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TRIBUTAÇÃO
Depois da "MP do Bem", governo agora enfrenta dificuldades para aprovar mudanças no fisco
MP da "Super-Receita" corre risco de naufragar
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois do susto provocado pela
"MP do Bem", mais uma medida
provisória considerada prioritária pela área econômica do governo corre o risco de naufragar no
Congresso: a MP 258, que criou a
chamada "Super-Receita".
Editada em julho como parte de
um "choque de gestão" na administração pública, a medida une
na nova Receita Federal do Brasil
as estruturas de fiscalização e arrecadação dos ministérios da Fazenda e da Previdência Social,
num processo que só estará concluído em agosto de 2006.
Parado na Câmara desde então,
o texto completará 120 dias e deixará de vigorar se não for aprovado por deputados e senadores nos
próximos dias -a exemplo do
que aconteceu com a "MP do
Bem", cujos benefícios tributários
tiveram de ser transferidos para
uma outra MP, que, ainda assim,
só foi aprovada a 15 minutos do
encerramento da última sessão
em que seria possível a votação.
"Essa medida vai expirar", prevê o deputado Pauderney Avelino
(PFL-AM), um dos principais negociadores da oposição em temas
econômicos. "O prazo é curto, a
agenda política está carregada, e a
base do governo está rachada."
A polêmica em torno da MP foi
detonada pelos conflitos entre as
corporações ligadas ao fisco. Técnicos da antiga Receita Federal,
cujo salário inicial é de R$ 3.900
iniciais, querem status e vencimentos comparáveis aos dos auditores fiscais, cujo salário inicial é
de R$ 7.700. Já os procuradores da
Previdência reivindicam os poderes dos auditores de fazer a cobrança de tributos.
Os servidores reclamam da criação da "Super-Receita" por medida provisória, instrumento legal
que entra em vigor imediatamente, em vez do uso de projeto de lei,
como era a intenção inicial do governo. A oposição e boa parte dos
aliados ao Palácio do Planalto encamparam essa visão, o que pode
levar a MP a ser rejeitada já no
exame de sua urgência e relevância, antes da análise de mérito.
"Nós defendemos que as Receitas [fazendária e previdenciária]
se unam, porque isso é importante para o país. Mas queremos que
as categorias tenham a oportunidade de expressar suas dificuldades", diz Avelino.
"Trem da alegria"
Para contornar as resistências
dos servidores e dos partidos aliados mais ligados ao sindicalismo,
a começar pelo PT, o governo
passou a acenar com concessões:
novos planos de carreira e oportunidades profissionais poderão
ser introduzidos na própria MP
ou em um projeto à parte.
Tal possibilidade gerou reação
do influente Unafisco, o sindicato
que representa os auditores
(7.700 na ativa), os únicos servidores, hoje, com competência legal para aplicar autos de infração
aos contribuintes. A categoria vai
parar nos próximos dias para
pressionar a Câmara a evitar o
que chama de "trem da alegria".
Também já se posicionaram
contra a MP entidades como a
OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil), a Força Sindical e a Associação Comercial de São Paulo.
Mais discreto nas pressões, o empresariado teme que a "Super-Receita" se torne um instrumento de
arrocho tributário.
Na Câmara, um abaixo-assinado chegou a reunir cerca de 200
deputados governistas e de oposição para pedir ao governo a retirada de pauta da MP. Um dos articuladores da iniciativa, o petista
Tarcísio Zimmermann (RS), hoje
avalia que a negociação pode viabilizar a medida. "A MP está pela
bola sete, mas o [Jorge] Rachid
[secretário da Receita Federal]
passou a negociar. Acho que ele
percebeu que a situação estava ficando ameaçadora", diz.
Confronto com a oposição
Nesta semana, o governo terá de
partir para uma linha de ação que
tem sido evitada ao máximo desde o início do mandato do presidente Lula: um confronto aberto
com a oposição no plenário da
Câmara -e, depois, no Senado,
para onde seguirá a MP se for
aprovada pelos deputados.
Embora tenha maioria teórica
no Congresso, o Planalto não pode contar com a coesão de sua base, especialmente após o agravamento da crise política gerada pelas denúncias de corrupção. Por
isso, a praxe é fechar acordos com
PSDB e PFL antes das votações, o
que será praticamente impossível
no caso da "Super-Receita".
"Não creio que a oposição vá ceder", calcula o líder do governo na
Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). "Mas a base aliada tem número para vencer no voto."
Um estudo da empresa de consultoria Tendências aponta que,
neste ano, a fragilidade política
tem impedido o Planalto de impor sua agenda ao Congresso, levando até à redução do número
de MPs editadas. Neste ano, até
agora, foram 42, contra 58 em
2003 e 73 em 2004.
"A julgar pelo desenrolar recente da crise, o padrão minimalista
de edição de medidas provisórias
pelo governo Lula deve continuar
não apenas no último trimestre
de 2005 mas possivelmente também ao longo de todo o ano de
2006. Com base nesse indicador,
portanto, pode-se constatar que o
governo vem governando cada
vez menos", diz a Tendências.
(GUSTAVO PATU)
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