São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2004

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SOCORRO

Produtores de leite afetados pela crise poderão receber crédito do BNDES

Fornecedores da Parmalat devem ter ajuda do governo

Lula Marques/Folha Imagem
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues (esq.), em reunião com parlamentares e representantes de cooperativas e da Parmalat


LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal decidiu intervir na repercussão da crise da Parmalat sobre o mercado de leite brasileiro. Até sexta-feira, será feita uma proposta de ajuda aos produtores afetados.
O ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) disse ontem que estão sendo estudadas medidas desde o financiamento pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para pequenos fornecedores até a compra de leite em pó que tem sido utilizado no pagamento das dívidas da Parmalat.
Em reunião ocorrida ontem entre cooperativas, Ministério da Agricultura e representantes da Parmalat foi criada uma comissão mista que deverá apresentar um relatório com diagnóstico da situação do setor e da empresa -a multinacional italiana enfrenta grave crise desde a descoberta de fraudes em seu balanço, que levaram seu fundador à cadeia. A partir do estudo, será feita a proposta de quanto será gasto pelo governo ou quais medidas serão tomadas.
"Estamos preocupados com o efeito dominó que a crise da Parmalat pode causar no setor", disse Rodrigues. A empresa responde pela compra de apenas 1 bilhão de litros dos 22 bilhões produzidos no país por ano. Mas a situação pode desestabilizar o setor.
Segundo Amauri Dimarzio, secretário-executivo do Ministério da Agricultura, o presidente do BNDES, Carlos Lessa, afirmou que a instituição poderá fazer os investimentos necessários no setor. O governo ainda pode facilitar o acesso do pequeno produtor ao EGF (Empréstimo do Governo Federal). A idéia é que as cooperativas possam utilizar o financiamento para arrendar as máquinas da Parmalat e processar o leite.
Representantes de cooperativas afirmaram que a Parmalat tem pago sua dívida com produtores com leite em pó, principalmente em Goiás. O governo estuda comprar essa mercadoria para programas como o Fome Zero.
Segundo Jacques Contijo, presidente da Câmara de Leite da Organização de Cooperativas do país, este é um período crítico para o setor, pois é de pico da produção no ano, quando a maior parcela é vendida e o preço oscila.
Cerca de 10% dos fornecedores, diz ele, já estão recebendo entre R$ 0,30 e R$ 0,35 por litro de leite, abaixo do preço mínimo de mercado (R$ 0,38). "A situação pode piorar os preços."
Das 320 cooperativas do país, 20 delas são afetadas diretamente pela crise da Parmalat. É o caso da cooperativa de Itaperuna (RJ), que vende 80% de sua produção para a Parmalat. Moacyr Vieira Serodi, presidente da entidade, afirma que a empresa deve para 11 cooperativas do noroeste do Rio de Janeiro cerca de R$ 2,3 milhões, referentes ao pagamento de novembro. A conta de dezembro, que vence nesta semana, somará mais R$ 5 milhões ao montante.
Para o ministério, outros três Estados sofrerão um efeito maior da crise da empresa: Paraná, Pernambuco e Rio Grande do Sul.
Afonso Champ, gerente de comunicação da Parmalat, afirma que a dívida não ultrapassa 5% da compra de leite da empresa. Segundo ele, a montante é de R$ 1,5 milhão. "A situação deve ser resolvida em breve", disse.


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