São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2004

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FINANÇAS GLOBAIS

Fundo afirma que momento de alta liquidez é "cíclico" e alerta sobre o risco de alta dos juros nos EUA

Festa dos emergentes pode acabar, diz FMI

GIULIANO GUANDALINI
DA REDAÇÃO

O mercado financeiro mundial passa por um momento de relativa tranqüilidade, sem crises à vista e com a retomada dos fluxos de capitais. A principal ameaça latente chama-se EUA, cujos déficits fiscal e externo podem levar a uma alta generalizada nas taxas de juros em todo o planeta, o que abalaria países como o Brasil.
A análise é do FMI (Fundo Monetário Internacional), que divulgou ontem o seu relatório semestral sobre desdobramentos e tendências dos mercados mundiais. Além do desequilíbrio americano, o organismo cita a escalada terrorista como fonte de preocupação para a estabilidade global.
Para o Fundo, no entanto, a atual fase de abundância de crédito a baixo custo não passa de um fenômeno "cíclico". Por isso, os emergentes precisam se preparar para enfrentar novos períodos de instabilidade e turbulência.
Segundo o "Global Financial Stability Report" (Relatório da Estabilidade Financeira Mundial), os países emergentes têm se beneficiado de um excesso de liqüidez nos mercados. Isso se explica em parte pelos baixos juros americanos, mas também, diz o Fundo, pela melhora na qualidade dos credores públicos e privados dos países em desenvolvimento.
Depois da moratória argentina e da instabilidade brasileira, os emergentes vivem um período de trégua. Como nota o Fundo, o risco-país médio desses mercados (ou seja, a sobretaxa que pagam na comparação com os juros dos Estados Unidos) está em um dos mais baixos níveis da história.
Os emergentes pagam juros maiores dos que os países desenvolvidos. Por isso, investidores internacionais aceitam níveis maiores de risco e recorrem a esses países para obter rendimentos mais elevados. Mas, em épocas de crise, como no período eleitoral brasileiro (2002), esse dinheiro some.

Exuberância americana
A taxa básica de juros dos EUA está hoje em 1% ao ano. Existe, entretanto, a expectativa de que o Federal Reserve (banco central do país) eleve a taxa ainda neste ano, o que tornaria menos atraente os investimentos de maior risco, como os títulos brasileiros.
O Fundo afirma que o processo de ajuste do dólar deverá seguir de maneira "gradual e ordenada", beneficiado pela disposição dos asiáticos para comprar títulos americanos. Mas, se os EUA começarem a enfrentar dificuldades para financiar seu déficit em conta corrente, os juros teriam que subir, "elevando as taxas na Europa e nos emergentes".
"Esse acontecimento adverso poderia reverter a melhora nos balanços das instituições financeiras e poderia criar resistência à recuperação econômica", afirma o relatório do FMI.
A instituição alerta também para a ameaça terrorista. "É claro que, se ocorrerem mais incidentes como o de Madri, haveria um impacto na economia, a confiança dos consumidores seria atingida", disse em Londres Gerd Haeusler, diretor de Mercado Internacional de Capitais do FMI.
O FMI afirma que os emergentes deveriam aproveitar o momento favorável para reduzir a vulnerabilidade de seu endividamento e também para avançar no desenvolvimento de seus mercados de capitais. Um mercado de títulos privados mais líquido e mais sofisticado levaria a um alongamento do crédito e a uma redução nos juros, diz o relatório.
O quadro internacional de elevada liqüidez é um "fenômeno cíclico, e o apetite por risco é sujeito a mudanças", afirma o Fundo. "É fundamental que investidores e autoridades entendam o papel desses fatores" nos atuais baixos "spreads" (sobretaxas pagas em relação aos títulos dos Estados Unidos, vulgo risco-país).

Brasil menos vulnerável
Quanto ao Brasil, o Fundo afirma que o país conseguiu melhorar o perfil de sua dívida interna, tanto pela redução do endividamento em moeda estrangeira como pelo alongamento dos prazos de vencimento dos títulos.
Como destaca o relatório, o percentual da dívida atrelada ao dólar caiu de 37% para 22% ao longo do ano passado. Já a porcentagem dos títulos de curto prazo (vencimento até 12 meses) foi reduzida de 41% para 33%.
Num aspecto negativo, o Brasil liderou a queda nos investimentos estrangeiros diretos na América Latina, com recuo de 43% em relação a 2002. Para o Fundo, isso reflete, entre outros motivos, o fim do ciclo de privatizações.


O "Global Financial Stability Report" está disponível no site do FMI (www.imf.org)


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