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São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2003

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MERCADO EM TRÉGUA

Segundo Merrill Lynch, investidores estariam retomando o apetite por papéis de países emergentes

Risco-país tem o menor nível em 9 meses

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os investidores estrangeiros que em 2002 queriam distância de risco e, portanto, de títulos de países emergentes, principalmente do Brasil, estão de volta. A recente onda de procura por ativos mais arriscados atingiu seu ápice nos últimos quatro anos na semana passada e tem levado a uma forte valorização de papéis da dívida externa brasileira.
O principal deles, o C-Bond, fechou ontem negociado a 77,63% de seu valor de face, ou seja, do preço que tinha quando foi emitido pelo governo.
Essa cotação representa valorização de 3,5% em relação ao fechamento da véspera e é a maior registrada pelo C-Bond desde 3 de maio de 2002, quando valia 77,75% de seu valor de face. O risco-país -que dá uma medida dos juros cobrados no exterior para um governo- caiu para 1.114 pontos ontem, o menor nível desde 5 de junho de 2002. E o dólar caiu 1,52%, para R$ 3,50, valor mais baixo desde 21 de janeiro.
Um relatório recém-distribuído pela Merrill Lynch, instituição norte-americana, para seus clientes traz dados que explicam por que os ativos brasileiros, principalmente os títulos da dívida externa, estão em alta.
Mostra que os fundos que investem em dívida de mercados emergentes receberam US$ 91,9 milhões na semana passada. Esse volume é o maior já registrado em uma semana desde novembro de 1998 (antes da desvalorização do real, em janeiro de 1999).
Os dados citados pelo relatório da Merrill Lynch, ao qual a Folha teve acesso, são da consultoria americana AMG Data Services e mostram que o interesse de investidores externos por emergentes pode estar se recuperando depois de quatro anos de moderação.

Retorno alto
Uma combinação de acontecimentos externos e domésticos, principalmente no caso do Brasil, explica essa mudança de rumo.
Em primeiro lugar, vem a desaceleração econômica nos países desenvolvidos, como EUA e os da zona do euro. Isso tem levado os BCs desses países a constantes reduções nas taxas de juros, com o objetivo de tentar estimular suas economias novamente.
Juros muito baixos significam retornos pouco significativos para os investimentos em ativos de renda fixa, como títulos de dívida, nesses países.
Segundo Clive Botelho, diretor de tesouraria do banco Santos, a fuga para as Bolsas de Valores em busca de uma rentabilidade maior continua pouco atrativa. Depois do estouro da bolha no mercado de tecnologia e dos escândalos corporativos dos últimos dois anos, investidores ainda encontram dificuldade para calcular o valor justo de ações.
Com isso, resta a opção de investir em títulos de mercados emergentes. A procura por papéis de países do Leste Europeu e da Ásia já havia começado no ano passado. Mas, com a grande demanda, o retorno desses investimentos já caiu bastante.
Continuavam atrativos, em termos de retorno, países como o Brasil. O problema é que a percepção de risco também era muito alta em consequência do temor de calote, principalmente por causa da vitória da oposição em 2002. Essa percepção tem caído conforme o governo dá mostras de compromisso com a receita de política econômica ortodoxa que tanto agrada aos mercados.
Restava o temor da guerra, que podia afastar investidores dos ativos de risco. Mas, segundo analisas, conforme cresce a expectativa de que o conflito será curto, aumentam os incentivos para lucrar com a alta rentabilidade oferecida por países emergentes.


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