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Lucro baixo barra autofinanciamento
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Para que o setor privado aumente a capacidade de investir
em produção, não bastaria que o
governo deixasse de ser seu rival
na busca por recursos no mercado financeiro. As empresas dependeriam ainda de taxas de rentabilidade maiores que as encontradas hoje no Brasil para também poderem se autofinanciar.
No número da carta do Iedi
(Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) divulgado ontem, o empresário Paulo
Cunha (presidente do grupo Ultra) argumenta que, mesmo em
economias com baixa volatilidade
e com mercado de capitais sofisticados, como os EUA, a principal
fonte de financiamento das empresas até o final dos anos 80 foram os recursos próprios.
Cunha assinala que, entre 1946 e
1989, na média, os lucros retidos
pelas empresas financiaram 79%
dos investimentos americanos
-o período é relevante porque a
estrutura financeira dos EUA era
até então muito mais semelhante
à brasileira do que hoje.
No período 1970-1985, Canadá,
França, Reino Unido e Alemanha
igualmente usaram os lucros retidos para aumentar sua produção:
na França, em média, 61% dos investimentos em expansão de capacidade tiveram essa origem e,
no Reino Unido, chegou a 100%.
Pelos cálculos do Iedi, nos anos
70, no Brasil, a parcela do autofinanciamento como meio de expandir a produção chegava a
75%. ""Até pelas circunstâncias as
empresas eram levadas a se autofinanciar: o mercado de capitais
era incipiente, ninguém conseguia, como fazem hoje as grandes
empresas, dinheiro no exterior.
Sobrava o BNDES e um pouco de
recursos dos bancos", diz Júlio
Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi.
No relatório, o empresário Paulo Cunha admite que o quadro
global de autofinanciamento sofreu alterações nas últimas duas
décadas, em razão de juros reais
próximos a zero, da sofisticação
do mercado de capitais e pela própria queda de rentabilidade das
companhias. Ou seja, esses fatores estimularam as empresas, inclusive no exterior, a usar mais recursos de terceiros.
""As recentes bolhas nas Bolsas
dos Estados Unidos e no Japão
podem forçar uma volta parcial
ao modelo antigo, que é mais
compatível com a estrutura financeira do Brasil", afirma Cunha.
Condições desfavoráveis
O problema é que, mesmo se
quisessem recorrer ao autofinanciamento, dadas as condições
atuais, as empresas brasileiras
não conseguiriam. Em 1973, segundo o Iedi, as 500 maiores empresas não-financeiras do Brasil
tiveram um lucro equivalente a
4,4% do PIB (Produto Interno
Bruto). Em 2002, o lucro das 500
maiores foi equivalente a apenas
0,37% do PIB. Para piorar, a rentabilidade patrimonial das empresas, que, em 1973, foi de 15%,
caiu para 3,1% entre 1995 e 2002.
""O modelo de autofinanciamento exige lucros elevados, que
inexistem no Brasil, em razão do
gigantesco peso dos juros, da carga tributária sobre o setor formal
e de sua estrutura, que privilegia
os impostos sobre bens e serviços", argumenta Cunha.
Revolução fiscal
O empresário afirma que o aumento da rentabilidade do setor
produtivo (e expansão no volume
de autofinanciamento das empresas) depende do que qualifica de
revolução fiscal: que passaria, justamente, pela redução dos juros,
mudança do perfil do gasto público e na estrutura tributária.
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