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GOVERNO X GOVERNO
José Carlos Miranda, da assessoria do Planejamento, disse que taxas de juros vão subir com guerra
Palocci desautoriza assessor de Mantega
JULIANNA SOFIA
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Horas depois de informar que o
governo poderia elevar a taxa básica de juros em três pontos percentuais caso a guerra dos Estados Unidos contra o Iraque dure
muito, o chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento, José Carlos Miranda, foi
contestado ontem pelo ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda).
"Não é o assessor do Ministério
do Planejamento que define taxa
de juros, é o Copom [Comitê de
Política Monetária do Banco Central". Então o Copom, no dia que
vai se reunir, vai avaliar isso tudo
e vai tomar sua decisão. Nem o assessor do Planejamento nem esse
ministro [o próprio Palocci" tomará decisões a esse respeito",
disse.
No início da tarde, Miranda havia dito que o governo trabalha
com o seguinte cenário caso a
guerra dure de três a seis meses:
alta dos juros, cotação do dólar a
R$ 4 e elevação do gasto com as
importações de petróleo. Ele ressaltou, porém, que o governo
acha mais provável que a guerra
dure cerca de um mês.
Em uma nota divulgada no final
da tarde, após a repercussão de
suas declarações, Miranda reafirmou que o cenário 1 (guerra de
curto prazo) tem maior "precisão
prospectiva".
Em caso de guerra duradoura,
Miranda havia dito que até mesmo a nova meta de superávit primário (economia de receitas para
pagamento de juros), que será
anunciada hoje, poderia ser revista para cima.
Ao dar posse ontem ao seu secretariado, o ministro Guido
Mantega (Planejamento) destacou os efeitos da guerra. "A possibilidade de uma guerra no Iraque
pode atrapalhar o esforço que este
governo está fazendo para colocar
o país nos trilhos do desenvolvimento sustentado."
Segundo Miranda, no pior cenário, as importações de petróleo
aumentariam em US$ 2,8 bilhões
a US$ 3 bilhões anuais caso o preço do barril atinja os US$ 40 previstos por alguns analistas. O país
produz 82% do petróleo que consome.
Esses efeitos seriam somados a
uma nova bolha inflacionária
causada pelo aumento do dólar e
do petróleo e a um retardamento
do crescimento econômico.
"Se a guerra for duradoura, nós
teríamos que acelerar a tramitação das reformas previdenciária e
tributária, além de aumentar o superávit primário para reduzir o
impacto do choque externo."
Para Miranda, as medidas seriam necessárias para manter a
confiança dos investidores no
Brasil, garantindo algum fluxo de
recursos.
Dentro do cenário de guerra
curta entre EUA e Iraque, as consequências, segundo ele, são algum impacto em preços por causa do dólar e do petróleo e uma
"breve contração da liquidez internacional". Os investidores buscarão fazer operações de baixo
risco como a compra de ouro.
"Uma guerra rápida é o mais
provável com uma solução política [exílio" para o presidente do
Iraque", comentou Miranda. Mas
ele lembrou que a guerra com o
Iraque poderá ser curta, mas provocar conflitos em outros países
da região. Nesse caso, não haveria
como prever os impactos na economia brasileira. "Economista
não é futurologista", afirmou na
nota divulgada pelo ministério.
O aumento dos juros no pior cenário projetado por Miranda faria
com que a taxa básica subisse de
25,5% ao ano para 28,5%.
Colaborou Leonardo Souza, da Sucursal de Brasília
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