São Paulo, sábado, 07 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FREADA

Produção volta a crescer em março, mas taxa é a mais baixa desde novembro de 2003; analistas vêem "paralisia"

IBGE aponta desaceleração da indústria

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Após dois meses consecutivos em queda, a produção da indústria cresceu 1,5% em março na comparação com fevereiro já descontados os efeitos sazonais, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Sobre março de 2004, também houve expansão, de 1,7%, mas essa foi a menor taxa registrada desde novembro de 2003 (1,5%).
Para Sílvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE, o resumo dos indicadores da Pesquisa Industrial Mensal mostra um quadro de "desaceleração" da produção, "com taxas [cada vez mais] declinantes". Ele cita especialmente os dados trimestrais e as comparações com 2004. Já especialistas dizem que há "quase uma estagnação" ou "paralisia" do nível de atividade do setor.
Nos três primeiros meses de 2005, houve crescimento de 3,9% na comparação com o mesmo trimestre de 2004, contra alta de 6,5% no primeiro trimestre de 2004. Descontadas as influências sazonais, a produção subiu 0,2% no primeiro trimestre deste ano, menos do que os 0,5% no último de 2004.
"Se não fossem alguns efeitos amenizadores, como as exportações e o crédito ainda farto, poderíamos estar já num cenário de quase retração da indústria, provocado pelos juros altos. Mas o que vemos é um quadro de desaceleração forte, de quase estagnação ou paralisia", diz Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Para Alex Agostini, da GRC Visão, o aperto monetário do Banco Central trouxe o risco de "jogar a indústria num novo período de estagnação", já sinalizado pela intensa desaceleração de março.
Já Estêvão Kopschitz, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), diz que os dados mostram "estabilidade" e vieram em linha com as previsões da instituição -1,7% ante fevereiro e 2,2% sobre março de 2004.
A alta de 1,5% ante fevereiro também deve ser vista como estabilidade, segundo ele, pois se seguiu de duas retrações. Tal expansão foi sustentada somente pelo crescimento de bens de capital (5,4%), que também vinham de dois meses em queda.
Dados da CNI (Confederação Nacional da Indústria), divulgados anteontem, também relevam a perda de fôlego da indústria: as vendas do setor caíram 1,54% de janeiro a março ante o quatro trimestre de 2004, já excluídos os efeitos sazonais.

Novo padrão
Segundo o IBGE, os resultados de 2005 relevam um padrão de crescimento diferente do registrado no ano passado. Sempre abaixo da média em 2004, a produção de bens não-duráveis (alimentos, remédios e vestuário) sobe num ritmo superior ao da indústria. No trimestre, cresceu 5,4%, especialmente por causa do aumento na fabricação de alguns alimentos, remédios e combustíveis.
Tal desempenho, dizem especialistas, é reflexo ainda da forte expansão da economia em 2004 (5,2%), que elevou o emprego e a massa de rendimentos.
Já os bens duráveis, os que tiveram os melhores resultados em 2004, mantêm a expansão, mas com menos força -13% no primeiro trimestre ante igual período de 2004. Boa parte do dinamismo desse setor vem das exportações, especialmente de celulares e veículos.
Por outro lado, os bens de capital, que lideraram a expansão em 2004, perderam ritmo. Sua produção subiu 2,5% no primeiro trimestre, ante 22,2% no mesmo período de 2004. A perda de fôlego se deve principalmente à menor fabricação de máquinas e equipamentos para o setor agrícola.
Para Gomes de Almeida, os juros mais altos levaram empresários a retardar investimentos. Reportagem da Folha de anteontem revelou que os pedidos de empréstimos da indústria ao BNDES caíram 12,4% de janeiro a março. O banco financia especialmente a compra de máquinas e equipamentos e projetos de ampliação de unidades produtivas.


Texto Anterior: FMI: "Argentinos não são súditos", diz Kirchner
Próximo Texto: Turbulência: Criação de empregos alivia temor nos EUA
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.