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MERCADO FINANCEIRO
Estrangeiros tiraram R$ 2,62 bilhões da Bovespa em 1998, ano em que a desvalorização foi de 33,46%
Bolsa sofre maior fuga de dólar do Real
CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local
A Bolsa de Valores de São Paulo
teve saída líquida de R$ 2,62 bilhões em capital externo em 1998,
segundo dados divulgados ontem.
É o pior resultado do Real.
"Com a moratória da Rússia, em
agosto, a credibilidade dos países
emergentes foi posta em xeque",
diz Rodrigo Moraes, do Banco
Rendimento. Os investidores internacionais passaram a considerar que, se a Rússia deu calote em
seus credores, outros países poderiam seguir o mesmo exemplo.
"A credibilidade do Brasil foi a
mais questionada, por causa no
desequilíbrio de suas contas interna e externa", diz Moraes. Não é à
toa que a Bolsa de Valores de São
Paulo terminou 1998 com desvalorização de 33,46%.
A confiança dos estrangeiros no
Brasil continua arranhada, apesar
de o país ter fechado acordo com o
Fundo Monetário Internacional e
países ricos, que garante ajuda de
US$ 41,5 bilhões.
Preocupa o déficit nas contas públicas, que chegou a 8,1% do Produto Interno Bruto no final de 98.
Também é razão de cautela o déficit na balança comercial. Os números do ano passado não estão fechados, mas as importações devem superar as exportações em
cerca de US$ 6,4 bilhões.
"Só o ajuste fiscal pode trazer de
volta o capital externo à Bolsa brasileira", diz Marcelo Guterman, do
Lloyds Asset Management.
Em agosto, mês do calote russo, a
Bolsa paulista perdeu R$ 1,72 bilhão em dinheiro estrangeiro. Em
setembro, deixou o mercado mais
R$ 1,47 bilhão.
Com o acordo fechado com o
FMI, a situação inverteu. Os estrangeiros começaram a voltar para a Bolsa. Em outubro e novembro, o fluxo de dinheiro estrangeiro na Bovespa foi positivo.
Mas foi só o Congresso votar
contra uma medida do ajuste fiscal
proposta pelo governo, de aumento nas contribuições à Previdência
dos funcionários públicos federais
e criação da contribuição dos inativos, que os estrangeiros saíram
correndo novamente. Em dezembro, a saída de capital externo da
Bolsa totalizou R$ 1,23 bilhão, a
terceira pior do ano.
Diretor do Morgan Stanley que
preferiu não se identificar diz que
o banco continua preocupado com
o Brasil. Com os juros nos patamares altos que estão -a taxa básica,
que serve de referência para as demais, está em 29% ao ano-, fica
difícil alguma empresa listada em
Bolsa conseguir lucro, argumenta.
Os preços das ações devem subir
menos. Os títulos do governo também pagam juros maiores, diz o diretor do Morgan Stanley, o que faz
crescer o déficit público.
Barton Biggs, analista do Morgan Stanley, recomenda cautela
com relação ao Brasil. O peso das
ações brasileiras em uma carteira
internacional deve ser menor, diz.
Ganham importância no mercado financeiro as avaliações de que,
sem uma desvalorização cambial
mais forte neste ano, dificilmente o
Brasil vai conseguir reduzir seus
juros e fechar suas contas. Mas é
consenso que essa desvalorização
maior só poderá ocorrer após o
ajuste fiscal.
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