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OPINIÃO ECONÔMICA
A verdade sobre o FAT
LUIZ FERNANDO EMEDIATO
Está equivocada a discussão provocada pelo ministro
do Trabalho, Jaques Wagner, sobre a reformulação do uso dos recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), maior fundo
social do país, com patrimônio de
R$ 81,57 bilhões. O FAT não é
constituído por recursos do Tesouro -é um fundo- e não pode ser gerido só pelo Estado, mas
pelo conselho deliberativo tripartite e paritário, o Codefat, integrado por representantes do governo, dos empregadores e dos trabalhadores (centrais sindicais).
O FAT foi criado para pagar o
seguro-desemprego (R$ 5,27 bilhões neste ano) e o abono salarial
(R$ 1,19 bilhão). A Constituição
manda emprestar para o BNDES
40% da arrecadação (R$ 5 bilhões). O que sobra é investido em
políticas geradoras de emprego e
renda -empréstimos para micro
e pequenas empresas-, na manutenção do próprio Ministério
do Trabalho e em serviços de qualificação profissional e intermediação de mão-de-obra, entre outros, prestados pelo Estado sozinho ou em parceria com instituições privadas.
O orçamento para 2003 é de R$
17,98 bilhões, dos quais R$ 5 bilhões foram "congelados" pela
equipe econômica do governo anterior, a fim de ajudar na criação
de superávits fiscais para pagamento de juros da dívida pública
-decisão controvertida, que os
gestores do fundo, no entanto,
acataram. O Planfor e o Plansine
-ações das quais as centrais sindicais participam- terão neste
ano R$ 305 milhões, 1,7% do orçamento. As centrais são reembolsadas, por seus serviços, com menos de 0,5% do orçamento!
Os convênios são fiscalizados
e/ou auditados pelo Ministério do
Trabalho e Controladoria Geral
da União -CGU e TCU. Nos 13
anos de existência do FAT, foram
identificados desvios nos governos do Distrito Federal, em 1999,
Mato Grosso do Sul (gestão de Zeca do PT) e Espírito Santo (gestão
de José Ignácio). Não foram comprovados desvios em nenhuma
central sindical ou confederação
patronal.
O caso mais escabroso foi o do
Distrito Federal, que levou o governador Joaquim Roriz a demitir
seu então secretário do Trabalho,
Wigberto Tartuce, responsabilizado pelos auditores e intimado a
devolver o dinheiro desviado,
quase R$ 20 milhões, a maior parte -ainda segundo os auditores- em cumplicidade com nada
menos que a Fundação Teotônio
Vilela, presidida pelo senador alagoano Teotônio Vilela Filho, que
demitiu seu diretor-executivo.
Embora os desvios tenham sido
verificados nos convênios com
Estados, o foco das investigações
tem se concentrado nas parcerias
privadas: centrais sindicais (CUT,
Força Sindical, CGT e SDS) e
Fiesp, em conjunto com a Fundação Roberto Marinho. As auditorias tiveram relatórios parciais vazados por intermédio dos jornais,
durante campanhas eleitorais. As
instituições estão no momento
respondendo às dúvidas suscitadas pelos auditores.
Estudos de instituições especializadas, solicitados pelo Codefat,
recomendaram aperfeiçoamento
dos programas. Reportagem publicada pela Folha no mês passado afirma: "Governo decide cortar verba de centrais", por suspeita de "desvios". É um equívoco.
Quem corta os recursos não é o
governo, mas o Codefat, em que o
governo tem 4 dos 12 votos. E não
se pode cortar recursos por conta
de "suspeitas de desvios", mas
por desvios comprovados, como
aconteceu com os governos do
Distrito Federal, de Mato Grosso
do Sul e do Espírito Santo.
Outro equívoco é considerar
que a suspensão dos repasses poderia afetar "o caixa" das centrais
sindicais, da Fiesp ou da Fundação Roberto Marinho. O dinheiro
não entra no caixa das instituições: permanece numa conta-convênio do Banco do Brasil, de
onde só pode ser sacado para pagamento de despesas vinculadas à
prestação dos referidos serviços.
Embora o próprio secretário de
Políticas Públicas de Emprego do
Ministério do Trabalho, o sindicalista (da CUT) Remigio Todeschini, tenha afirmado (segundo a
Folha) que os programas do FAT
"serão reformulados e muito
mais controlados pelo governo",
ele mesmo não ignora que não caberá ao governo -mas aos grupos de trabalho tripartites que serão criados- reformular e propor melhores sistemas de controle.
Os programas do FAT serão reformulados e aperfeiçoados não
porque haveria "suspeita" de desvios, mas porque os próprios trabalhadores, empregadores e
membros do governo anterior
chegaram à conclusão de que isso
precisa ser feito. O trabalho de reformulação começou há mais de
um ano, com especialistas contratados debruçando-se sobre os
problemas, defeitos, virtudes, resultados e insuficiências de cada
ação. Os relatórios conclusivos,
com os resultados das auditorias,
é que possibilitarão ao Codefat
-e não ao governo, isoladamente- propor novos programas e
ações.
O modelo descentralizado é o
que mais resiste à perda de qualidade e à corrupção. Logo, é de supor que o Estado continuará e até
aumentará -em vez de diminuir- sua parceria com o sistema "S", as centrais sindicais, as
universidades, as fundações e as
organizações não-governamentais de qualidade. Se o Estado, falido, não tem competência plena
nem capacidade para prestar serviços, é natural que peça socorro.
Dinheiro para pagar o próprio
trabalhador -proprietário do
FAT- tem.
Luiz Fernando Emediato, 51, é escritor,
jornalista, editor, especialista em políticas públicas, consultor da Força Sindical
e membro do CNPS (Conselho Nacional
de Previdência Social) e do Codefat
(Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador). É conselheiro suplente do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social).
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