São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2004

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DIAS DE TENSÃO

Derrotas do governo no Senado e instabilidade mundial levam dólar ao patamar de R$ 3,00; risco-país sobe 7,9%

Bingos e cenário externo derrubam mercado

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Turbulências no cenário externo e duas derrotas do governo no Senado atingiram em cheio ontem os ativos brasileiros. O risco-país subiu 7,9%, a Bovespa caiu ao menor nível em quase seis meses e o dólar alcançou os R$ 3,00.
As principais Bolsas de Valores se desvalorizaram ao redor do mundo e o risco de países emergentes acompanhou a elevação do brasileiro. Dados da economia americana se somaram à fala do presidente do Fed (banco central dos EUA), Alan Greenspan, e esquentaram a discussão sobre quando e em que intensidade subirão os juros nos EUA.
Além disso, a alta do preço do petróleo e suas conseqüências para a economia mundial deixaram o mercado ainda mais tenso. Em Nova York, depois de quase atingir US$ 40, o barril caiu 0,51% e fechou o dia cotado a US$ 39,37, mantendo-se no maior patamar desde a Guerra do Golfo.
Analistas preocupam-se com a possibilidade de que a alta do petróleo no exterior dê margem a aumentos no preço da gasolina internamente, o que pressionaria os índices de inflação.
O mercado doméstico iniciou os negócios ontem com a sensação de que o governo demonstrou desarticulação ao permitir que a oposição instalasse uma comissão para discutir o salário mínimo e derrubasse a medida provisória que proibia a atividade de bingos.
Pela tarde, três dias depois de prometer uma elevação "moderada" dos juros nos EUA, Greenspan sugeriu o contrário ontem, ao afirmar que as empresas e os consumidores americanos estão em condições de suportar um aumento das taxas básicas do Fed.
A Bovespa caiu 4,17%. O risco-país subiu a 722 pontos, patamar mais elevado desde agosto de 2003. O dólar teve alta de 1,49%. A moeda americana bateu a barreira dos R$ 3,00 ao longo do dia e depois recuou para R$ 2,999, seu maior valor em oito meses e meio.
Na Bolsa de Nova York, o Dow Jones caiu 0,68%. A Nasdaq teve baixa de 1%. O mercado americano foi influenciado pela divulgação de dados sobre auxílio-desemprego, que ficaram abaixo do esperado e apontaram para um aquecimento da economia.
Entre as maiores perdas na Europa, ficaram as Bolsas de Frankfurt, com baixa de 2,8%, e a de Paris, com queda de 1,99%.
O risco de países emergentes tem subido desde que o mercado passou a ver sinais de que o Fed anteciparia o aumento dos juros.
Ontem o risco da Turquia teve alta de 11,9%. O russo subiu 8,5%, e o risco mexicano, 8,3%.
Juros maiores nos EUA tornam os títulos americanos -considerados de risco zero- mais atrativos que os papéis dos emergentes.
"O risco brasileiro já passou de um patamar exagerado. Nossa situação econômica é muito mais confortável hoje que há algum tempo", diz Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco.
A piora do mercado não afetou as projeções para os juros internos a curto prazo. Mas os contratos de vencimento mais longo subiram ontem na BM&F. No DI de janeiro, contrato mais negociado e que é atrelado aos juros, a taxa foi de 15,62% para 15,76%.
Hoje o mercado aguarda a divulgação dos dados sobre desemprego nos EUA e, no Brasil, o IPCA de abril.


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