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Concessão de aeroportos pode sair neste ano, diz Jobim
Presidente da Infraero descarta privatização, e ministro o desautoriza sobre o assunto
Jobim confirma que estatal
que administra aeroportos
será reestruturada; objetivo
é abrir capital, mas controle
seria mantido pela União
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O ministro da Defesa, Nelson
Jobim, confirmou ontem em
nota que poderão ser iniciados
neste ano dois processos na
aviação civil: a concessão de aeroportos à iniciativa privada e a
reestruturação da Infraero
(empresa estatal responsável
pela infraestrutura aeroportuária). A intenção é abrir seu
capital a mais longo prazo.
No Rio, o ministro ratificou a
posição. "Não podemos mais
ser administradores de shopping. Concessão não é transferir o domínio do imóvel ao setor privado, mas a administração pelo setor privado de um
serviço público. Os aeroportos
continuarão sob o domínio da
União, geridos pelo setor privado pela via da concorrência. É o
caso das estradas, dos portos.
Então não há privatização: é
concessão."
A nota do ministro foi gerada
após uma série de ruídos de informação do próprio governo
sobre os dois processos, confundidos num só. Como sempre explica Jobim, a concessão
de aeroportos independe de
uma eventual oferta pública de
ações da Infraero e vice-versa.
Jobim também desautorizou
o presidente da Infraero, o brigadeiro Cleonilson Nicácio da
Silva, que dissera na quinta que
a estatal não seria privatizada.
De acordo com o ministro, Nicácio "não tem competência"
para falar isso, uma vez que a
Infraero não é dona de aeroportos, só os administra. "O que
vai haver em relação à Infraero
é outra coisa, a abertura de capital, que está sendo discutida
com o BNDES."
Há, num primeiro momento,
três aeroportos listados como
prioritários para futura concessão: o de Viracopos, em Campinas; o do Galeão (RJ); e o terceiro aeroporto de São Paulo, que
ainda não passa de um projeto.
A responsabilidade por definir um modelo de concessão é
da Anac, que, em tese, é independente do governo, mas foi
Jobim quem indicou a presidente da agência, Solange Vieira, que é sua amiga pessoal.
A previsão é que o formato de
concessão esteja pronto até julho. A etapa seguinte será a de
elaboração dos modelos de editais de concessão pelo BNDES.
A Infraero é criticada duramente no Planalto, no BNDES
e na Justiça por excesso de burocracia, de corporativismo e
de denúncias de corrupção.
Interino de longo prazo
A empresa já está no seu
quarto presidente desde o primeiro mandato de Lula. O
atual, Nicácio da Silva, é considerado um "interino de longo
prazo", que anunciou anteontem o edital para a consultoria
da reformulação.
A intenção do governo é abrir
o capital da Infraero, com uma
peculiaridade: participação de
sócios minoritários na gestão
da empresa, uma espécie de "isca" para os empresários do setor, que se assustam com a sua
má imagem pública.
Esses obstáculos tendem a
crescer em tempos de crise e
escassez de capitais, como agora, e é por isso que os diferentes
ministérios e órgãos do governo têm cautela em falar com
otimismo sobre o prazo de
oferta de ações, que depende do
interesse do mercado.
O projeto, de qualquer forma,
é abrir até o máximo de 49%,
para manter o controle estatal
da companhia e só repensar esse teto a longo prazo. A hipótese de privatizar a Infraero, seguidamente desmentida por
Jobim, pelo brigadeiro Nicácio
e por Luciano Coutinho
(BNDES), não está de fato descartada. É apenas remota num
quadro econômico e até político como o atual.
Segundo Jobim, na nota de
ontem, será necessário resolver
uma questão contábil antes de
iniciativas concretas para abrir
capital. Ele disse que qualquer
investimento de recursos próprios em um aeroporto é contabilizado como prejuízo, pois
tecnicamente se trata de investimento em patrimônio de terceiro. É que a Infraero é gerente, e não proprietária dos aeroportos federais, que, oficialmente, pertencem ao Tesouro.
Colaborou a Sucursal do Rio
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