São Paulo, quarta-feira, 07 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Caem os pedidos ao setor de bens de capital

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com estoques elevados e queda na carteira de pedidos, o setor industrial deve passar os primeiros meses do ano com produção em queda.
A indústria de bens de capital, por exemplo, já relata redução de encomendas e prevê problemas operacionais em março. No mês de dezembro, os pedidos de máquinas e equipamentos caíram mais de 20%, segundo o vice-presidente da Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos), José Velloso.
Para ele, a queda de 4% na produção de bens de capital em novembro contra outubro, registrada pelo IBGE, deve ter sido maior em dezembro. "Houve uma paralisação completa dos pedidos no mês passado, o que é muito preocupante. Se essa situação se repetir em janeiro e fevereiro, a indústria não terá como sustentar o atual nível de empregos em março."
Velloso afirma que a indústria trabalha atualmente com as encomendas feitas antes da crise global, agravada em outubro. "Estamos queimando carteira de pedidos e não há indicações de que haverá mais encomendas. A indústria está atendendo aos pedidos antigos, mas deve sofrer uma parada repentina nos próximos meses."
Entre os segmentos representados pela Abimaq que vêm enfrentando queda mais significativa na carteira de pedidos, está o de máquinas têxteis e de máquinas agrícolas, com declínio de até 40%.
O setor sucroalcooleiro é hoje um dos mais atingidos pela crise, com cancelamento de pedidos e aumento na inadimplência, afirma Velloso. No setor de mineração, apenas as encomendas confirmadas antes da crise foram mantidas. O mesmo ocorre com o setor siderúrgico.
Para a indústria de bens de capital, o risco de uma parada só deixará de preocupar quando o nível de pedidos voltar ao patamar anterior à crise. "Isso pode demorar muito tempo", afirmou.

Estoques
De acordo com Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, a indústria aproveitou os últimos meses do ano passado para queimar estoques. "A ordem foi vender sem produzir", afirmou.
No ciclo tradicional da indústria e do varejo, diz Gomes de Almeida, a queima de estoques prossegue até março, quando recomeçam os pedidos. Neste ano, porém, as encomendas devem sofrer um adiamento.
Do lado da indústria, o setor automotivo, de bens de capital e de construção civil devem observar maiores perdas na carteira de pedidos.
"A resposta do setor industrial deverá vir na forma de férias e paralisações programadas", diz Gomes de Almeida.
Outros segmentos mais ligados ao varejo, porém, também preveem tempos mais difíceis neste começo de ano.
De acordo com o presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), Humberto Barbato, os fabricantes já sentiram diminuição nas encomendas, especialmente nos segmentos de eletroeletrônicos, eletroportáteis e linha branca -como geladeiras, fogões e lavadoras.
Para Gomes de Almeida, a "bola agora está com o governo". Segundo ele, o Planalto "precisa agora mexer na política monetária e fiscal". "O passo é dele. É preciso convencer a população de que está agindo à altura", ressalta o professor.


Texto Anterior: Skaf sugere redução da jornada para evitar alta do desemprego
Próximo Texto: Alexandre Schwartsman: Nanismo estatal e outras tolices
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.