|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANO DO DRAGÃO
Companhias que atuam em setores de alta concentração voltam a "empurrar" novos aumentos às lojas
Empresas pressionam por reajuste de preço
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Empresas que atuam em setores
de alta concentração de mercado
-e são donas de mais da metade
de alguns mercados em que
atuam- voltaram com o movimento de remarcação de preços.
A Unilever sinalizou aumentos
de 9,5% a 18% em itens de higiene
e limpeza. O fato já foi comunicado às lojas, que agora negociam
com a indústria. A Nestlé informou aos supermercados que pretende promover reajustes mensais às lojas. Já repassou 30% de
aumento nos chocolates em geral.
A Diageo, líder na fabricação de
bebidas alcoólicas, informou às
lojas no Nordeste que quer aumento. O litro do uísque passaria
de R$ 69,90, preço antigo, para R$
95 nas gôndolas.
É o segundo pedido de aumento
de marcas da área de alimentos,
que são líderes de mercado, em
apenas três meses. Em janeiro,
Unilever, Parmalat, Nestlé, Kraft,
Quaker e Danone apresentaram
aos supermercados uma lista de
reajustes entre 10% e 15%.
"Eu só trato disso o dia todo",
diz José Augusto Freta, diretor de
compras da rede Angeloni. "Na
prática, são as grandes multinacionais que puxam o reajuste e o
resto vai atrás", diz Antonio Lucas, gerente da rede Nordestão,
uma das maiores no Nordeste.
As lojas são contrárias ao aumento porque acreditam que são
abusivos e, em alguns casos, injustificáveis. Principalmente em
um momento de demanda reprimida, como o atual.
Donas de boa parte dos mercados em que atuam, essas companhias devem conseguir repassar
parte do aumento solicitado às lojas. Por uma razão: mesmo os supermercados de grande porte -e
com bom poder de barganha nas
mãos- não pretendem "encarar" as companhias, apurou a Folha.
Isso porque, caso tentem barrar
produtos com reajustes que considerem exagerados, as lojas terão
que operar com estoque antigo. O
problema é que, dependendo do
produto, já há supermercados
trabalhando com o estoque de janeiro.
Além disso, há a questão da
concentração. A Nestlé, por
exemplo, está prestes a receber o
aval do governo quanto à compra
da empresa Garoto. Com isso, irá
aumentar seu poder de negociação no setor de chocolates com o
varejo. Se a loja "endurecer" nas
negociações e ficar sem o chocolate da Nestlé, deve ficar sem o produto da Garoto também.
As companhias citadas acima
foram procuradas pela Folha. Porém, não comentaram a questão.
A Unilever, com 47% do mercado
de sabão em pó, informou que os
reajustes ocorrem por razões de
custos e é preciso assegurar a
"saúde financeira" do grupo.
Solução
Para achar saídas, há uma tentativa de as lojas comprarem grandes volumes para as próximas
campanhas promocionais. O intuito, com isso, é "fechar" pacotes
com descontos em cima dos reajustes sugeridos pelas indústrias.
Além disso, as conversas entre
lojas e indústrias focam em outra
questão. Houve uma recente queda no valor de alguns insumos,
usados na fabricação de alimentos. E as lojas querem que isso se
traduza em preços menores nas
prateleiras. Mas esse movimento
ainda é discreto.
Há redução no preço do óleo de
soja e da farinha de trigo nas lojas
do Pão de Açúcar, por exemplo.
Em 2002, o aumento ocorreu porque os insumos (trigo, soja) são
cotados em dólar no país.
Neste ano, a tonelada de trigo já
caiu de US$ 155 para US$ 146.
Com isso, há uma expectativa de
que as massas e os biscoitos sofram uma queda de preço também. Pelo menos é o que o varejo
quer negociar com a indústria.
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Concentração amplia o poder de companhias Índice
|