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ENTREVISTA
Ministro da Fazenda diz que última ata do Copom não o preocupa e que está mas interessado nos dados da inflação
Mantega condiciona paz com BC a juro menor
SÉRGIO MALBERGIER
GUILHERME BARROS
ENVIADOS ESPECIAIS A BRASÍLIA
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Guido Mantega (Fazenda) condiciona o bom relacionamento com o Banco Central à
manutenção da trajetória dos juros. "Enquanto o BC baixar os juros, estaremos sintonizados, perfeitamente sintonizados", disse
Mantega em entrevista à Folha.
Por isso, ele prefere não dar
muita atenção à sinalização dada
na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, de que
as reduções poderão ser menores
daqui para a frente. "A mim interessa mais ver o que está acontecendo com a inflação."
Sobre as críticas que ainda persistem à política monetária, Mantega brinca: "É melhor que eles
[empresários] dêem pau nele
[BC] do que em mim". Para o ministro, o ritmo atual de corte da
taxa está compatível com a inflação de 4,5% prevista para o ano.
Bem-humorado e se dizendo
"zen", o ministro tem apenas uma
grande preocupação: o nível da
taxa de câmbio. Nessa área, afirma compartilhar da preocupação
dos empresários e diz que o governo estuda alternativas para resolver essa questão. Ainda assim,
acredita que o câmbio tem "costas
largas" e está sendo apontado por
culpas que não tem. É o caso, por
exemplo, das demissões anunciadas pela Volkswagen.
Para ele, o BC e o Tesouro devem continuar intervindo, comprando dólares como forma de
evitar a valorização ainda maior
do real em relação ao dólar. Apesar de isso ter um custo alto para o
país, ele diz que é necessário.
A seguir, os principais trechos
da entrevista do ministro, há um
mês no cargo.
Folha - O Brasil sairá de um ajuste
fiscal de 4,8% do PIB, em 2005, para previstos 4,25% em 2006. Qual o
impacto disso na redução dos juros
em 2007, por causa do impacto do
aumento de gastos na inflação?
Guido Mantega - Estamos comparando este ano com o ano passado, que foi o ano em que tivemos o maior superávit primário.
Entre outras coisas, porque teve
aumento de receita inesperado
com o pagamento de Imposto de
Renda das empresas. Olhando
para os anos anteriores, o superávit foi menor. O adequado é comparar 2006 com 2002, porque nos
anos eleitorais há um comportamento diferente da execução orçamentária e do superávit.
Folha - E esse novo patamar de
superávit não limitará a redução
dos juros, por causa dos gastos adicionais?
Mantega - Não vai porque não é
excesso de gasto. É gasto normal,
que foi programado pelo governo
e acertado com o Congresso. É o
gasto justo que vai contribuir para
que a economia cresça de 4% a
4,5%. De forma nenhuma é inflacionário. O gasto já não está acontecendo? E cadê a inflação que ele
está causando? Nunca vi dados
tão positivos para inflação como
neste momento. Os índices do
atacado apontam deflação.
Folha - Mas isso não ocorre por
que o BC está sendo conservador
na redução dos juros?
Mantega - Não. A trajetória dos
juros está na direção correta. Estamos baixando os juros, e isso está permitindo a expansão do consumo e dos investimentos. O BC
tem de olhar para inflação.
Folha - O superávit primário pode
ser maior do que os 4,25% do PIB?
Mantega - Pode haver alguma
surpresa em relação à receita. Isso
nunca se sabe. O que se pode afirmar é que não será menor do que
os 4,25% do PIB. Para isso, há
uma programação. O Orçamento
veio do Congresso, e vamos fazer
um contingenciamento na semana que vem. Daremos espaço orçamentário para cada ministério,
e esse espaço permitirá fazer uma
economia de R$ 53 bilhões, que é
o superávit só do governo federal.
Folha - Nas discussões sobre gastos, o sr. está alinhado com a ministra Dilma Rousseff [Casa Civil], diferentemente do seu antecessor?
Mantega - Vou revelar de quem
sou aliado: do presidente Lula. Estou sempre alinhado com ele nas
várias questões. Agora, existe
uma sintonia perfeita dentro do
governo porque os três membros
da junta orçamentária, o Paulo
Bernardo [ministro do Planejamento], a Dilma e eu, pensamos
da mesma maneira. Todos acham
que 4,25% são suficientes para dar
sustentabilidade para a dívida, o
objetivo que temos a médio e longo prazo. Hoje pode-se dizer que
há perfeita harmonia.
Folha - E o Banco Central, ele é o
ponto fora da curva?
Mantega - O Banco Central não
participa da junta de execução orçamentária. Em matéria fiscal, o
Banco Central não opina.
Folha - Mas dentro da equipe econômica há essa sintonia também?
Mantega - Há sintonia. Enquanto o BC baixar os juros, estaremos
sintonizados, perfeitamente sintonizados. E é isso que ele está fazendo. Cada um faz o seu papel. O
papel do BC é cuidar da inflação e
dar garantia à sociedade de que
não vai haver surto inflacionário.
Significa que eles [BC] estão
achando que a inflação está sob
controle, que chegamos a um patamar adequado de inflação e,
portanto, existem condições para
que os juros continuem caindo.
Folha - O que o sr. achou da ata do
Copom, que não foi tão firme sobre
a continuidade da queda dos juros?
Mantega - A ata do Copom permite várias leituras. Há quem veja
fantasmas e há quem ache que ela
foi conservadora. Pelo que vi nos
jornais, a maioria achou que ela
foi conservadora. Digo que não
me preocupei com a ata porque, a
mim, interessa mais ver o que está
acontecendo com a inflação. Como eles não podem perseguir
uma meta mais baixa do que os
4,5%, que é o centro da meta...
Folha - Mas as expectativas para
este ano estão abaixo do centro da
meta...
Mantega - Estamos em maio.
Ainda temos sete meses pela frente. Ele [BC] tem de chegar no final
do ano no centro da meta. A economia está começando a crescer,
então, não me preocupo.
Folha - Como está seu relacionamento com o Henrique Meirelles
[presidente do BC] no dia-a-dia?
Mantega - É bom. Falei ontem
[quarta-feira] com ele por telefone. O fato de o Banco Central estar
baixando os juros há vários meses
consecutivos é motivo de contentamento, de satisfação.
Folha - O BC vem baixando os juros há algum tempo e nem por isso
o que se vê é contentamento. Há
muitas críticas e reclamações dos
empresários e o sr. mesmo, antes
de vir para cá, o criticou...
Mantega - É melhor que eles
[empresários] dêem pau nele
[BC] do que em mim. Então deixe
que ele leve pau. O importante é
que ele está baixando [os juros].
No ano passado, disse que havia
excesso de zelo do BC. Aí depois
eles começaram a baixar.
Folha - Não há mais excesso de
zelo do Banco Central?
Mantega - Está baixando [o juro], caminhando na direção certa.
Folha - O ritmo de redução dos juros não lhe incomoda atualmente?
Mantega - Não me incomoda.
Incomodaria se ele [o BC] parasse
[com as reduções].
Folha - E se a parcimônia que o BC
destacou na última ata do Copom
for colocada em prática?
Mantega - Não vamos nos precipitar. Confio na sensibilidade do
Banco Central para ver o que está
acontecendo com a inflação.
Folha - O nível atual [de redução
dos juros] está compatível com o
que se quer para a inflação?
Mantega - Está compatível. Se
continuar caindo, está compatível.
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