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VINICIUS TORRES FREIRE
O caldo volta a entornar
Fundos de investimento voltam a dar calotes devido à crise imobiliária, o que reaviva temor de nova xepa na finança
AS SENHORAS E os senhores destemidos o bastante para jogar
nas altas e nas baixas da Bolsa
não devem ter se espantado com a
evaporação de 2,5% do Ibovespa,
coisa corriqueira com ações brasileiras, ainda mais nestes tempos de desalavancagem global. Mas há razoável probabilidade de o caldo engrossar nos próximos dias.
Três empresas, "fundos", de investimento, fizeram "bum" nesta semana, sendo o caso mais recente e
explicitado o do Carlyle Capital. Os
três se estropiaram, bidu, com derivativos de crédito imobiliário. Para
piorar o ambiente, faz dois dias persiste o rumor de que o bancão suíço
UBS vendeu de US$ 20 bilhões a
US$ 25 bilhões de seus investimentos em papéis imobiliários, a preço
de banana, com descontos chutados
entre 70% e 85% do valor de face.
Se vendeu, não vendeu os agora já
velhos conhecidos papéis lastreados
em empréstimos imobiliários de segunda linha, os "subprime". Vendeu
papéis "Alt-A", muito prazer, empréstimos para gente com histórico
de crédito melhor, mas concedidos
sem a checagem de renda do tomador, papéis que começaram a apodrecer mais neste ano.
Os três fundos tomavam dinheiro
emprestado, a curto prazo, para investir em títulos de renda derivada
de prestações imobiliárias. No caso
do Carlyle, a alavancagem, o total de
empréstimos, equivale a 30 vezes o
capital do fundo, estima-se.
A deterioração geral do mercado
nas duas últimas semanas fez tais
papéis perderem valor. Os bancos
emprestadores (mais precisamente,
as corretoras do negócio) pediram
mais "margem", mais dinheiro para
compensar a perda excessiva do valor dos papéis dos fundos, papéis
aliás, em tese, de melhor qualidade,
"garantidos" pelas empresas paraestatais de securitização de dívida
imobiliária dos EUA. Os fundos venderam alguns desses títulos, mas
não fizeram dinheiro bastante para
honrar algumas chamadas de margem. Foram chamados oficialmente
de caloteiros por alguns bancões.
Se mais fundos quase-quebrarem
e tiverem de liquidar papéis, o valor
deles cai e recomeça a ciranda baixista que deu até agora em US$ 181
bilhões de baixas contábeis no balanço dos bancos. Se sobrevém nova
rodada de queda no capital dos bancos, aumenta a secura de empréstimos, o que acelera o processo de desalavancagem da farra financista da
última década.
Tudo isso azedou um mercado
que já andava com azia e aziago, deteriorado ainda ontem por péssimas
notícias, tais como a do recorde na
retomada de imóveis residenciais
por falta de pagamento.
Enfim, foi reavivado, por ora em
escala menor, o círculo vicioso de
desvalorização de ativos financeiros
que vai e volta desde pelo menos
agosto de 2007. As ações de instituições financeiras e as de bancos americanos, donos de baciadas de papéis
imobiliários, caíram muito e foram
achadas de novo no lixo, em baixa de
quase uma década, como as do Citigroup, que aliás anunciou que vai se
desfazer de metade de seu negócios
de títulos imobiliários nos próximos
12 meses. As ações brasileiras, embora relativamente "descoladas" das
americanas, no entanto não têm escapado desses ciclos mais sinistros
da crise financeira. Que está com cara de recomeçar.
vinit@uol.com.br
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