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Logística pior tira US$ 3,9 bi do agronegócio
Perda no transporte terrestre e atrasos na operação nos portos sugam 7,8% da renda da exportação no ano, diz estudo
Expansão do setor eleva em 60% custo de estada extra de navio à espera de vaga no porto; governo admite mas minimiza o problema
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil terá prejuízos de
US$ 3,88 bilhões com a precariedade do sistema de transporte que movimentará a safra
recorde de 2008. A perda tomará 7,8% da receita estimada para o setor agrícola brasileiro
neste ano, quando a renda das
exportações (excluídos produtos florestais e complexo carne)
deve atingir cerca de US$ 50 bilhões. Em 2004, o presidente
Lula já havia sido alertado para
o problema a partir de um estudo que acaba de ser atualizado,
ao qual a Folha teve acesso.
Há quatro anos, as perdas
com a ineficácia do sistema de
escoamento da safra sugaram
US$ 2,5 bilhões das exportações. O estudo é assinado pela
(Anda) Associação Nacional
para Difusão de Adubos, entidade que abriga empresas que
trazem para o país todos os
anos 70% dos fertilizantes usados na agricultura brasileira.
O cálculo fechado considera
os prejuízos com a perda de 3%
da safra de grãos na logística
terrestre (algo como 4,1 milhões de toneladas entre a fazenda e o porto) e o custo adicional para manter, além do
tempo contratado, os navios a
espera de um espaço para descarregar fertilizantes ou carregar produtos agrícolas, como
soja, milho, café, açúcar e até
frutas nos portos da costa brasileira. No primeiro caso, a perda atinge US$ 1,88 bilhão. No
segundo caso, a perda alcança a
cifra maior, US$ 2 bilhões.
Em 2004, a despesa com
tempo adicional de espera de
navios em portos era de US$ 1,2
bilhão. O bom desempenho do
agronegócio brasileiro só agravou o problema nos últimos
quatro anos, período em que o
custo com o chamado "demurrage" (nome técnico para a sobrestada dos navios em portos)
subiu mais de 60%. A quantidade de navios que rumam para o
Brasil cresceu, e o parco esforço para melhorar a situação
não minorou o prejuízo. Só em
Santos, o maior porto do país, o
número de navios atracados
passou de 4.995, em 2004, para
5.741, no ano passado, quase
15% a mais no período.
Mesmo decorridos quatro
anos, os navios alugados pelo
país continuam a permanecer,
em média, 20 dias a mais do
que o tempo contratado pelo
importador ou exportador para
concluir uma operação. O tempo médio de espera para a exportação de produtos agrícolas
(como soja milho e outros) é de
15 dias, para o setor de fertilizante chega a ser de médios 30
dias. Problemas somados, como falta de áreas para atracação, obsolescência dos equipamentos que carregam e descarregam cargas dos porões das
embarcações e até mesmo a dificuldade para os caminhões alcançarem as áreas portuárias
ampliam o tempo de estadia de
uma tripulação no país.
"Os US$ 2 bilhões que o agronegócio perde com a ineficiência portuária poderiam ser
muito melhor usados. Construiríamos, por exemplo, dez
terminais de granel e fertilizantes, como o TGG/Termag
construído em Santos pela
Bunge, ALL e Grupo Maggi. É
uma despesa que o país tem
que não precisava ter", critica
Mario Barbosa, presidente da
Anda e da Bunge Fertilizantes.
O preço dessa ineficiência
daria ao Brasil ao menos dois
portos com cerca de 16 berços
de atracação (algo como dois
portos de Paranaguá). A cifra
também seria suficiente para
executar 16 dragagens iguais a
que está prevista para de Santos, responsável pelo movimento de 25% do volume de
carga do país.
Segundo a Anda, entre bens
agrícolas exportados e fertilizantes importados, o Brasil terá de movimentar este ano 83,7
milhões de toneladas. Para
conseguir transportar tudo isso, a estimativa da entidade é
que sejam necessários 1.670
navios do tipo panamax (chamado assim por ser o maior capaz de cruzar o canal do Panamá). Seriam menos navios se
os portos brasileiros tivessem
condições de receber embarcações mais pesadas.
O panamax, cujo aluguel diário custa cerca de US$ 60 mil a
US$ 65 mil, tem capacidade para transportar 60 mil toneladas, mas opera no país com restrições, o que exige que as embarcações entrem e saiam dos
portos com volume máximo de
50 mil toneladas. Do contrário,
podem encalhar em razão da
falta de dragagem dos canais de
navegação dos portos.
Produtores
Para a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), o aumento dos custos portuários se
reflete na remuneração dos
produtores.
"É claro que a ineficiência
nos portos e no sistema de
transporte reduz os ganhos dos
produtores cá na fazenda", diz
Luiz Antonio Fayet, consultor
logístico da CNA.
Membro do Conselho de Autoridade Portuário de Paranaguá, Fayet afirma que a situação do porto paranaense é um exemplo do que ocorre no país.
Ele confirmou que o tempo de
espera dos navios tem tornado
a operação mais e mais cara. "A
fila saiu da estrada e está no
mar, não é tão fotogênica, mas
essa situação é muito significativa sobre o que está ocorrendo
no setor", diz.
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