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FREADA
Produção volta a crescer em março, mas taxa é a mais baixa desde novembro de 2003; analistas vêem "paralisia"
IBGE aponta desaceleração da indústria
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Após dois meses consecutivos
em queda, a produção da indústria cresceu 1,5% em março na
comparação com fevereiro já descontados os efeitos sazonais, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Sobre março de 2004, também
houve expansão, de 1,7%, mas essa foi a menor taxa registrada desde novembro de 2003 (1,5%).
Para Sílvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE, o
resumo dos indicadores da Pesquisa Industrial Mensal mostra
um quadro de "desaceleração" da
produção, "com taxas [cada vez
mais] declinantes". Ele cita especialmente os dados trimestrais e
as comparações com 2004. Já especialistas dizem que há "quase
uma estagnação" ou "paralisia"
do nível de atividade do setor.
Nos três primeiros meses de
2005, houve crescimento de 3,9%
na comparação com o mesmo trimestre de 2004, contra alta de
6,5% no primeiro trimestre de
2004. Descontadas as influências
sazonais, a produção subiu 0,2%
no primeiro trimestre deste ano,
menos do que os 0,5% no último
de 2004.
"Se não fossem alguns efeitos
amenizadores, como as exportações e o crédito ainda farto, poderíamos estar já num cenário de
quase retração da indústria, provocado pelos juros altos. Mas o
que vemos é um quadro de desaceleração forte, de quase estagnação ou paralisia", diz Júlio Gomes
de Almeida, diretor-executivo do
Iedi (Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial).
Para Alex Agostini, da GRC Visão, o aperto monetário do Banco
Central trouxe o risco de "jogar a
indústria num novo período de
estagnação", já sinalizado pela intensa desaceleração de março.
Já Estêvão Kopschitz, do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), diz que os dados mostram "estabilidade" e vieram em
linha com as previsões da instituição -1,7% ante fevereiro e 2,2%
sobre março de 2004.
A alta de 1,5% ante fevereiro
também deve ser vista como estabilidade, segundo ele, pois se seguiu de duas retrações. Tal expansão foi sustentada somente pelo
crescimento de bens de capital
(5,4%), que também vinham de
dois meses em queda.
Dados da CNI (Confederação
Nacional da Indústria), divulgados anteontem, também relevam
a perda de fôlego da indústria: as
vendas do setor caíram 1,54% de
janeiro a março ante o quatro trimestre de 2004, já excluídos os
efeitos sazonais.
Novo padrão
Segundo o IBGE, os resultados
de 2005 relevam um padrão de
crescimento diferente do registrado no ano passado. Sempre abaixo da média em 2004, a produção
de bens não-duráveis (alimentos,
remédios e vestuário) sobe num
ritmo superior ao da indústria.
No trimestre, cresceu 5,4%, especialmente por causa do aumento
na fabricação de alguns alimentos, remédios e combustíveis.
Tal desempenho, dizem especialistas, é reflexo ainda da forte
expansão da economia em 2004
(5,2%), que elevou o emprego e a
massa de rendimentos.
Já os bens duráveis, os que tiveram os melhores resultados em
2004, mantêm a expansão, mas
com menos força -13% no primeiro trimestre ante igual período de 2004. Boa parte do dinamismo desse setor vem das exportações, especialmente de celulares e
veículos.
Por outro lado, os bens de capital, que lideraram a expansão em
2004, perderam ritmo. Sua produção subiu 2,5% no primeiro trimestre, ante 22,2% no mesmo período de 2004. A perda de fôlego
se deve principalmente à menor
fabricação de máquinas e equipamentos para o setor agrícola.
Para Gomes de Almeida, os juros mais altos levaram empresários a retardar investimentos. Reportagem da Folha de anteontem
revelou que os pedidos de empréstimos da indústria ao BNDES
caíram 12,4% de janeiro a março.
O banco financia especialmente a
compra de máquinas e equipamentos e projetos de ampliação
de unidades produtivas.
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