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FUSÃO NO AR
José Viegas (Defesa) refuta idéia de ajuda "de mãe para filho" para as empresas e vê reestruturação do setor
Para ministro, Varig não tinha alternativa
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na avaliação do governo, a Varig não tinha outra opção que não
fosse caminhar para a fusão com a
TAM: "Era fazer ou fazer", disse
ontem à Folha o ministro da Defesa, José Viegas, classificando a
operação como o início de reestruturação do setor aéreo.
A decisão das duas companhias
foi uma espécie de exigência do
governo para ajudar o setor. Primeiro, alongando as dívidas da
própria Varig. Depois, num prazo
estimado em cinco meses, com
aporte de recursos do BNDES
(Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).
"Mas o BNDES não vai agir como a mamãe ajudando o filhinho.
Não existe isso: se der tantos milhões para a Varig, vai ter que dar
para essa ou aquela", disse Viegas,
no fim da tarde, em seu gabinete,
onde ele recebeu na terça-feira o
presidente da Vasp, Wagner Canhedo, e vai receber na próxima
quarta-feira o da Gol, Constantino Júnior.
O ministro conclamou os credores privados da Varig a agir em
"equanimidade" com os credores
públicos no alongamento da dívida da empresa. E avisou que qualquer ajuda à nova empresa que
surgir da fusão vai depender dos
passos efetivos nesse sentido. Significa, também, um apoio "ao setor", não a empresas.
Folha - A operação de fusão Varig-TAM é para valer ou só para justificar um apoio financeiro do
BNDES?
José Viegas - Acho que sim, que
é para valer. É claro que há todo
um longo processo até a efetivação de uma nova sociedade acionária, com estimativas de ativos e
passivos, negociação com os credores e com o governo, harmonização de frotas e rotas etc., mas o
processo já foi deflagrado. A expectativa é chegar até junho com
uma situação completamente nova, pronta e acabada.
Folha - Tudo ao que o sr. se referiu ainda falta fazer. E o que já foi
feito para a fusão, se é que algo já
foi feito?
Viegas - O que foi feito foi um
entendimento político das duas
empresas de fazer a fusão. Esse é
um propósito efetivo e está consignado oficialmente num protocolo público. Era fazer ou fazer. O
processo está estabelecido.
Folha - Mas totalmente embrionário do ponto de vista prático?
Viegas - Como não poderia deixar de ser, porque estamos no início de um processo que leva meses. O mais importante, que é a
vontade política, é inquestionável.
Folha - Onde entra o governo nisso? O Gabinete Civil, a Defesa e o
Desenvolvimento pressionaram
pela fusão?
Viegas - É preciso ficar claro que
esse processo é eminentemente
empresarial. O governo não negociou isso.
Folha - Então, por que o anúncio
foi feito dentro do governo, dentro
do seu ministério?
Viegas - Porque o processo de
fusão faz parte de um processo de
reestruturação do setor da aviação civil, que está desestruturado.
As companhias se engajaram em
políticas de concorrência definidas como predatórias, selvagens
mesmo. É impossível que, nas
condições atuais, uma companhia aérea opere com lucro no
Brasil. Para que o setor seja sustentável, é preciso que as próprias
empresas cuidem de sua saúde.
Folha - Qual o papel do governo?
Viegas - É estimular ações empresariais de racionalidade econômica. Além disso, trabalhar para um novo quadro institucional,
um novo marco regulatório.
Folha - O setor de aviação está em
crise no mundo todo, até nos EUA.
O Brasil comporta mais de uma
grande companhia aérea ou vai
acabar com as existentes e criar
uma Air Latina, digamos?
Viegas - No fundo, a resposta depende do mercado e de uma reação inteligente das companhias.
Se haverá uma, duas, três ou quatro, vai depender da demanda e
da inteligência delas. É evidente
que existe um excesso de oferta,
mas existem também outros problemas, o câmbio etc.
Folha - Em tese, tudo isso não leva à sobrevivência de uma só grande companhia?
Viegas -Vamos admitir que sim,
que, em tese, só quando você tiver
apenas uma empresa você terá escala econômica suficiente para
um mercado como um nosso.
Mas isso é compatível com a realidade? E a concentração? O que dirá o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica)?
Folha - O pacote do BNDES vai sair
só para TAM-Varig, ou a Gol e a
Vasp têm direito a exigir fatia?
Viegas - A Gol e a Vasp podem
pedir o que as outras pediram, ou
seja, zero dinheiro e um apoiozinho em favor da racionalidade
administrativa. Mas o BNDES
não vai agir como a mamãe ajudando o filhinho. Não existe isso:
se der tantos milhões para a Varig, vai ter que dar para essa ou
aquela. Existe o princípio da
equanimidade, mas há situações
diferentes, e reações diferentes,
sem privilégio.
O governo dispõe de verbas,
dispõe de financiadores que certamente estarão dispostos a ajudar numa operação de socorro,
sempre que o setor der mostras
inequívocas de que se recupera.
No caso da fusão, isso deve demorar em torno de cinco meses.
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