São Paulo, sexta-feira, 06 de dezembro de 2002

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CRISE NA AL

Motivo seria conflito com Lavagna; Duhalde quer que Pignanelli volte atrás

Presidente do Banco Central da Argentina pede renúncia

MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES

O presidente do Banco Central da Argentina, Aldo Pignanelli, apresentou ontem sua renúncia ao presidente Eduardo Duhalde. Pignanelli, que mantém uma relação conflituosa com o ministro da Economia, Roberto Lavagna, teria decidido renunciar depois de o ministro tê-lo desautorizado publicamente várias vezes.
O presidente Duhalde, que deixaria a Argentina com destino ao Brasil, pediu que Pignanelli reconsiderasse a decisão. Ontem à noite, o presidente demissionário do BC argentino reuniu-se com Alfredo Atanasof, o chefe de Gabinete de Ministros.
As relações entre o Ministério da Economia e o Banco Central sempre foram tensas. O último presidente, Mario Blejer, deixou o cargo em junho, também por causa dos conflitos com o ministro Lavagna.
Nas últimas semanas, os dois funcionários trocaram farpas publicamente em várias ocasiões. Tanto Lavagna quanto Pignanelli reclamavam para si a paternidade da relativa estabilidade econômica que o país teria atingido.
O primeiro grande conflito ocorreu em agosto, quando Lavagna ameaçou pedir demissão e o presidente Duhalde acabou repreendendo o chefe do BC. Em novembro, Pignanelli deixou claro que se opunha à decisão tomada por Duhalde e por Lavagna de não pagar um empréstimo de US$ 805 milhões do Banco Mundial. O último conflito ocorreu por conta da possibilidade de a Corte Suprema declarar a pesificação -medida que converteu para pesos dívidas e depósitos em dólares- inconstitucional. Tal decisão obrigaria os bancos a devolver os depósitos em dólares ou à taxa de câmbio atual, e não a 1,40 peso por dólar, como prevê a medida de pesificação.
Pignanelli afirmou que uma saída para enfrentar o impacto dessa possível decisão da Corte seria entregar títulos públicos de longo prazo aos investidores beneficiados pela "redolarização". Lavagna o desautorizou publicamente, afirmando que a solução teria um custo muito alto para o Estado.
Na Economia, não são raros os momentos em que as atitudes do BC são encaradas como boicote à conjuntura atingida pelo país. Pignanelli entrou no BC em 1998, por indicação do então presidente e atual pré-candidato à Presidência Carlos Menem (1989-1999).
Lavagna já teria afirmado várias vezes que alguns setores do governo argentino teriam sido "capturados" por grupos com interesses particulares. Entre esses setores estaria o Banco Central, que responderia mais aos interesses dos bancos e de Menem do que aos do governo.

Sem FMI
O presidente Eduardo Duhalde afirmou ontem que não tinha "nada para falar" com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Duhalde viajou ontem para o Brasil, onde também estaria Horst Köhler, diretor-gerente do Fundo.
De acordo com o presidente, que afirmou que não havia nenhuma reunião agendada com Köhler, poderia haver algum encontro informal com o diretor-gerente do FMI. Mas Duhalde ressaltou que não tinha "nada que conversar neste momento porque toda a [discussão] técnica está acertada".


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