São Paulo, sexta-feira, 07 de abril de 2006

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ANÁLISE

Pacote alivia, mas joga problema para ano que vem

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

As medidas de apoio à agropecuária anunciadas ontem pelo governo vão dar um alívio momentâneo aos produtores. Mas só momentâneo. O governo faz uma rolagem das dívidas assumidas pelos produtores com financiamento e custeio de safras com órgãos como BNDES, FAT e fundos constitucionais, mas o grosso das dívidas -que é com cooperativas e multinacionais- fica em aberto.
O próprio governo sabe que essa é uma medida paliativa. O setor está extremamente endividado e os motivos não foram apenas a queda de preços, problemas climáticos internos e câmbio, mas também decisões erradas dos produtores.
Incentivados pelo cenário altamente favorável de preços e de produção de soja nos anos de 2003 e 2004, muitos produtores exageraram na compra de máquinas e de terras. Após uma carência de dois anos, a conta das máquinas começa a cair de junho a outubro.
Entre orçamento, rolagens e alocações extras, o produtor deverá ter até R$ 17 bilhões. O próprio governo admite que o rombo da agricultura é de R$ 30 bilhões.
A decisão de postergar as parcelas vencidas e a vencer em 2006 de investimentos é acertada, embora o volume seja inferior às necessidades do campo.
A rolagem do custeio de financiamento da safra também servirá de alívio. O problema é que essa prorrogação deve seguir o acordo de capacidade de pagamento do produtor.
Esse acordo leva em consideração a média de produtividade das últimas cinco safras, bem acima do volume que o produtor vem conseguindo neste ano. Com isso, a rolagem pode ser menor do que efetivamente o produtor necessita.
A soma da produtividade menor, dos preços em queda e de um cenário de comercialização futura não muito promissor coloca em xeque a capacidade de pagamento dos produtores.
O governo está prorrogando também as dívidas dos produtores que foram afetados pela estiagem no ano passado.
Todas essas rolagens são para 12 meses após o vencimento, o que vai ocorrer em 2007. Quem estiver no governo no próximo ano que se prepare, porque vão vencer as pendências das safras 2004/5 e 2005/6. Além disso, o produtor terá de fazer novas dívidas na busca de crédito da safra 2006/7.


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