|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MERCADO EM TRÉGUA
Segundo Merrill Lynch, investidores estariam retomando o apetite por papéis de países emergentes
Risco-país tem o menor nível em 9 meses
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os investidores estrangeiros
que em 2002 queriam distância de
risco e, portanto, de títulos de países emergentes, principalmente
do Brasil, estão de volta. A recente
onda de procura por ativos mais
arriscados atingiu seu ápice nos
últimos quatro anos na semana
passada e tem levado a uma forte
valorização de papéis da dívida
externa brasileira.
O principal deles, o C-Bond, fechou ontem negociado a 77,63%
de seu valor de face, ou seja, do
preço que tinha quando foi emitido pelo governo.
Essa cotação representa valorização de 3,5% em relação ao fechamento da véspera e é a maior
registrada pelo C-Bond desde 3 de
maio de 2002, quando valia
77,75% de seu valor de face. O risco-país -que dá uma medida
dos juros cobrados no exterior
para um governo- caiu para
1.114 pontos ontem, o menor nível
desde 5 de junho de 2002. E o dólar caiu 1,52%, para R$ 3,50, valor
mais baixo desde 21 de janeiro.
Um relatório recém-distribuído
pela Merrill Lynch, instituição
norte-americana, para seus clientes traz dados que explicam por
que os ativos brasileiros, principalmente os títulos da dívida externa, estão em alta.
Mostra que os fundos que investem em dívida de mercados
emergentes receberam US$ 91,9
milhões na semana passada. Esse
volume é o maior já registrado em
uma semana desde novembro de
1998 (antes da desvalorização do
real, em janeiro de 1999).
Os dados citados pelo relatório
da Merrill Lynch, ao qual a Folha
teve acesso, são da consultoria
americana AMG Data Services e
mostram que o interesse de investidores externos por emergentes
pode estar se recuperando depois
de quatro anos de moderação.
Retorno alto
Uma combinação de acontecimentos externos e domésticos,
principalmente no caso do Brasil,
explica essa mudança de rumo.
Em primeiro lugar, vem a desaceleração econômica nos países
desenvolvidos, como EUA e os da
zona do euro. Isso tem levado os
BCs desses países a constantes reduções nas taxas de juros, com o
objetivo de tentar estimular suas
economias novamente.
Juros muito baixos significam
retornos pouco significativos para os investimentos em ativos de
renda fixa, como títulos de dívida,
nesses países.
Segundo Clive Botelho, diretor
de tesouraria do banco Santos, a
fuga para as Bolsas de Valores em
busca de uma rentabilidade
maior continua pouco atrativa.
Depois do estouro da bolha no
mercado de tecnologia e dos escândalos corporativos dos últimos dois anos, investidores ainda
encontram dificuldade para calcular o valor justo de ações.
Com isso, resta a opção de investir em títulos de mercados
emergentes. A procura por papéis
de países do Leste Europeu e da
Ásia já havia começado no ano
passado. Mas, com a grande demanda, o retorno desses investimentos já caiu bastante.
Continuavam atrativos, em termos de retorno, países como o
Brasil. O problema é que a percepção de risco também era muito alta em consequência do temor
de calote, principalmente por
causa da vitória da oposição em
2002. Essa percepção tem caído
conforme o governo dá mostras
de compromisso com a receita de
política econômica ortodoxa que
tanto agrada aos mercados.
Restava o temor da guerra, que
podia afastar investidores dos ativos de risco. Mas, segundo analisas, conforme cresce a expectativa
de que o conflito será curto, aumentam os incentivos para lucrar
com a alta rentabilidade oferecida
por países emergentes.
Texto Anterior: Painel S/A Próximo Texto: Dólar fecha a R$ 3,50, menor patamar desde 21 de janeiro Índice
|