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LUÍS NASSIF
O empresário e o país
Recebo a seguinte carta de
Jorge Paulo Lemann, controlador da AmBev e, agora, sócio da
Interbrew:
"Como você uma vez disse que
não fazemos "esforço social", anexo um relatório de meu esforço
pessoal (relatório de atividades
da Fundação Lemann)".
"Quanto à transação AmBev/
Interbrew, fico triste com seus comentários. Não sou "piranha financeira" nem imediatista.
Quem comprou ações da Brahma
preferencial conosco em 1989 teve
um rendimento de 25% ao ano,
composto em dólares, versus 9,9%
para o Ibovespa e 7,4% para o índice Dow Jones."
"Agora, estamos bloqueando
nossas ações da nova empresa por
20 anos pelo menos, numa tentativa de realizar o sonho de construir a melhor cervejaria do mundo. E que na pior das hipóteses será 50% brasileira."
"Nesse mundo confuso, não
posso garantir resultados. Mas
garanto muito esforço para construir um negócio bonito, do qual
todos brasileiros poderão ter orgulho e de ótimos resultados financeiros para todos os investidores de longo prazo."
Minha posição sobre o tema já
foi expressa nas colunas anteriores e nada há a retificar, a não ser
certo exagero no uso do termo
"piraña financeira", utilizado pela primeira vez no Chile para
identificar jovens ambiciosos que
estudaram fora, tiveram acesso a
fundos e investidores norte-americanos e utilizaram esse conhecimento para participar de privatizações malcheirosas e golpes em
sócios e acionistas. Não é o caso
de Lemann e de seus sócios.
Lemann é o único player brasileiro no mercado financeiro internacional e não pode ser confundido com, por exemplo, Daniel
Dantas.
A questão é outra, é a falta de
visão nacional da geração de empresários que, como ele, passou a
dominar a liquidez do país na última década. O que os diferencia
da geração dos anos 50, dos Walther Moreira Salles, dos Feffer,
dos Klabin, dos Lafer, dos Amador Aguiar, dos Setubal é que a
geração anterior trabalhava de
forma muito mais sistêmica o
conceito de país.
Nem se diga que fossem mais
desprendidos. A questão era outra. No ambiente pré-internacionalização, esses empreendedores
viam o destino do país umbilicalmente ligado ao seu. Suas empresas cresceriam dependendo das
condições institucionais para o
florescimento de seus negócios.
Essa condição tornou-os quase
todos empresários com visão pública, que participaram intensamente da montagem de um aparato institucional moderno, com
todas as dificuldades que a política brasileira impõe.
A geração financeira atual foi
formada dentro da escola da arbitragem. O bom negócio é comprar barato e vender caro. Essa visão imediatista os tornou distantes da realidade brasileira, do interesse na reconstrução nacional.
No relatório do seu instituto,
Lemann reconhece que, "até alguns anos atrás, acreditava que,
cumprindo bem minha vocação
de empresário, estaria devolvendo ao país a oportunidade que ele
me proporcionou". Depois, viu
que podia dar mais e criou a fundação para ações tópicas, especialmente na área da educação.
Está devolvendo uma semente
ao solo que o ajudou. Mas não está plantando árvores como os empreendedores que o precederam.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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