|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VAREJO
Dos clientes de renda até R$ 500, 38% usam crédito rotativo, o que esconderia real nível de insolvência do mercado
Uso do cartão pode camuflar inadimplência
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A atual corrida ao cartão de crédito, na avaliação de especialistas,
"camufla" a real inadimplência
do setor e já faz soar o alarme de
cautela no varejo. O problema está no uso do crédito rotativo, que
estaria "escondendo" o nível de
insolvência do mercado.
Dados publicados pela Credicard mostram que 38% dos clientes com renda entre R$ 300 e R$
500 utilizam o crédito rotativo. A
taxa supera a média do mercado,
entre 30% e 35%. Além disso, metade desses consumidores é novata: tem o cartão de crédito há, no
máximo, três anos, segundo pesquisa de 2002, a mais atual.
Informações da empresa mostram ainda que o número de
clientes que apela para esse sistema é proporcionalmente maior
entre os possuidores do segmento
de cartões nacionais (70%), que
representam 63% do total de portadores de cartões da companhia.
Ou seja, quem deve mais são os
que compram dentro do país.
"Não pára de subir o número de
consumidores que usa o cartão e
abandona a compra à vista. E, se o
cliente não puder quitar o volume
principal da dívida, ele vai parar
no crédito rotativo", diz Marco
Rocha, da rede Sendas.
Para Fabio Pina, economista da
Fecomercio SP, esse sistema de
rolagem tende a se transformar
numa "bolha represada que pode
se converter em maior inadimplência" a médio prazo.
Renda e consumo
Para ter uma idéia da disparada
na preferência do cartão de crédito, uma entre cinco pessoas (21%)
vai usar esse meio de pagamento
para as compras no próximo Dia
das Mães, informa a Fecomercio.
A taxa média é menor. Em 2002, o
cartão respondeu por 8,8% do
consumo do comércio no país.
O problema é que esse aumento
-em época de renda minguada- pode forçar o consumidor a
cair no chamado "crédito rotativo". Esse sistema possibilita ao
cliente pagar apenas uma parcela
da fatura, 15% a 20%, e continuar
usando o cartão sem restrições.
Entretanto terá de arcar com
uma taxa recorde de juros (10%
ao mês, em média).
"Ao pagar só uma parcela da dívida, os juros de financiamento
elevam o débito total e o consumidor atinge seu limite de endividamento permitido pelo cartão. Aí
então a coisa estoura", diz Pina.
Ouvidas pela Folha, as operadoras esclarecem que sua operação
de financiamento é legal. E não há
descontrole na insolvência.
Dados do Banco Central mostram que as operadoras de cartões
liberaram para gastos, apenas para pessoas físicas, R$ 5,7 bilhões
em fevereiro de 2003. Em fevereiro de 2002 foram R$ 3,5 bilhões.
Esse é o número mais atualizado.
No entanto, a renda patina. Segundo o IBGE, há oito meses consecutivos o rendimento médio
não tem variação positiva.
E, se ficar enforcado, o cliente
terá de reduzir ainda mais o consumo, que já está baixo, para conseguir se livrar dos débitos. É com
isso que as redes estão preocupadas: mais arrocho.
Não há dados, seja nas operadoras de cartão ou no Banco Central,
sobre o volume de débitos que está sendo "jogado para a frente".
Nem os critérios para classificar
um cliente como insolvente são os
mesmos entre as empresas. Em
comum há uma política permanente de renegociação de dívidas.
Há bandeiras que têm aceitado
até a migração de dívidas de outras empresas para o próprio cartão, em troca de menores juros.
Novos números mostram o nível de insolventes no país. O volume de cheques devolvidos em
março foi o maior desde 1991.
Texto Anterior: Receita de operação de crédito cai Próximo Texto: 22% comprarão presente de até R$ 30 para mãe Índice
|