São Paulo, sábado, 07 de maio de 2005

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ENTREVISTA

Vice da Nyse, Noreen Culhane diz que Bolsa estuda criar nova marca para atrair companhias menores e mira emergentes

Bolsa de NY se volta para pequena empresa

MARCELO SAKATE
DA REDAÇÃO

A Bolsa de Nova York estuda criar uma segunda marca, voltada para pequenas e médias empresas. Para Noreen Culhane, vice-presidente-executiva da Nyse (como a Bolsa é conhecida em inglês), essas companhias, que crescem ao redor do mundo, são o seu verdadeiro "ganha-pão".
Nessa direção se insere o interesse por mercados emergentes, especialmente China, Índia e Brasil, que oferecem "crescentes oportunidades", e a fusão com a Bolsa eletrônica Archipelago, anunciada no fim de abril.
Para Culhane, responsável pela entrada de novas empresas na principal Bolsa do mundo, o crescente volume negociado de ações brasileiras na Nyse demonstra o interesse cada vez maior de investidores pelo país.
A seguir, trechos da entrevista à Folha, durante visita ao Brasil na semana passada, na qual ela se reuniu com empresas brasileiras já listadas e outras que estudam entrar na Bolsa nova-iorquina:
 

Folha - O que leva a Bolsa de Nova York a se interessar por uma empresa, que qualidades ela procura?
Noreen Culhane -
Nós temos padrões muito claros para listar uma empresa, em três categorias, às quais ela deve se adequar. Uma é a financeira, e temos ainda padrões de distribuição de ações e acionistas e os de governança.
Qualquer investidor entende que, ao investir numa empresa que esteja na Nyse, essa companhia atingiu os padrões da Bolsa, que são os mais elevados no mundo. Elas são empresas muito fortes. Esse é o tipo de companhia que procuramos, líderes de suas indústrias, mas também pequenas que tenham ótimos planos e resultados operacionais, administração forte e que mostrem boa governança. À medida que elas cresçam, organicamente e por meio de aquisições, nosso valor de mercado também subirá.

Folha - Empresas menores também interessam à Nyse?
Culhane -
Se você olhar todas as 2.774 companhias listadas na Nyse, a média do valor de mercado delas é de um US$ 1,5 bilhão. Estamos orgulhosos de negociar [ações da] GE [General Eletric], Nextel etc., mas nosso ganha-pão de verdade são as pequenas empresas, que estão crescendo.

Folha - E empresas brasileiras?
Culhane -
Nós temos acompanhado atentamente as companhias brasileiras listadas na Bovespa e na Nyse, bem como para aquelas que estão só na Bovespa, e procuramos olhar para o volume e o valor das negociações. Investidores estão particularmente interessados em companhias de mercados emergentes, que têm taxas de expansão maiores que as dos EUA. Há um grupo de investidores pronto e desejoso por investir, e isso é evidenciado pelo crescimento das companhias brasileiras e o aumento em volume e valores das ações negociadas.

Folha - A procura por empresas estrangeiras não se resume à Bolsa de NY, mas contempla a Nasdaq e Bolsas européias. Qual a importância desses planos de expansão?
Culhane -
Se olharmos nosso mercado local, todas as empresas negociadas, mais de 80% das companhias que atendem aos nossos padrões já estão listadas na nossa Bolsa. Então nossa oportunidade de crescimento é, em parte, fora dos EUA. Nós continuaremos a crescer dentro do país, mas, fundamentalmente, procuramos por mais que apenas fontes domésticas de expansão. Fora dos EUA, há crescentes oportunidades para nós, particularmente em mercados emergentes. Índia, Brasil e China conseguem cada vez mais e mais interessados no mercado de capitais para financiar o crescimento de companhias pequenas, mas também de todos os tamanhos. Então acreditamos que é uma grande oportunidade para nós no curto prazo e também no longo fora dos EUA. Se você olhar hoje o valor de mercado de quase US$ 20 trilhões da Bolsa de Nova York, cerca de US$ 13 trilhões são de empresas americanas, e US$ 7 trilhões, daquelas que são de fora dos EUA.

Folha - A Bolsa de NY acaba de anunciar planos de fusão com a Archipelago (terceira maior Bolsa eletrônica dos EUA). Em seguida, foi a vez de a Nasdaq anunciar a compra da Instinet. Em 2004, ofertas como essas envolveram Bolsas européias. É uma nova tendência?
Culhane -
Eu certamente vejo uma tendência de consolidação. E, talvez, a Euronext [holding resultante da fusão das Bolsas de Amsterdã, Bruxelas e Paris] seja o melhor exemplo de bem-sucedida consolidação, na Europa. Nos EUA, há muitos mercados e Bolsas e vemos que há consolidação entre elas. Nós queremos ser líderes nesse ponto e anunciamos a fusão com a Achipelago. E isso é importante para retornarmos à questão que acabamos de discutir, onde está a oportunidade de expansão para a Bolsa de Nova York. Certamente há expansão em Bolsas locais e no exterior, mas a Nyse basicamente negocia ações. E a Archipelago nos oferece a oportunidade de expandir as classes de ativos, eles negociam ações da Nasdaq, opções, têm negócios de ETF ("exchange traded funds", uma espécie de fundo), então a fusão nos oferece a chance de diversificar os ativos e crescer por meio dessa expansão.

Folha - Há outras vantagens?
Culhane -
Ela também nos dá a chance de criar uma segunda marca no que tange a listar empresas, nós falamos há pouco sobre pequenas empresas que não atendem aos padrões. Manter nossos padrões e o valor da marca da Nyse é muito importante para nós, porque diz claramente para o mundo que essas empresas alcançaram os mais elevados níveis, então não queremos diminuir isso de maneira alguma, nós queremos manter a pureza dessa marca, em termos de excelência de qualidade. E [com a fusão] há a chance de criar uma segunda marca, na qual teremos padrões de algum modo diferentes, reconhecendo que são companhias maravilhosas, ótimas, que não atendem aos padrões da Nyse, mas que irão claramente crescer com o tempo para se tornarem empresas excelentes que poderão participar de nosso mercado. Então a fusão nos oferece a oportunidade de construir uma segunda marca, para atrair empresas, domestica e internacionalmente, que podem, no momento, não atender aos padrões. Por essas duas razões, é uma ótima negociação, estamos muito animados.

Folha - No Brasil, a Bovespa elegeu como uma das prioridades atrair o pequeno investidor. O que deveria ser feito nesse sentido?
Culhane -
Penso que, em grande parte, as pessoas têm que se sentir confiantes e confortáveis de que elas estão investindo em empresas bem-administradas, que divulgam resultados em que podem confiar, que tenham boa governança, transparência. O valor de nossos mercados há dez anos era muito menor, e o número de lares que investiam em qualquer tipo de ações, doméstica ou internacionalmente, também. Mesmo em nosso país, esse aumento veio basicamente à medida que as pessoas puderam investir indiretamente por meio de fundos mútuos, planos de pensão -o envolvimento do pequeno investidor cresceu significativamente. Nós veremos esse fenômeno ao redor do mundo, à medida que essas formas de investimento se tornem disponíveis ao pequeno investidor. O Brasil é um país muito respeitado, cada vez mais as pessoas olham para o país, que tem construído um crescimento estável. Então penso que as pessoas ficarão mais confortáveis [para investir], fora e dentro do país.


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