os altos funcionários governamentais têm contatos estreitos. Alguns anos atrás, ambos os governos anunciaram que os dois países são parceiros estratégicos. Durante sua visita à China, Lula prometeu que o Brasil iria conceder à China o status de economia de mercado. Mas, até agora, não recebemos confirmação disso.

Folha - O sr. diria que o aumento de investimentos chineses no Brasil depende do reconhecimento por parte do Brasil do status de economia de mercado da China?
Miao -
As duas coisas estão relacionadas. Se há um reconhecimento mútuo do status de economia de mercado, as empresas de ambos os países podem ter um ambiente justo de concorrência.


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