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Argentina acusa Shell de deixar faltar diesel e multa empresa
Governo Kirchner usa lei criada em 1974 e revogada, em parte, por Menem
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
O governo argentino multou
a Shell em 23 milhões de pesos
-R$ 16,3 milhões- por entender que a empresa deixou faltar
óleo diesel em seus postos de
gasolina no país. A companhia é
a primeira petroleira a ser autuada após o presidente Néstor
Kirchner "ressuscitar", especificamente para o setor de combustíveis, a chamada Lei de
Abastecimento, criada em 1974
por Juan Domingo Perón e revogada em parte em 1991 pelo
governo de Carlos Menem.
Em um cenário de escassez
de diesel no país, Kirchner decidiu aplicar a norma ao setor
para obrigá-lo a vender ao mercado interno antes de exportar.
Para especialistas, a falta do
combustível foi causada pela
proibição estatal de reajustar
preços, que desestimula os investimentos.
A Shell informou que tomará
providências legais para impedir a cobrança. Em nota, ela sugeriu ser vítima de "flagrante
discriminação" em relação às
concorrentes. "A Shell foi exposta a um número importante
de inspeções e requerimentos
de informação de forma exaustiva, situação que, segundo nosso conhecimento, não ocorreu
nas demais empresas."
É antiga a briga de Kirchner
com a empresa. Em setembro, a
Shell foi obrigada a retirar do
mercado um diesel "premium",
com preço 10% mais alto. Reclamando de aumentos, em
março de 2005, Kirchner pediu
que a população não comprasse
"nem uma lata de óleo" da empresa -as vendas caíram 60%.
Inflação e greve rural
O governo também reagiu
duramente à greve do setor
agropecuário, que desde domingo protesta contra a política de controle de preços por
considerá-la "excessivamente
intervencionista". Kirchner
enviou gado de abastecimento
próprio das Forças Armadas
aos mercados.
Para o Centro de Educação
do Consumidor, há risco de faltar carne e os cortes mais consumidos podem subir 100%. O
setor alega prejuízos de US$
766 milhões com o congelamento e as retenções sobre a
exportação.
Kirchner congelou os preços
dos produtos com maior impacto no IPC (Índice de Preços
ao Consumidor) -quer terminar o ano com inflação de um
dígito. O IPC de novembro, divulgado ontem, ficou em 0,7%,
e o acumulado do ano é de 8,7%.
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