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ANÁLISE
Pacote alivia, mas joga problema para ano que vem
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
As medidas de apoio à agropecuária anunciadas ontem
pelo governo vão dar um alívio
momentâneo aos produtores.
Mas só momentâneo. O governo faz uma rolagem das dívidas
assumidas pelos produtores
com financiamento e custeio
de safras com órgãos como
BNDES, FAT e fundos constitucionais, mas o grosso das dívidas -que é com cooperativas e multinacionais- fica em
aberto.
O próprio governo sabe que
essa é uma medida paliativa. O
setor está extremamente endividado e os motivos não foram
apenas a queda de preços, problemas climáticos internos e
câmbio, mas também decisões
erradas dos produtores.
Incentivados pelo cenário altamente favorável de preços e
de produção de soja nos anos
de 2003 e 2004, muitos produtores exageraram na compra
de máquinas e de terras. Após
uma carência de dois anos, a
conta das máquinas começa a
cair de junho a outubro.
Entre orçamento, rolagens e
alocações extras, o produtor
deverá ter até R$ 17 bilhões. O
próprio governo admite que o
rombo da agricultura é de R$
30 bilhões.
A decisão de postergar as
parcelas vencidas e a vencer em
2006 de investimentos é acertada, embora o volume seja inferior às necessidades do campo.
A rolagem do custeio de financiamento da safra também
servirá de alívio. O problema é
que essa prorrogação deve seguir o acordo de capacidade de
pagamento do produtor.
Esse acordo leva em consideração a média de produtividade das últimas cinco safras,
bem acima do volume que o
produtor vem conseguindo
neste ano. Com isso, a rolagem
pode ser menor do que efetivamente o produtor necessita.
A soma da produtividade
menor, dos preços em queda e
de um cenário de comercialização futura não muito promissor coloca em xeque a capacidade de pagamento dos produtores.
O governo está prorrogando
também as dívidas dos produtores que foram afetados pela
estiagem no ano passado.
Todas essas rolagens são para
12 meses após o vencimento, o
que vai ocorrer em 2007. Quem
estiver no governo no próximo
ano que se prepare, porque vão
vencer as pendências das safras
2004/5 e 2005/6. Além disso, o
produtor terá de fazer novas dívidas na busca de crédito da safra 2006/7.
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