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CRISE NA AL
Motivo seria conflito com Lavagna; Duhalde quer que Pignanelli volte atrás
Presidente do Banco Central da Argentina pede renúncia
MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES
O presidente do Banco Central
da Argentina, Aldo Pignanelli,
apresentou ontem sua renúncia
ao presidente Eduardo Duhalde.
Pignanelli, que mantém uma relação conflituosa com o ministro da
Economia, Roberto Lavagna, teria decidido renunciar depois de o
ministro tê-lo desautorizado publicamente várias vezes.
O presidente Duhalde, que deixaria a Argentina com destino ao
Brasil, pediu que Pignanelli reconsiderasse a decisão. Ontem à
noite, o presidente demissionário
do BC argentino reuniu-se com
Alfredo Atanasof, o chefe de Gabinete de Ministros.
As relações entre o Ministério
da Economia e o Banco Central
sempre foram tensas. O último
presidente, Mario Blejer, deixou o
cargo em junho, também por causa dos conflitos com o ministro
Lavagna.
Nas últimas semanas, os dois
funcionários trocaram farpas publicamente em várias ocasiões.
Tanto Lavagna quanto Pignanelli
reclamavam para si a paternidade
da relativa estabilidade econômica que o país teria atingido.
O primeiro grande conflito
ocorreu em agosto, quando Lavagna ameaçou pedir demissão e
o presidente Duhalde acabou repreendendo o chefe do BC. Em
novembro, Pignanelli deixou claro que se opunha à decisão tomada por Duhalde e por Lavagna de
não pagar um empréstimo de
US$ 805 milhões do Banco Mundial. O último conflito ocorreu
por conta da possibilidade de a
Corte Suprema declarar a pesificação -medida que converteu
para pesos dívidas e depósitos em
dólares- inconstitucional. Tal
decisão obrigaria os bancos a devolver os depósitos em dólares ou
à taxa de câmbio atual, e não a
1,40 peso por dólar, como prevê a
medida de pesificação.
Pignanelli afirmou que uma saída para enfrentar o impacto dessa
possível decisão da Corte seria entregar títulos públicos de longo
prazo aos investidores beneficiados pela "redolarização". Lavagna
o desautorizou publicamente,
afirmando que a solução teria um
custo muito alto para o Estado.
Na Economia, não são raros os
momentos em que as atitudes do
BC são encaradas como boicote à
conjuntura atingida pelo país.
Pignanelli entrou no BC em 1998,
por indicação do então presidente
e atual pré-candidato à Presidência Carlos Menem (1989-1999).
Lavagna já teria afirmado várias
vezes que alguns setores do governo argentino teriam sido "capturados" por grupos com interesses
particulares. Entre esses setores
estaria o Banco Central, que responderia mais aos interesses dos
bancos e de Menem do que aos do
governo.
Sem FMI
O presidente Eduardo Duhalde
afirmou ontem que não tinha
"nada para falar" com o FMI
(Fundo Monetário Internacional). Duhalde viajou ontem para
o Brasil, onde também estaria
Horst Köhler, diretor-gerente do
Fundo.
De acordo com o presidente,
que afirmou que não havia nenhuma reunião agendada com
Köhler, poderia haver algum encontro informal com o diretor-gerente do FMI. Mas Duhalde ressaltou que não tinha "nada que
conversar neste momento porque
toda a [discussão] técnica está
acertada".
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