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ENTREVISTA
Vice da Nyse, Noreen Culhane diz que Bolsa estuda criar nova marca para atrair companhias menores e mira emergentes
Bolsa de NY se volta para pequena empresa
MARCELO SAKATE
DA REDAÇÃO
A Bolsa de Nova York estuda
criar uma segunda marca, voltada
para pequenas e médias empresas. Para Noreen Culhane, vice-presidente-executiva da Nyse (como a Bolsa é conhecida em inglês), essas companhias, que crescem ao redor do mundo, são o seu
verdadeiro "ganha-pão".
Nessa direção se insere o interesse por mercados emergentes,
especialmente China, Índia e Brasil, que oferecem "crescentes
oportunidades", e a fusão com a
Bolsa eletrônica Archipelago,
anunciada no fim de abril.
Para Culhane, responsável pela
entrada de novas empresas na
principal Bolsa do mundo, o crescente volume negociado de ações
brasileiras na Nyse
demonstra o interesse cada vez
maior de investidores pelo país.
A seguir, trechos da entrevista à
Folha, durante visita ao Brasil na
semana passada, na qual ela se
reuniu com empresas brasileiras
já listadas e outras que estudam
entrar na Bolsa nova-iorquina:
Folha - O que leva a Bolsa de Nova
York a se interessar por uma empresa, que qualidades ela procura?
Noreen Culhane - Nós temos padrões muito claros para listar uma
empresa, em três categorias, às
quais ela deve se adequar. Uma é a
financeira, e temos ainda padrões
de distribuição de ações e acionistas e os de governança.
Qualquer investidor entende
que, ao investir numa empresa
que esteja na Nyse, essa companhia atingiu os padrões da Bolsa,
que são os mais elevados no mundo. Elas são empresas muito fortes. Esse é o tipo de companhia
que procuramos, líderes de suas
indústrias, mas também pequenas que tenham ótimos planos e
resultados operacionais, administração forte e que mostrem boa
governança. À medida que elas
cresçam, organicamente e por
meio de aquisições, nosso valor
de mercado também subirá.
Folha - Empresas menores também interessam à Nyse?
Culhane - Se você olhar todas as
2.774 companhias listadas na
Nyse, a média do valor de mercado delas é de um US$ 1,5 bilhão.
Estamos orgulhosos de negociar
[ações da] GE [General Eletric],
Nextel etc., mas nosso ganha-pão
de verdade são as pequenas empresas, que estão crescendo.
Folha - E empresas brasileiras?
Culhane - Nós temos acompanhado atentamente as companhias brasileiras listadas na Bovespa e na Nyse, bem como para
aquelas que estão só na Bovespa, e
procuramos olhar para o volume
e o valor das negociações. Investidores estão particularmente interessados em companhias de mercados emergentes, que têm taxas
de expansão maiores que as dos
EUA. Há um grupo de investidores pronto e desejoso por investir,
e isso é evidenciado pelo crescimento das companhias brasileiras e o aumento em volume e valores das ações negociadas.
Folha - A procura por empresas estrangeiras não se resume à Bolsa de
NY, mas contempla a Nasdaq e Bolsas européias. Qual a importância
desses planos de expansão?
Culhane - Se olharmos nosso
mercado local, todas as empresas
negociadas, mais de 80% das
companhias que atendem aos
nossos padrões já estão listadas na
nossa Bolsa. Então nossa oportunidade de crescimento é, em parte, fora dos EUA. Nós continuaremos a crescer dentro do país, mas,
fundamentalmente, procuramos
por mais que apenas fontes domésticas de expansão. Fora dos
EUA, há crescentes oportunidades para nós, particularmente em
mercados emergentes. Índia, Brasil e China conseguem cada vez
mais e mais interessados no mercado de capitais para financiar o
crescimento de companhias pequenas, mas também de todos os
tamanhos. Então acreditamos
que é uma grande oportunidade
para nós no curto prazo e também no longo fora dos EUA. Se
você olhar hoje o valor de mercado de quase US$ 20 trilhões da
Bolsa de Nova York, cerca de US$
13 trilhões são de empresas americanas, e US$ 7 trilhões, daquelas
que são de fora dos EUA.
Folha - A Bolsa de NY acaba de
anunciar planos de fusão com a Archipelago (terceira maior Bolsa
eletrônica dos EUA). Em seguida,
foi a vez de a Nasdaq anunciar a
compra da Instinet. Em 2004, ofertas como essas envolveram Bolsas
européias. É uma nova tendência?
Culhane - Eu certamente vejo
uma tendência de consolidação.
E, talvez, a Euronext [holding resultante da fusão das Bolsas de
Amsterdã, Bruxelas e Paris] seja o
melhor exemplo de bem-sucedida consolidação, na Europa. Nos
EUA, há muitos mercados e Bolsas e vemos que há consolidação
entre elas. Nós queremos ser líderes nesse ponto e anunciamos a
fusão com a Achipelago. E isso é
importante para retornarmos à
questão que acabamos de discutir, onde está a oportunidade de
expansão para a Bolsa de Nova
York. Certamente há expansão
em Bolsas locais e no exterior,
mas a Nyse basicamente negocia
ações. E a Archipelago nos oferece
a oportunidade de expandir as
classes de ativos, eles negociam
ações da Nasdaq, opções, têm negócios de ETF ("exchange traded
funds", uma espécie de fundo),
então a fusão nos oferece a chance
de diversificar os ativos e crescer
por meio dessa expansão.
Folha - Há outras vantagens?
Culhane - Ela também nos dá a
chance de criar uma segunda
marca no que tange a listar empresas, nós falamos há pouco sobre pequenas empresas que não
atendem aos padrões. Manter
nossos padrões e o valor da marca
da Nyse é muito importante para
nós, porque diz claramente para o
mundo que essas empresas alcançaram os mais elevados níveis, então não queremos diminuir isso
de maneira alguma, nós queremos manter a pureza dessa marca, em termos de excelência de
qualidade. E [com a fusão] há a
chance de criar uma segunda
marca, na qual teremos padrões
de algum modo diferentes, reconhecendo que são companhias
maravilhosas, ótimas, que não
atendem aos padrões da Nyse,
mas que irão claramente crescer
com o tempo para se tornarem
empresas excelentes que poderão
participar de nosso mercado. Então a fusão nos oferece a oportunidade de construir uma segunda
marca, para atrair empresas, domestica e internacionalmente,
que podem, no momento, não
atender aos padrões. Por essas
duas razões, é uma ótima negociação, estamos muito animados.
Folha - No Brasil, a Bovespa elegeu como uma das prioridades
atrair o pequeno investidor. O que
deveria ser feito nesse sentido?
Culhane - Penso que, em grande
parte, as pessoas têm que se sentir
confiantes e confortáveis de que
elas estão investindo em empresas bem-administradas, que divulgam resultados em que podem
confiar, que tenham boa governança, transparência. O valor de
nossos mercados há dez anos era
muito menor, e o número de lares
que investiam em qualquer tipo
de ações, doméstica ou internacionalmente, também. Mesmo
em nosso país, esse aumento veio
basicamente à medida que as pessoas puderam investir indiretamente por meio de fundos mútuos, planos de pensão -o envolvimento do pequeno investidor
cresceu significativamente. Nós
veremos esse fenômeno ao redor
do mundo, à medida que essas
formas de investimento se tornem disponíveis ao pequeno investidor. O Brasil é um país muito
respeitado, cada vez mais as pessoas olham para o país, que tem
construído um crescimento estável. Então penso que as pessoas ficarão mais confortáveis [para investir], fora e dentro do país.
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