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São Paulo, sexta-feira, 07 de fevereiro de 2003

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GOVERNO X GOVERNO

José Carlos Miranda, da assessoria do Planejamento, disse que taxas de juros vão subir com guerra

Palocci desautoriza assessor de Mantega

JULIANNA SOFIA
SÍLVIA MUGNATTO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Horas depois de informar que o governo poderia elevar a taxa básica de juros em três pontos percentuais caso a guerra dos Estados Unidos contra o Iraque dure muito, o chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento, José Carlos Miranda, foi contestado ontem pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
"Não é o assessor do Ministério do Planejamento que define taxa de juros, é o Copom [Comitê de Política Monetária do Banco Central". Então o Copom, no dia que vai se reunir, vai avaliar isso tudo e vai tomar sua decisão. Nem o assessor do Planejamento nem esse ministro [o próprio Palocci" tomará decisões a esse respeito", disse.
No início da tarde, Miranda havia dito que o governo trabalha com o seguinte cenário caso a guerra dure de três a seis meses: alta dos juros, cotação do dólar a R$ 4 e elevação do gasto com as importações de petróleo. Ele ressaltou, porém, que o governo acha mais provável que a guerra dure cerca de um mês.
Em uma nota divulgada no final da tarde, após a repercussão de suas declarações, Miranda reafirmou que o cenário 1 (guerra de curto prazo) tem maior "precisão prospectiva".
Em caso de guerra duradoura, Miranda havia dito que até mesmo a nova meta de superávit primário (economia de receitas para pagamento de juros), que será anunciada hoje, poderia ser revista para cima.
Ao dar posse ontem ao seu secretariado, o ministro Guido Mantega (Planejamento) destacou os efeitos da guerra. "A possibilidade de uma guerra no Iraque pode atrapalhar o esforço que este governo está fazendo para colocar o país nos trilhos do desenvolvimento sustentado."
Segundo Miranda, no pior cenário, as importações de petróleo aumentariam em US$ 2,8 bilhões a US$ 3 bilhões anuais caso o preço do barril atinja os US$ 40 previstos por alguns analistas. O país produz 82% do petróleo que consome.
Esses efeitos seriam somados a uma nova bolha inflacionária causada pelo aumento do dólar e do petróleo e a um retardamento do crescimento econômico.
"Se a guerra for duradoura, nós teríamos que acelerar a tramitação das reformas previdenciária e tributária, além de aumentar o superávit primário para reduzir o impacto do choque externo."
Para Miranda, as medidas seriam necessárias para manter a confiança dos investidores no Brasil, garantindo algum fluxo de recursos.
Dentro do cenário de guerra curta entre EUA e Iraque, as consequências, segundo ele, são algum impacto em preços por causa do dólar e do petróleo e uma "breve contração da liquidez internacional". Os investidores buscarão fazer operações de baixo risco como a compra de ouro.
"Uma guerra rápida é o mais provável com uma solução política [exílio" para o presidente do Iraque", comentou Miranda. Mas ele lembrou que a guerra com o Iraque poderá ser curta, mas provocar conflitos em outros países da região. Nesse caso, não haveria como prever os impactos na economia brasileira. "Economista não é futurologista", afirmou na nota divulgada pelo ministério.
O aumento dos juros no pior cenário projetado por Miranda faria com que a taxa básica subisse de 25,5% ao ano para 28,5%.


Colaborou Leonardo Souza, da Sucursal de Brasília



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