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Para Greenspan, expansão pode acabar logo
Em entrevista à Bloomberg, ele diz ser provável que ciclo de crescimento dos EUA iniciado em 2002 não dure 10 anos
Mas ex-presidente do Fed afirma que não é possível calcular com precisão fatos da economia que irão acontecer em dois anos
CRAIG TORRES
DA BLOOMBERG
O ex-presidente do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA)
Alan Greenspan disse que
"existe uma probabilidade de
um terço" de que a economia
americana sofra uma recessão
neste ano e que a atual expansão não terá o poder de sustentação do ciclo de crescimento
precedente, que durou uma década.
"Estamos no sexto ano de
uma recuperação e, como resultado, podem surgir desequilíbrios", disse Greenspan, 81,
em entrevista em seu escritório, em Washington. "Recuperações de dez anos de duração
vêm sendo parte de um fenômeno mundial muito mais amplo. O ciclo de negócios histórico normalmente é muito mais
curto" e, para ele, é provável
que seja assim desta vez.
A perspectiva oferecida por
Greenspan contrasta com a
previsão de seu sucessor à frente do Fed. Ben Bernanke declarou em depoimento ao Congresso americano na semana
passada que a economia pode
ganhar força neste ano.
A avaliação otimista oferecida por ele ajudou a firmar os
mercados de ações em 28 de fevereiro, depois de uma queda,
no dia anterior que alguns operadores atribuem em parte a
declarações de Greenspan, que
disse que uma recessão não poderia ser descartada.
Anonimato
Greenspan, que deixou o
posto no Fed no início de 2006,
disse que vem se esforçando
para não dificultar a vida de seu
sucessor. O contrato que ele assina com seus clientes estipula
que não pode haver repórteres
presentes em suas conversas
ou palestras nem gravação de
seus pronunciamentos.
"Eu estava ciente do problema de que, se continuasse a
manter presença pública, poderia criar dificuldades para
Ben", disse Greenspan. "Em geral, consegui evitar esse tipo de
situação. Eu estava começando
a me sentir confortável por enfim ter conseguido voltar ao
anonimato que desejava."
"O episódio recente me surpreendeu", acrescentou, em
uma referência à queda nos
mercados mundiais, também
atribuída ao declínio na Bolsa
de Xangai.
Os investidores talvez tenham prestado atenção aos
seus comentários por acharem
que eles foram prescientes. Um
dia depois que ele mencionou o
risco de uma recessão, diante
de uma platéia em Hong Kong,
números do Departamento de
Comércio demonstraram que
as vendas de bens de capital, excluindo aviões, haviam caído
2,7% em janeiro, o maior declínio desde setembro de 2001. As
encomendas à indústria sofreram sua maior queda em três
anos.
O investimento de capital,
em termos mais amplos, também está perdendo força. As
aquisições de equipamentos e
software por empresas caíram
em ritmo anualizado de 3,2%
no último trimestre do ano passado, o maior declínio desde os
três meses finais de 2002, de
acordo com números divulgados recentemente pelo Departamento de Comércio dos EUA.
Greenspan disse não acreditar que as chamadas "previsões
pontuais", nas quais os economistas oferecem avaliações
com precisão de casas decimais, possam ser realizadas de
forma precisa quanto ao curto
prazo. "Não há de fato como
prever" a economia pelos próximos dois anos, afirmou o ex-presidente do BC americano.
Investidores disseram que os
mercados não estão levando
em consideração a avaliação de
Greenspan quanto ao risco de
uma recessão.
"Não é a mensagem que estamos recebendo do Fed", disse
Bernd Wuebben, estrategista
sênior de títulos no BNP Paribas de Nova York. "Todos os representantes do Fed tentaram
acalmar o mercado."
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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