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São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Companhias que atuam em setores de alta concentração voltam a "empurrar" novos aumentos às lojas

Empresas pressionam por reajuste de preço

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Empresas que atuam em setores de alta concentração de mercado -e são donas de mais da metade de alguns mercados em que atuam- voltaram com o movimento de remarcação de preços.
A Unilever sinalizou aumentos de 9,5% a 18% em itens de higiene e limpeza. O fato já foi comunicado às lojas, que agora negociam com a indústria. A Nestlé informou aos supermercados que pretende promover reajustes mensais às lojas. Já repassou 30% de aumento nos chocolates em geral.
A Diageo, líder na fabricação de bebidas alcoólicas, informou às lojas no Nordeste que quer aumento. O litro do uísque passaria de R$ 69,90, preço antigo, para R$ 95 nas gôndolas.
É o segundo pedido de aumento de marcas da área de alimentos, que são líderes de mercado, em apenas três meses. Em janeiro, Unilever, Parmalat, Nestlé, Kraft, Quaker e Danone apresentaram aos supermercados uma lista de reajustes entre 10% e 15%.
"Eu só trato disso o dia todo", diz José Augusto Freta, diretor de compras da rede Angeloni. "Na prática, são as grandes multinacionais que puxam o reajuste e o resto vai atrás", diz Antonio Lucas, gerente da rede Nordestão, uma das maiores no Nordeste.
As lojas são contrárias ao aumento porque acreditam que são abusivos e, em alguns casos, injustificáveis. Principalmente em um momento de demanda reprimida, como o atual.
Donas de boa parte dos mercados em que atuam, essas companhias devem conseguir repassar parte do aumento solicitado às lojas. Por uma razão: mesmo os supermercados de grande porte -e com bom poder de barganha nas mãos- não pretendem "encarar" as companhias, apurou a Folha.
Isso porque, caso tentem barrar produtos com reajustes que considerem exagerados, as lojas terão que operar com estoque antigo. O problema é que, dependendo do produto, já há supermercados trabalhando com o estoque de janeiro.
Além disso, há a questão da concentração. A Nestlé, por exemplo, está prestes a receber o aval do governo quanto à compra da empresa Garoto. Com isso, irá aumentar seu poder de negociação no setor de chocolates com o varejo. Se a loja "endurecer" nas negociações e ficar sem o chocolate da Nestlé, deve ficar sem o produto da Garoto também.
As companhias citadas acima foram procuradas pela Folha. Porém, não comentaram a questão. A Unilever, com 47% do mercado de sabão em pó, informou que os reajustes ocorrem por razões de custos e é preciso assegurar a "saúde financeira" do grupo.

Solução
Para achar saídas, há uma tentativa de as lojas comprarem grandes volumes para as próximas campanhas promocionais. O intuito, com isso, é "fechar" pacotes com descontos em cima dos reajustes sugeridos pelas indústrias.
Além disso, as conversas entre lojas e indústrias focam em outra questão. Houve uma recente queda no valor de alguns insumos, usados na fabricação de alimentos. E as lojas querem que isso se traduza em preços menores nas prateleiras. Mas esse movimento ainda é discreto.
Há redução no preço do óleo de soja e da farinha de trigo nas lojas do Pão de Açúcar, por exemplo. Em 2002, o aumento ocorreu porque os insumos (trigo, soja) são cotados em dólar no país.
Neste ano, a tonelada de trigo já caiu de US$ 155 para US$ 146. Com isso, há uma expectativa de que as massas e os biscoitos sofram uma queda de preço também. Pelo menos é o que o varejo quer negociar com a indústria.


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