São Paulo, quarta-feira, 07 de março de 2007

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Para Greenspan, expansão pode acabar logo

Em entrevista à Bloomberg, ele diz ser provável que ciclo de crescimento dos EUA iniciado em 2002 não dure 10 anos

Mas ex-presidente do Fed afirma que não é possível calcular com precisão fatos da economia que irão acontecer em dois anos


CRAIG TORRES
DA BLOOMBERG

O ex-presidente do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) Alan Greenspan disse que "existe uma probabilidade de um terço" de que a economia americana sofra uma recessão neste ano e que a atual expansão não terá o poder de sustentação do ciclo de crescimento precedente, que durou uma década.
"Estamos no sexto ano de uma recuperação e, como resultado, podem surgir desequilíbrios", disse Greenspan, 81, em entrevista em seu escritório, em Washington. "Recuperações de dez anos de duração vêm sendo parte de um fenômeno mundial muito mais amplo. O ciclo de negócios histórico normalmente é muito mais curto" e, para ele, é provável que seja assim desta vez.
A perspectiva oferecida por Greenspan contrasta com a previsão de seu sucessor à frente do Fed. Ben Bernanke declarou em depoimento ao Congresso americano na semana passada que a economia pode ganhar força neste ano.
A avaliação otimista oferecida por ele ajudou a firmar os mercados de ações em 28 de fevereiro, depois de uma queda, no dia anterior que alguns operadores atribuem em parte a declarações de Greenspan, que disse que uma recessão não poderia ser descartada.

Anonimato
Greenspan, que deixou o posto no Fed no início de 2006, disse que vem se esforçando para não dificultar a vida de seu sucessor. O contrato que ele assina com seus clientes estipula que não pode haver repórteres presentes em suas conversas ou palestras nem gravação de seus pronunciamentos.
"Eu estava ciente do problema de que, se continuasse a manter presença pública, poderia criar dificuldades para Ben", disse Greenspan. "Em geral, consegui evitar esse tipo de situação. Eu estava começando a me sentir confortável por enfim ter conseguido voltar ao anonimato que desejava."
"O episódio recente me surpreendeu", acrescentou, em uma referência à queda nos mercados mundiais, também atribuída ao declínio na Bolsa de Xangai.
Os investidores talvez tenham prestado atenção aos seus comentários por acharem que eles foram prescientes. Um dia depois que ele mencionou o risco de uma recessão, diante de uma platéia em Hong Kong, números do Departamento de Comércio demonstraram que as vendas de bens de capital, excluindo aviões, haviam caído 2,7% em janeiro, o maior declínio desde setembro de 2001. As encomendas à indústria sofreram sua maior queda em três anos.
O investimento de capital, em termos mais amplos, também está perdendo força. As aquisições de equipamentos e software por empresas caíram em ritmo anualizado de 3,2% no último trimestre do ano passado, o maior declínio desde os três meses finais de 2002, de acordo com números divulgados recentemente pelo Departamento de Comércio dos EUA.
Greenspan disse não acreditar que as chamadas "previsões pontuais", nas quais os economistas oferecem avaliações com precisão de casas decimais, possam ser realizadas de forma precisa quanto ao curto prazo. "Não há de fato como prever" a economia pelos próximos dois anos, afirmou o ex-presidente do BC americano. Investidores disseram que os mercados não estão levando em consideração a avaliação de Greenspan quanto ao risco de uma recessão.
"Não é a mensagem que estamos recebendo do Fed", disse Bernd Wuebben, estrategista sênior de títulos no BNP Paribas de Nova York. "Todos os representantes do Fed tentaram acalmar o mercado."


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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