São Paulo, quinta, 7 de janeiro de 1999

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MERCADO FINANCEIRO
Estrangeiros tiraram R$ 2,62 bilhões da Bovespa em 1998, ano em que a desvalorização foi de 33,46%
Bolsa sofre maior fuga de dólar do Real

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

A Bolsa de Valores de São Paulo teve saída líquida de R$ 2,62 bilhões em capital externo em 1998, segundo dados divulgados ontem. É o pior resultado do Real.
"Com a moratória da Rússia, em agosto, a credibilidade dos países emergentes foi posta em xeque", diz Rodrigo Moraes, do Banco Rendimento. Os investidores internacionais passaram a considerar que, se a Rússia deu calote em seus credores, outros países poderiam seguir o mesmo exemplo.
"A credibilidade do Brasil foi a mais questionada, por causa no desequilíbrio de suas contas interna e externa", diz Moraes. Não é à toa que a Bolsa de Valores de São Paulo terminou 1998 com desvalorização de 33,46%.
A confiança dos estrangeiros no Brasil continua arranhada, apesar de o país ter fechado acordo com o Fundo Monetário Internacional e países ricos, que garante ajuda de US$ 41,5 bilhões.
Preocupa o déficit nas contas públicas, que chegou a 8,1% do Produto Interno Bruto no final de 98. Também é razão de cautela o déficit na balança comercial. Os números do ano passado não estão fechados, mas as importações devem superar as exportações em cerca de US$ 6,4 bilhões.
"Só o ajuste fiscal pode trazer de volta o capital externo à Bolsa brasileira", diz Marcelo Guterman, do Lloyds Asset Management.
Em agosto, mês do calote russo, a Bolsa paulista perdeu R$ 1,72 bilhão em dinheiro estrangeiro. Em setembro, deixou o mercado mais R$ 1,47 bilhão.
Com o acordo fechado com o FMI, a situação inverteu. Os estrangeiros começaram a voltar para a Bolsa. Em outubro e novembro, o fluxo de dinheiro estrangeiro na Bovespa foi positivo.
Mas foi só o Congresso votar contra uma medida do ajuste fiscal proposta pelo governo, de aumento nas contribuições à Previdência dos funcionários públicos federais e criação da contribuição dos inativos, que os estrangeiros saíram correndo novamente. Em dezembro, a saída de capital externo da Bolsa totalizou R$ 1,23 bilhão, a terceira pior do ano.
Diretor do Morgan Stanley que preferiu não se identificar diz que o banco continua preocupado com o Brasil. Com os juros nos patamares altos que estão -a taxa básica, que serve de referência para as demais, está em 29% ao ano-, fica difícil alguma empresa listada em Bolsa conseguir lucro, argumenta. Os preços das ações devem subir menos. Os títulos do governo também pagam juros maiores, diz o diretor do Morgan Stanley, o que faz crescer o déficit público.
Barton Biggs, analista do Morgan Stanley, recomenda cautela com relação ao Brasil. O peso das ações brasileiras em uma carteira internacional deve ser menor, diz.
Ganham importância no mercado financeiro as avaliações de que, sem uma desvalorização cambial mais forte neste ano, dificilmente o Brasil vai conseguir reduzir seus juros e fechar suas contas. Mas é consenso que essa desvalorização maior só poderá ocorrer após o ajuste fiscal.



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