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FINANÇAS GLOBAIS
Fundo afirma que momento de alta liquidez é "cíclico" e alerta sobre o risco de alta dos juros nos EUA
Festa dos emergentes pode acabar, diz FMI
GIULIANO GUANDALINI
DA REDAÇÃO
O mercado financeiro mundial
passa por um momento de relativa tranqüilidade, sem crises à vista e com a retomada dos fluxos de
capitais. A principal ameaça latente chama-se EUA, cujos déficits fiscal e externo podem levar a
uma alta generalizada nas taxas
de juros em todo o planeta, o que
abalaria países como o Brasil.
A análise é do FMI (Fundo Monetário Internacional), que divulgou ontem o seu relatório semestral sobre desdobramentos e tendências dos mercados mundiais.
Além do desequilíbrio americano, o organismo cita a escalada
terrorista como fonte de preocupação para a estabilidade global.
Para o Fundo, no entanto, a
atual fase de abundância de crédito a baixo custo não passa de um
fenômeno "cíclico". Por isso, os
emergentes precisam se preparar
para enfrentar novos períodos de
instabilidade e turbulência.
Segundo o "Global Financial
Stability Report" (Relatório da Estabilidade Financeira Mundial),
os países emergentes têm se beneficiado de um excesso de liqüidez
nos mercados. Isso se explica em
parte pelos baixos juros americanos, mas também, diz o Fundo,
pela melhora na qualidade dos
credores públicos e privados dos
países em desenvolvimento.
Depois da moratória argentina
e da instabilidade brasileira, os
emergentes vivem um período de
trégua. Como nota o Fundo, o risco-país médio desses mercados
(ou seja, a sobretaxa que pagam
na comparação com os juros dos
Estados Unidos) está em um dos
mais baixos níveis da história.
Os emergentes pagam juros
maiores dos que os países desenvolvidos. Por isso, investidores internacionais aceitam níveis maiores de risco e recorrem a esses países para obter rendimentos mais
elevados. Mas, em épocas de crise,
como no período eleitoral brasileiro (2002), esse dinheiro some.
Exuberância americana
A taxa básica de juros dos EUA
está hoje em 1% ao ano. Existe,
entretanto, a expectativa de que o
Federal Reserve (banco central do
país) eleve a taxa ainda neste ano,
o que tornaria menos atraente os
investimentos de maior risco, como os títulos brasileiros.
O Fundo afirma que o processo
de ajuste do dólar deverá seguir
de maneira "gradual e ordenada",
beneficiado pela disposição dos
asiáticos para comprar títulos
americanos. Mas, se os EUA começarem a enfrentar dificuldades
para financiar seu déficit em conta corrente, os juros teriam que
subir, "elevando as taxas na Europa e nos emergentes".
"Esse acontecimento adverso
poderia reverter a melhora nos
balanços das instituições financeiras e poderia criar resistência à
recuperação econômica", afirma
o relatório do FMI.
A instituição alerta também para a ameaça terrorista. "É claro
que, se ocorrerem mais incidentes
como o de Madri, haveria um impacto na economia, a confiança
dos consumidores seria atingida",
disse em Londres Gerd Haeusler,
diretor de Mercado Internacional
de Capitais do FMI.
O FMI afirma que os emergentes deveriam aproveitar o momento favorável para reduzir a
vulnerabilidade de seu endividamento e também para avançar no
desenvolvimento de seus mercados de capitais. Um mercado de
títulos privados mais líquido e
mais sofisticado levaria a um
alongamento do crédito e a uma
redução nos juros, diz o relatório.
O quadro internacional de elevada liqüidez é um "fenômeno cíclico, e o apetite por risco é sujeito
a mudanças", afirma o Fundo. "É
fundamental que investidores e
autoridades entendam o papel
desses fatores" nos atuais baixos
"spreads" (sobretaxas pagas em
relação aos títulos dos Estados
Unidos, vulgo risco-país).
Brasil menos vulnerável
Quanto ao Brasil, o Fundo afirma que o país conseguiu melhorar o perfil de sua dívida interna,
tanto pela redução do endividamento em moeda estrangeira como pelo alongamento dos prazos
de vencimento dos títulos.
Como destaca o relatório, o percentual da dívida atrelada ao dólar caiu de 37% para 22% ao longo
do ano passado. Já a porcentagem
dos títulos de curto prazo (vencimento até 12 meses) foi reduzida
de 41% para 33%.
Num aspecto negativo, o Brasil
liderou a queda nos investimentos estrangeiros diretos na América Latina, com recuo de 43% em
relação a 2002. Para o Fundo, isso
reflete, entre outros motivos, o
fim do ciclo de privatizações.
O "Global Financial Stability Report"
está disponível no site
do FMI (www.imf.org)
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