São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2005

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LUÍS NASSIF

O café society

Um livro esquecido de 1956, da Editora Civilização Brasileira, traz elementos preciosos sobre a elite brasileira no início dos anos 50, período em que se consolidaram grandes grupos nacionais. Foi escrito por José Mauro Gonçalves, mineiro de Mariana, contratado durante ano e meio como colunista social do "Diário de Notícias". Ele tinha particularidades curiosas para um colunista social: detestava a vida mundana.
José Mauro dividia a elite carioca da época em seis tribos.
Na frente, os "horse-ligne", os pequenos círculos dos estabilizados, altas figuras dos meios sociais, políticos e econômicos, que perduram por duas ou três gerações. O cronista colocava nesse time E.G. Fontes (banqueiro), Raimundo Castro Maya, João Borges Filho e Eugênio Gudin. Incluía Raul Fernandes, tratado como "famoso internacionalista que se enriqueceu sobretudo com causas nacionais", o embaixador Maurício Nabuco, o empresário têxtil Guilherme da Silveira e os três Guinle -Guilherme, Carlos e Otávio.
Em seguida, vinha o "café society", que começou a ser moldado nos tempos do Cassino da Urca. Era um pessoal mais festivo e informal, uma espécie de geração Daslu da época. Os mais proeminentes eram Álvaro Catão, Carlos Eduardo "Didu" de Sousa Campos, Vicente Galliez, Horácio Klabin, Otacílio Gualberto de Oliveira, João Saavedra, Jorge Guinle, Teodoro Eduardo Duvivier e Fernando Delamare.
Um grupo menor era o "salon société", formado pelos herdeiros das tradições dos cafés literários da França, um tanto pernósticos. Em posição mais favorável estavam os intelectuais, de poetas como Vinicius de Moraes a humoristas como Millôr Fernandes, pintores como Portinari e Di Cavalcanti, arquitetos como Niemeyer e Lúcio Costa.
O grupo dos poderosos era chamado de "big shots" ou "tycoons", conhecidos por seu poder econômico, pela liquidez de suas finanças e, alguns, também pelo charme.
Dois dos mais ilustres eram o paulista José Carlos de Macedo Soares e Horácio Lafer. Entre os de prestígio eminentemente político, incluía Apolônio Sales, Israel Pinheiro, Francisco Negrão de Lima, senador Juracy Magalhães, senador Lourival Fontes, ministro José Maria Alckmin.
Havia "big shots" nordestinos, como Oton Bezerra de Mello Filho, que, com seus irmãos Artur e Luis, dominava setores como hotelaria, tecidos, usinas de açúcar. Nos setores de terraplanagem e rodoviarismo, imperavam Cincinato Braga e Mário Tamborindeguy.
O empresário com melhores relações com os Estados Unidos era Valentim Bouças, ligado ao grupo Holleryth, que recebia polpudos royalties do serviço público. Havia os "big shots" da hotelaria, como Joaquim Rolla, criador do Cassino da Urca.
Os Klabin já se destacavam por sua produção de celulose no Paraná. em São Paulo, no Rio e em Minas. O presidente da Panair era Argemiro Hungria, ligado à Murray e Simonsen, que detinha representações de automóveis, máquinas em geral, papéis suecos e finlandeses.
A.J. Peixoto de Castro era o líder do seu grupo, cuja origem estava na concessão da Loteria Federal. De lá investiram na Refinaria de Manguinhos. Havia também Antonio Sánchez de Larragoitti Júnior, da Sul América, e o Monteiro Aranha -sociedade dos Monteiro de Carvalho e de Olavo Egydio de Souza Aranha-, com ligação com capitais franceses, investimento em vidro, automóveis (Volkswagen).
Um dos grupos mais poderosos eram os Soares Sampaio, donos da Refinaria Capuava, a maior do país, além de fábricas de cimento, de pneus. O líder era Alberto, mais os irmãos João, Álvaro e Bento. Havia representantes de multinacionais, como Sigmund Weiss, da Mannesmann.
O cronista culminava sua relação com o grupo Moreira Salles. Mencionava João, que fundou o banco. Depois, Valter, que ampliou as atividades para os setores industriais, agrícolas, dono de uma liquidez monetária imensa. Eram pessoas ligadas ao grupo Eduardo Ramos (casado com uma filha de Antonio Prado Junior), Pedro de Perna, Aluisio Sales e Nelson Batista, além de San Tiago Dantas e outros "big shots" famosos.
A última tribo era a dos golpistas. Por prudência, não indicou nomes nacionais.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br

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