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Apagão logístico impede o avanço do agronegócio
País deixa de produzir 3 milhões de toneladas por falhas na estrutura logística
Porto maranhense de Itaqui, estratégico, está no limite e com obras atrasadas; sem ele, opções para o Norte e o Nordeste estão a 3.000 km
Jorge Araujo/ Folha Imagem
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Produtor inspeciona soja em plantação em Balsas (MA)
AGNALDO BRITO
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS (MA)
A safra recorde de 65,1 milhões de toneladas de soja no
país, um dos itens que mais
contribuíram para o superavit
de US$ 24 bilhões da balança
comercial brasileira em 2009,
vai agravar a situação do já caótico sistema portuário brasileiro, que depende de obras que
integram a carteira de prioridades do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
As consequências, segundo
especialistas e produtores, serão a perda de produção por
causa da precária infraestrutura para escoamento, custos de
exportação US$ 45 por tonelada mais caros do que os principais concorrentes internacionais e uma desorganização do
já confuso sistema de escoamento da safra em virtude dos
limites dos portos brasileiros.
O Ministério da Agricultura
estima que 20 milhões de toneladas de grãos produzidas no
país são desviadas para portos
muito mais distantes do que
sugere qualquer planejamento
logístico, situação que afeta em
cheio a renda do produtor rural
e realimenta um paradoxo que
tem se tornado recorrente no
setor agrícola: a renegociação
de dívidas por falta de renda.
Projeto de papel
A Folha percorreu mais de
2.000 km entre a capital e o interior do Maranhão -Estado
que freia a produção por falta
de porto-, conversou com produtores, líderes do setor agrícola e governos e constatou que
a infraestrutura para transporte de grãos em escala prevista
para o porto de Itaqui, no topo
do Brasil, está só no papel.
Idealizado em 2004 e prometido para entrar em operação (pelo menos parcialmente)
em 2007, o Tegram (Terminal
de Grãos do Maranhão), com
sorte, terá a primeira fase
pronta em 2012. A licitação está prometida para abril. Etapa
inicial que elevaria a capacidade de recepção e embarque de
soja de 2 milhões para 7 milhões de toneladas.
A estrutura corrigiria também uma situação inédita: reduzia o custo da logística ferroviária, que hoje é igual ao custo
rodoviário (US$ 75 por tonelada). "Isso é uma aberração", diz
José Hilton, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Maranhão.
A ferrovia Norte-Sul, que alcança Itaqui, ficará ociosa. Poderá, diz Marcelo Spinelli, diretor de logística da Vale, transportar 8 milhões de toneladas.
Itaqui só tem capacidade para
receber 2 milhões, em estrutura mantida pela própria Vale,
no porto Ponta da Madeira.
O projeto completo para
grãos em Itaqui, cujo prazo
ninguém se atreve a arriscar,
elevaria a capacidade do porto
para 13 milhões de toneladas.
Seria então a maior porta de
saída do agronegócio graneleiro do país, papel exercido hoje
pelos longínquos portos de
Santos e Paranaguá, hoje responsáveis por receber e transferir para navios aproximadamente 18 milhões de toneladas
por ano, exatamente por deficiência nas saídas do Norte.
A despeito da distância de
Santos e Paranaguá em relação
a promissoras regiões produtoras como Tocantins, Piauí, Maranhão, oeste baiano e norte do
Mato Grosso, os portos do Sul
seguem como principal destino
dos grãos dessas regiões.
Segundo a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil), entre todas as saídas
dos chamados corredores Centro-Norte, Porto Velho (RO) é a
que mais se destaca. O porto
recebe a produção de Rondônia e do noroeste de Mato
Grosso. De Porto Velho partem
barcaças para transbordo em
navios transoceânicos em Itacoatiara (AM) e Santarém (PA).
As duas outras opções são Vila do Conde (PA) e Itaqui, no
Maranhão, considerado o melhor porto para esse fim, seja
pela posição geográfica (quatro
dias mais perto da Europa e da
América do Norte), seja pela
capacidade de receber navios
gigantes, algo impossível nos
portos de Santos e Paranaguá.
O efeito desse bizarro modelo logístico acaba de ser calculado. Além da perda de renda
do produtor, que pode variar de
R$ 3 a R$ 4 por saca de soja, o
país já renuncia à produção
agrícola pela simples razão de
que produzir dá prejuízo.
Levantamento realizado pelo Ministério da Agricultura e
pela CNA mostra que a fronteira agrícola do Nordeste e norte
do Centro-Oeste já deixou de
produzir 3 milhões de toneladas de soja devido ao apagão
portuário, volume que retira do
país, neste momento, o equivalente a cerca de US$ 1 bilhão
em divisas, cifra considerável
se for levado em conta o fato de
que, no ano passado, o complexo soja rendeu US$ 17 bilhões
em receitas ao Brasil.
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