São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2009

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Senado dos EUA reduz pacote de Obama

Senadores fecham acordo provisório para votar plano de US$ 780 bi, abaixo dos US$ 920 bi que chegaram a ser discutidos inicialmente

Acerto ocorreu após Obama ter considerado a demora no Congresso "indesculpável" e no dia em que foi anunciado desemprego recorde no país

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Depois de uma semana de discussão e da elevação da temperatura entre o Legislativo e o Executivo norte-americano, o Senado chegou a um "acordo provisório" em relação ao pacote de estímulo econômico proposto pelo presidente Barack Obama, segundo relatos vindos do Congresso no fim da noite de ontem. A votação deve ocorrer neste fim de semana.
Pelo acordo fechado entre os senadores, o pacote ficará em US$ 780 bilhões, menor do que a versão aprovada pela Câmara dos Representantes (deputados federais) há duas semanas e US$ 140 bilhões abaixo do máximo que chegou a ser discutido no Senado. Ainda assim, é um valor superlativo -o equivalente ao PIB (Produto Interno Bruto) da Holanda, 16ª economia do mundo.
A tentativa de acordo chega depois de um grupo de 20 senadores moderados de ambos os partidos ter trabalhado nas 736 páginas do plano para aparar gastos considerados excessivos pelos republicanos e aumentar as iniciativas que cortam impostos, que hoje estariam representando 42% do total, ou US$ 328 bilhões.
Na lista dos programas excluídos, estariam a implantação de banda larga de internet em zonas rurais e a adaptação climática de prédios públicos, dois projetos caros a Obama, além de cortes na ajuda a governos estaduais, que penam para fechar as contas públicas em meio à crise. Na noite de quinta, o presidente havia dito que ele ficaria satisfeito com a aprovação de um pacote "em torno de US$ 800 bilhões".
Até a conclusão desta edição, não estava claro se houve nova modificação na emenda chamada "Buy American" (compre produtos americanos, em tradução livre), considerada protecionista, que exige que todo aço, ferro e produtos manufaturados usados nas obras de infraestrutura sejam de fabricação nacional.
Na quarta-feira, a versão no Senado fora atenuada em relação à aprovada na Câmara, permitindo que os produtos sejam comprados também de países que tenham acordo comercial com os Estados Unidos, o que excluiria o Brasil.

"Indesculpável"
O anúncio chega após duas semanas de negociações de Obama com o Congresso, conversa que nos últimos dois dias mudou de tom.
"É indesculpável e irresponsável ficarmos presos a distrações e atrasos enquanto milhões de norte-americanos estão sendo mandados embora de seus empregos", disse o democrata ontem, no mesmo dia em que foi divulgado o fechamento de 598 mil vagas em janeiro nos EUA . "É hora de o Congresso agir."
A fala de ontem e a da noite anterior, na reunião anual do Partido Democrata em Virgínia, lembraram seus discursos de campanha mais incisivos, que haviam sido abandonados desde a eleição em favor de um enfoque mais conciliatório. "Se continuarmos a arrastar o pé e deixarmos de agir, a crise vai virar uma catástrofe", disse.
Há hoje 56 senadores democratas e 2 independentes que votam com a situação, ante 41 republicanos e 1 assento ainda em disputa. O partido do presidente precisa de 60 votos para passar a medida. Especulava-se que três republicanos moderados fechariam voto com a situação e que o democrata Ted Kennedy, que se trata de um câncer no cérebro, viria ao plenário pela primeira vez desde a posse de Obama para votar.
Se o plano for aprovado, líderes das duas Casas se sentam juntos para chegar a uma linguagem comum para o pacote de estímulo econômico e o enviam para assinatura de Obama, o que pode acontecer em dez dias.
Seja qual for o valor final, o pacote será "15% ineficaz", segundo o Nobel Paul Krugman, em palestra ontem em Washington: "É preciso programas que aumentem o gasto".


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