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São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2003

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VAREJO

Dos clientes de renda até R$ 500, 38% usam crédito rotativo, o que esconderia real nível de insolvência do mercado

Uso do cartão pode camuflar inadimplência

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A atual corrida ao cartão de crédito, na avaliação de especialistas, "camufla" a real inadimplência do setor e já faz soar o alarme de cautela no varejo. O problema está no uso do crédito rotativo, que estaria "escondendo" o nível de insolvência do mercado.
Dados publicados pela Credicard mostram que 38% dos clientes com renda entre R$ 300 e R$ 500 utilizam o crédito rotativo. A taxa supera a média do mercado, entre 30% e 35%. Além disso, metade desses consumidores é novata: tem o cartão de crédito há, no máximo, três anos, segundo pesquisa de 2002, a mais atual.
Informações da empresa mostram ainda que o número de clientes que apela para esse sistema é proporcionalmente maior entre os possuidores do segmento de cartões nacionais (70%), que representam 63% do total de portadores de cartões da companhia.
Ou seja, quem deve mais são os que compram dentro do país.
"Não pára de subir o número de consumidores que usa o cartão e abandona a compra à vista. E, se o cliente não puder quitar o volume principal da dívida, ele vai parar no crédito rotativo", diz Marco Rocha, da rede Sendas.
Para Fabio Pina, economista da Fecomercio SP, esse sistema de rolagem tende a se transformar numa "bolha represada que pode se converter em maior inadimplência" a médio prazo.

Renda e consumo
Para ter uma idéia da disparada na preferência do cartão de crédito, uma entre cinco pessoas (21%) vai usar esse meio de pagamento para as compras no próximo Dia das Mães, informa a Fecomercio. A taxa média é menor. Em 2002, o cartão respondeu por 8,8% do consumo do comércio no país.
O problema é que esse aumento -em época de renda minguada- pode forçar o consumidor a cair no chamado "crédito rotativo". Esse sistema possibilita ao cliente pagar apenas uma parcela da fatura, 15% a 20%, e continuar usando o cartão sem restrições.
Entretanto terá de arcar com uma taxa recorde de juros (10% ao mês, em média).
"Ao pagar só uma parcela da dívida, os juros de financiamento elevam o débito total e o consumidor atinge seu limite de endividamento permitido pelo cartão. Aí então a coisa estoura", diz Pina.
Ouvidas pela Folha, as operadoras esclarecem que sua operação de financiamento é legal. E não há descontrole na insolvência.
Dados do Banco Central mostram que as operadoras de cartões liberaram para gastos, apenas para pessoas físicas, R$ 5,7 bilhões em fevereiro de 2003. Em fevereiro de 2002 foram R$ 3,5 bilhões. Esse é o número mais atualizado.
No entanto, a renda patina. Segundo o IBGE, há oito meses consecutivos o rendimento médio não tem variação positiva.
E, se ficar enforcado, o cliente terá de reduzir ainda mais o consumo, que já está baixo, para conseguir se livrar dos débitos. É com isso que as redes estão preocupadas: mais arrocho.
Não há dados, seja nas operadoras de cartão ou no Banco Central, sobre o volume de débitos que está sendo "jogado para a frente".
Nem os critérios para classificar um cliente como insolvente são os mesmos entre as empresas. Em comum há uma política permanente de renegociação de dívidas. Há bandeiras que têm aceitado até a migração de dívidas de outras empresas para o próprio cartão, em troca de menores juros.
Novos números mostram o nível de insolventes no país. O volume de cheques devolvidos em março foi o maior desde 1991.


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