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Caem os pedidos ao setor de bens de capital
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com estoques elevados e
queda na carteira de pedidos, o
setor industrial deve passar os
primeiros meses do ano com
produção em queda.
A indústria de bens de capital, por exemplo, já relata redução de encomendas e prevê
problemas operacionais em
março. No mês de dezembro, os
pedidos de máquinas e equipamentos caíram mais de 20%,
segundo o vice-presidente da
Abimaq (Associação Brasileira
de Máquinas e Equipamentos),
José Velloso.
Para ele, a queda de 4% na
produção de bens de capital em
novembro contra outubro, registrada pelo IBGE, deve ter sido maior em dezembro. "Houve uma paralisação completa
dos pedidos no mês passado, o
que é muito preocupante. Se
essa situação se repetir em janeiro e fevereiro, a indústria
não terá como sustentar o atual
nível de empregos em março."
Velloso afirma que a indústria trabalha atualmente com
as encomendas feitas antes da
crise global, agravada em outubro. "Estamos queimando carteira de pedidos e não há indicações de que haverá mais encomendas. A indústria está
atendendo aos pedidos antigos,
mas deve sofrer uma parada repentina nos próximos meses."
Entre os segmentos representados pela Abimaq que vêm
enfrentando queda mais significativa na carteira de pedidos,
está o de máquinas têxteis e de
máquinas agrícolas, com declínio de até 40%.
O setor sucroalcooleiro é hoje um dos mais atingidos pela
crise, com cancelamento de pedidos e aumento na inadimplência, afirma Velloso. No setor de mineração, apenas as encomendas confirmadas antes
da crise foram mantidas. O
mesmo ocorre com o setor siderúrgico.
Para a indústria de bens de
capital, o risco de uma parada
só deixará de preocupar quando o nível de pedidos voltar ao
patamar anterior à crise. "Isso
pode demorar muito tempo",
afirmou.
Estoques
De acordo com Julio Gomes
de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da
Fazenda, a indústria aproveitou os últimos meses do ano
passado para queimar estoques. "A ordem foi vender sem
produzir", afirmou.
No ciclo tradicional da indústria e do varejo, diz Gomes de
Almeida, a queima de estoques
prossegue até março, quando
recomeçam os pedidos. Neste
ano, porém, as encomendas devem sofrer um adiamento.
Do lado da indústria, o setor
automotivo, de bens de capital
e de construção civil devem observar maiores perdas na carteira de pedidos.
"A resposta do setor industrial deverá vir na forma de férias e paralisações programadas", diz Gomes de Almeida.
Outros segmentos mais ligados ao varejo, porém, também
preveem tempos mais difíceis
neste começo de ano.
De acordo com o presidente
da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), Humberto Barbato, os
fabricantes já sentiram diminuição nas encomendas, especialmente nos segmentos de
eletroeletrônicos, eletroportáteis e linha branca -como geladeiras, fogões e lavadoras.
Para Gomes de Almeida, a
"bola agora está com o governo". Segundo ele, o Planalto
"precisa agora mexer na política monetária e fiscal". "O passo
é dele. É preciso convencer a
população de que está agindo à
altura", ressalta o professor.
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